(1)        Não foram encontrados os pergaminhos com os fac-símiles de Livro de Abraão e diferem sua tradução do egípcio com a tradução de Joseph?

(2)        Joseph Smith traduziu realmente os hieróglifos numerados dos fac-símiles?

 

            Resposta:

 

(1)        De fato, pergaminhos com os fac-símiles 1 e 3 do livro de Abraão foram encontradas em 1967 e se encontram de posse da Igreja hoje, sua tradução refere-se ao "Livro das Respirações" dos egípcios, no entanto duas hipóteses podem ser dadas para explicar tal discrepância: (Nota: Uma análise completa do "Livro das Respirações" dos egípcios pode ser encontrada no trabalho do Dr. Hugh Nibley, "The Joseph Smith Papiry; An Egipcian Endowment”, onde é feita uma analogia entre o "endowment" egípcio  e o atual !)

1a.        Apesar destes pergaminhos fazerem parte do grupo original que estava nas mãos de Joseph, o que este utilizou para traduzir o Livro de Abraão era diferente do que agora possuímos, e Joseph simplesmente apanhou emprestados os fac-símiles destes outros.

            Esta hipótese é bem plausível, pois o profeta descreveu o pergaminho como estando em perfeito estado e com letras pretas e vermelhas. O pergaminho encontrado estava em péssimo estado de conservação e não possuía letras vermelhas, os pedaços que restaram compreendem também somente 13% do conteúdo original que esteve nas mãos do profeta. Além do mais os egípcios faziam deliberadamente uso de fac-símiles (gravuras) em seus textos, uma mesma gravura pode ser encontrada em vários pergaminhos sendo que o texto sequer faz menção a alguma linha desta, é como se um aluno fizesse um trabalho de História do Brasil e colocasse uma foto de cangurus no deserto australiano, só porque ele já viu a mesma foto em vários trabalhos e a achou bonita o suficiente para enfeitar o seu.

 

2a.        A tradução de Joseph não traduziu literalmente o que estava no pergaminho, mas sim o que deveria estar e foi outrora perdido pelas interpolações e omissões dos escribas e copistas de pergaminhos.

            De fato, Joseph fez isso várias vezes quando na tradução de sua Versão Inspirada, ele abria sua Bíblia "versão do Rei Tiago" em determinado capítulo e ouvia os sussurros do Espírito Santo dizendo-lhe o que lá original e verdadeiramente se encontrava.

 

(2)        Quanto à questão sobre as traduções numeradas dos hieróglifos dos fac-símiles, um fato digno de nota é que em 1912, o bispo episcopal A. F. Spalding da região de Utah reuniu oito grandes egiptólogos da época e submeteu os fac-símiles do Livro de Abraão tal como se encontram hoje no Livro de Pérola de Grande Valor, junto com a tradução dos hieróglifos numerados feitas por Joseph Smith.

            A priori ele saiu satisfeito quando a tradução destes egiptólogos saía diferente daquela feita pelo profeta. O caso rendeu uma boa polêmica e como na época não havia ninguém na Igreja versado em egiptologia o suficiente para fazer a defesa, parecia que a balança da verdade estava pendendo para os adversários de Joseph, contudo, um não mórmon e não residente de Utah mas um profundo erudito em egiptologia levantou-se em favor do profeta. Ele soube da polêmica pelos jornais e resolveu de per si investigar o assunto mais a fundo, sem nunca ter recebido um convite da Igreja para  o fazer.

            Tais diferenças e dificuldades devem-se ao fato do egípcio ser uma linguagem pictográfica, isto é, um mesmo símbolo pode ter vários significados, a figura de um sol pode significar "sol", "dia", "calor", "glória", etc.

            Por exemplo, no fac-símile III, alguns egiptólogos apontam a tradução do No. 2 como sendo o nome da Deusa Ísis, acontece que esta mesma deusa é usada para designar a Faraó em alguns outros pergaminhos, como o traduzido por Smith!

Fac-Símile III do Livro de Abraão

           

            No fac-símile I, a tradução de Joseph para o No. 9, o crocodilo, refere-se ao Deus de Faraó, acontece que surpreendentemente a representação do Deus-Sobek (o "Deus-Crocodilo" dos egípcios) é vista como uma das manifestações de Hórus, o deus mais identificado com a realeza egípcia durante o Médio Egito (cerca de 2040-1640 A.C.), o que inclui o período de tempo em que a tradição indica ter vivido Abraão. O último rei da 12a. Dinastia (em que pode ter vivido Abraão) chamava a si mesmo Nefru-Sobek (“Belo é Sobek”) e cinco faraós da próxima dinastia, a 13a., tomam o nome de Sebek-hotpc (“Sobek está contente”).

Fac-Símile I do Livro de Abraão

 

            Uma possível e breve referência a esta tradição pode ser encontrada na passagem do profeta Ezequiel 29:2-3:

"Filho do Homem, volve o teu rosto contra Faraó, rei do Egito, e profetiza contra ele e contra todo o Egito.Fala e dize: Assim diz o SENHOR Deus: Eis-me contra ti, ó Faraó, rei do Egito, crocodilo enorme, que te deitas no meio dos seus rios, e que dizes: O rio é meu, eu o fiz para mim mesmo."

 

            Ainda sobre o fac-símile 1, a figura 11 é designada como representar os "pilares do céu, tal como entendiam os Egípcios". De fato, a frase "pilares do céu" ocorre na literatura egípcia. As linhas inclinadas abaixo do divã-leão são identificadas como "o firmamento sobre nossas cabeças (fig.12), o que deveria parecer um pouco estranho para qualquer leitor moderno. Isto apenas faz sentido quando percebemos, a luz de recentes descobertas, que as linhas representam as ondas das águas onde o crocodilo está nadando, e era exatamente desta forma que os antigos egípcios concebiam do céu, como um "Oceano Celeste"!

            Quanto ao relato contido no "Livro de Abraão", é interessante notar que Joseph era um jovem fazendeiro com apenas três anos de instrução (menos do que o 3o. primário de hoje!) e com impressionante acuidade descreve trechos antigos inteiros, além do que, recentes descobertas de livros antigos como os da biblioteca de Quram, Ebla e Nag-Hamadi revelam impressionantes paralelos com os livros traduzidos por Joseph Smith, como por exemplo:

           

(a)        O Livro de Abraão fala da idolatria de seu pai Terá, como Abraão pregou contra os sacrifícios humanos aos deuses de Faraó e como o anjo do Senhor o salvou de um atentado contra sua vida. Embora todas estas passagens não se encontrem na Bíblia (exceto por uma breve referência em Josué 24:2), elas são temas comuns de muitas antigas histórias de Judeus e Cristãos. Veja por exemplo:

O Livro dos Jubileus 11:4; 7-8; 16-17

O Livro de Jasar 9:6-19; 11:15-61

Apocalipse de Abraão 1-8; e uma referência recentemente encontrada num papiro do 3o. século D.C., associa o nome de Abraão a uma cena de um divã-leão como o do fac-símile No.1. Todos estes livros não estavam à disposição de Joseph Smith em 1836!

 

(b)        O Livro de Abraão menciona um lugar chamado "a planície de Olishem (1:10)", o qual aparentemente fazia parte da Caldéia. Nenhum lugar parecido é mencionado na Bíblia, mas o nome aparece numa inscrição do legislador acadiano Naram Sin, datando aproximadamente do ano 2250 AC. Remarcavelmente refere-se a um lugar localizado a noroeste da Síria.

 

 (c)       Textos antigos indicam que os deuses idólatras de Elkenah, Libnah, Mahmackrah e Korash (Abraão 1:6,13,17; fac-símile 1, fig. 5-8), foram verdadeiramente adorados no mundo antigo, a despeito do fato de que a Bíblia não faz nenhuma menção deles!

 

(d)        No Livro de Abraão, este é aconselhado pelo Senhor a quando entrar no Egito dizer que Sarai é sua irmã e não sua esposa (2:22-25). Apesar da Bíblia registrar tal fato (Gên.12:11-20), ela fica em silêncio quanto ao "conselho divino" que autorizou tal procedimento. Não obstante, no Gênesis "Apócrifo", encontrado entre os pergaminhos do Mar Morto, concorda que o comportamento do patriarca naquela ocasião foi divinamente ordenado.

 

(e)        No capítulo 3 de Abraão encontramos o patriarca ensinando princípios de astronomia e no fac-símile 3 discorrendo sobre estes na corte de Faraó, onde é recebido com grande honra. É interessante notar que nada no relato do Gênesis sobre a vida de Abraão sugere que ele tivesse qualquer interesse ou conhecimentos astronômicos, embora muitos textos pós-bíblicos apresentem uma imagem como nos é contada no livro de Abraão.

            O historiador judeu do 1o. Século, Flávio Josephus descreve Abraão como um homem justo, nobre e hábil na ciência dos céus, e também nos fala deste ensinando astronomia no Egito (Antiguidade dos Judeus 1.7.8; e 1.8.1-2 respectivamente). O grande historiador cristão, Eusébio de Cesaréia, que viveu nos fins do século III e começo do IV, preserva um antigo relato de Abraão indo para o Egito e lá ensinando astronomia tanto para os sacerdotes de Heliópolis como para o próprio rei do Egito (Praeparatio Evangelica 9.17.8; 9.18.1-2). No livro de Jasar (Jasar 15:22) mostra Abraão sendo convidado ao palácio do rei do Egito e tratado com grande honra.

 

(f)        No Apocalipse de Abraão, ao profeta é mostrado "a plenitude de todo o mundo e seu círculo" em uma figura de 2 lados. Esta descrição pode-se muito bem ser aplicada ao fac-símile 2 ( chamado "hypocephalus" pelos egiptologistas; do grego "debaixo da cabeça", referente a pergaminhos colocados sob as cabeças das múmias), o qual sabemos nos ensinar a respeito da investidura templária, que é uma representação da jornada eterna do Homem até atingir o seu ciclo de retorno à presença de Deus.

FAC-SÍMILE II - Conforme apareceu pela primeira vez no “Times and Seasons” em 1842

 

(g)        Apocalipse de Abraão também descreve uma visão do profeta enquanto fazia um sacrifício a Deus onde lhe  é mostrado o plano do universo “o que existe nos céus, na terra , no mar e no abismo”. Isto é quase uma tradução exata das palavras egípcias na parte central esquerda do fac-símile 2 (figuras 9 e 10).

 

(h)        Figura 1 do fac-símile 2 foi traduzida por Joseph como sendo “Kolob, significando a primeira criação, mais próxima do reino celestial ou a morada de Deus”. Para os antigos egípcios isto era um símbolo de Deus, sentado no centro do Universo investido com a primeira força criativa. O nome Kolob aplica-se bem neste contexto. A palavra que mais se assemelha deriva de uma raiz Semítica comum QLB, a qual tem o significado básico de “coração, centro, meio.” Na verdade a forma arábica para esta palavra, qalb, forma parte dos nomes árabes de muitas  das mais brilhantes estrelas no céu, incluindo Antares, Regulus e Canopus.

           

(i)         Também na Figura 1 do fac-símile 2, Joseph afirma que a Terra é chamada Jah-oh-eh pelos egípcios. A palavra egípcia para a Terra é H.T, que é aproximadamente  pronunciada “yoh-heh”.

 

(j)         Figura 3 do fac-símile 2, Joseph disse representar Deus, sentado em seu trono revestido de poder e autoridade com uma coroa de luz eterna na sua  cabeça. O cetro que a figura segura em sua mão representava para os egípcios o poder e autoridade de um deus ou rei. O objeto circular em cima da cabeça da figura é o Sol, que certamente se qualifica como uma coroa de luz eterna. Os dois grandes olhos localizados de cada lado da figura que está sentada são conhecidos pelos egípcios como os olhos-do-saber e, entre outras coisas, representavam a divina sabedoria ou inteligência pela qual Deus supervisiona e cuida de todas as suas criações. É razoável ver isto como "as palavras-chaves do sacerdócio” conforme descrito pelo profeta. ("A glória de Deus é inteligência", D&C 93:36).

 

(k)        Figura 4 do fac-símile 2, Joseph explica que esta figura representa a expansão dos céus, as revoluções de Kolob e Obilish, e que isto também significa o número  1000. Este é o Deus-Falcão, Hórus-Sokar. Hórus era uma personificação do céu, e Sokar estava associado com a revolução do Sol e outros corpos celestes. Finalmente, o barco aqui mostrado é descrito em textos egípcios como o “barco de um milhar”. Joseph acertou em cheio!

 

(l)         Textos antigos apoiam a explanação de Joseph sobre as quatro figuras da figura 6, fac-símile 2, a qual simbolizam os filhos de Hórus,  que entre outras denominações, também eram deuses dos quatro cantos da terra, e eram também lembrados como presidindo sobre os quatro pontos cardeais!

 

            Novamente a balança da verdade volta a pender para o lado do profeta Joseph, e com as recentes descobertas de livros antigos está cada vez mais sendo difícil para os inimigos do profeta explicarem as surpreendentes concordâncias entre os seus ensinamentos, que na época eram considerados "originalmente heréticos", mas que agora se sabe ter sido crença comum entre vários cristãos e judeus antigos.

            Em um trabalho recente feito pelo Dr. John A. Tvedtness da FARMS, ele encontrou mais de 300 referências citadas no livro de Abraão e que não se encontram no relato do Gênesis, mas são corroboradas por outras obras judaicas, aramaicas, mandeas (relativas aos Mandeus), cristãs apócrifas, falashas (relativas aos judeus etíopes) e muçulmanas da antiguidade.

            A pesquisa foi levantada com base em mais de 70 obras, sendo que destas, apenas uma, “Antiguidade dos Judeus” escrita por Flavius Josephus no 1 A.D., existia na época de Joseph Smith traduzida para o Inglês. É improvável que Joseph teve acesso a esta obra no início de seu ministério quando publicou o Livro de Abraão, todavia, sabemos seguramente que ele o teve mais tarde. Mesmo assim, o único elemento em Josephus que encontramos apoiando o Livro de Abraão é a sua referência sobre Abraão ter conhecimentos de astronomia e de tê-los ensinado aos egípcios. A tabela a seguir resume sobre outros elementos que vêm ao encontro do relato traduzido pelo profeta.

            Uma vez mais podemos dizer que a profecia feita por Morôni sobre Joseph em 1827 está sendo cumprida, pois "seu nome será reconhecido por bem ou por mal entre as nações!" e a profecia citada por Néfi, feita por José do Egito "Eis que o Senhor abençoará este vidente; e aqueles que procurarem destruí-lo serão confundidos" (2 Néfi 3:14) vai se tornando uma realidade.

  

            Bibliografia Utilizada nesta janela:

 

            Obras- padrão

            History of the Church

            A Igreja Restaurada

            Encyclopedia of the Mormonism

 

           

                                                por Élder Moreira: Missão Porto Alegre Sul (1990-1992)