1. História da Filosofia (pastor batista)   

2. Premissas Fundamentalistas (pelo filósofo Mórmon Blake T. Ostler)  

3. Newell entrevista McMurrin.


1.     História da Filosofia

VISÃO PANORÂMICA DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA

    Preparado pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho para o Retiro da Ordem dos Pastores Batistas do Estado de S. Paulo, Sumaré, janeiro de 2004

    Muitos torcem o nariz para Filosofia. Alguém a definiu assim: “A Filosofia é uma coisa tal sem a qual estamos tal e qual”. A definição de “filósofo”, em alguns dicionários, mostra desprezo por seu estudante. O Dicionário Prático da Língua Universal define filósofo como pessoa  “indiferente às coisas do mundo”. O Caldas Aulete como quem “vive vida retirada do mundo”. A idéia geral é de um esquisito. No cenário evangélico, que privilegia a atividade sobre o pensar, muitas vezes chamar alguém de filósofo ou de teólogo é dá-lo como alienado, preguiçoso ou homem de gabinete, que não faz nada. Talvez seja por isto que enfrentamos tantas esquisitices doutrinárias. Por faltar pensamento crítico e análise. Por trás das atividades estão os conceitos que as movem e que muitas vezes são usados para manipular os agentes. Em A Revolução dos Bichos, de Orwell, há um bicho na fazenda que nunca pensa. É o cavalo. Os porcos mudam as leis, adaptam as doutrinas à sua conveniência, reinterpretam a história, tornam-se cada vez mais humanos, e tudo que o cavalo diz é que vai trabalhar mais. Trabalhou até cair morto, mas sem pensar. Acabou sustentando o domínio dos porcos. Ativismo sem análise é problemático.

     Estudar Filosofia num Retiro de Pastores é uma mudança de mentalidade. Isto anima muito.

   E o assunto é bom, embora com tempo exíguo, mas entendo a limitação: “Visão Panorâmica da História da Filosofia”. É o assunto que me coube. E para ser elaborado com o seguinte objetivo: “O Professor traçará uma linha cronológica sobre todas as escolas filosóficas ao longo do tempo.  Exporá sua linha mestra de raciocínio, seu principal expoente, suas contribuições e dificuldades para a vida secular e para o Cristianismo”. Foi o que me recomendaram.

   A dificuldade foi definir, exatamente, quais as mais importantes escolas filosóficas ao longo do tempo. Há um trabalho excelente do excelente Prof. Sayão i, mas ele tem outra linha, e usá-lo seria plágio. Vali-me do livro Introdução ao Pensamento Filosófico, de vários autores, da Edições Loyola ii. Fixei-me no capítulo “As correntes filosóficas contemporâneas”, do Prof. Carlos Bússola.

    Precisando definir-me, reconheci as sete correntes que ele apresenta, escolhi quatro, e acrescentei  mais uma, a pós-modernidade. O que apresento aqui não é resumo nem resenha de seu capítulo.

     Aceitei as correntes mais importantes, na ótica dele. Caminhemos por aqui.

1. O HUMANISMO E AS IDÉIAS DA RENASCENÇA

    Só entenderemos as correntes filosóficas contemporâneas que geram o comportamento social e político contemporâneo se entendermos o evento que as desencadeou, o Renascimento. As escolas filosóficas contemporâneas são desdobramento do humanismo renascentista. Este foi um fenômeno que abrangeu cerca de 200 anos (1400 a 1590). Foi uma redescoberta dos valores da razão e da sensibilidade humanas. Do ponto de vista da economia política, ensinou que o homem se afirma mediante o trabalho e o ganho material que o tornam livres do poder imperial e papal. A pesquisa, o trabalho e o dinheiro produzem poder.

       Enfatizando a pesquisa e o domínio do homem na natureza, anunciou-se uma ciência livre da Igreja e subordinada apenas à verificação. A ciência não poderia se subordinar à especulação filosófica ou teológica. O homem se afirma pela razão, e não pela revelação. Assim sendo, a ciência não pode ser avaliada por padrões metafísicos (inclusive a revelação), e é sempre experimental, empírica, provisória e imediatista. Isto abriu a porta para o imanentismo, a idéia de que a causa do universo é intrínseca ao próprio universo, não tendo este sua existência derivada de qualquer poder alheio a ele. Este imanentismo trouxe a separação entre a ciência e a teologia. A ciência assumiu foros de verdade, e a teologia e a filosofia assumiram foros de opinião. A verdade não é mais um conceito filosófico ou religioso, mas é científica. A religião perdeu o domínio do mundo, e o processo de secularização teve início.

2. OS ANTECEDENTES DAS CORRENTES FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS

    A mentalidade científica é uma atitude que aceita a pesquisa comprovada como autoridade para definir a verdade. As autoridade civil e religiosa não têm peso algum para definir o que seja verdade. Na obra Educação Para uma Civilização em Mudança,iii Kilpatrick remonta esta atitude a Galileu Galilei (1564-1642). Subindo ao alto da Torre de Pisa, ele deixou cair duas bolas de ferro, uma de um quilo e outra de meio quilo. Cria-se que a de um quilo cairia duas vezes mais rápido que a de meio quilo. Caíram juntas. Galileu provou que a velocidade dos corpos era causada pela lei da gravidade, e não pelo seu peso. Banal, não é mesmo? Segundo Whitehead, “desde o nascimento de Cristo, jamais tão grande coisa produziu tão pequeno ruído”. É que com isto Galileu estabeleceu uma nova postura: D´ont tell me (“Não me fale”), show me (“Mostre- me”). Voltando a Kilpatrick analisando a atitude de Galileu, “o pensamento, para ser aceitável, precisa ser comprovado em suas conseqüências práticas”. O que tem valor não é a autoridade, mas o que se pode provar. Por isto, Kilpatrick considera Galileu como o pai do pensamento científico e da modernidade. A ciência e o homem moderno querem provas, não palavras. Este comportamento afeta toda a maneira de pensar do homem contemporâneo.

    Esta atitude de Galileu teve impacto na Igreja. Por exemplo, o episódio de Josué 10.12-13, em que o Sol parou, não poderia ter acontecido. A Igreja o usava para defender o sistema geocêntrico aristotélico-ptolemaico. Por estar na Bíblia não precisava ser provado nem podia ser contestado. Galileu, com seus instrumentos, provou que Aristóteles estava errado. O Sol não gira ao redor da Terra, mas o contrário. A ciência, agora, contestava a autoridade da Bíblia e da Igreja. A opinião não conta, mas as evidências.

    Fiquemos com a filosofia moderna, oriunda do humanismo, que traz em si os antecedentes da filosofia contemporânea. Verifiquemos em que as correntes principais afetam nossa fé. Entramos em desvantagem. As afirmações de fé são opinião, não ciência. Aceitamos pela fé, e não podemos provar o que cremos. A mentalidade do mundo contemporâneo é a de Galileu: Não me diga, prove-me.  Aceitarei as seguintes correntes como as mais importantes: Idealismo, Materialismo, Positivismo, Neopositivismo, Existencialismo, Fenomenologia, Estruturalismo (seguindo Bússola) e Pós-modernismo, que acrescentei como a corrente de pensamento (atitude) mais influente hoje.

    Infelizmente, por limitação de tempo, tive que omitir o Neopositivismo, a Fenomenologia e o Estruturalismo. Centrei-me no Idealismo, Materialismo, Positivismo (por causa do Brasil), Existencialismo e Pós-modernismo.

3. O IDEALISMO

    O idealismo originou-se em Pitágoras, foi difundido e empregado por Platão, reforçado por Plotino, e na filosofia moderna teve seus expositores maiores em Berkeley e Hegel. Sua origem está no passado, mas foi reformulado em tempos modernos. Idealismo, em Filosofia, não é o estado de espírito da pessoa cheia de ideais. As possibilidades de definição são muito amplas, de modo que ficaremos com a perspectiva metafísica: é a teoria segundo a qual a realidade pertence à natureza da mente ou da idéia. Gaarder sintetizou isto: o ponto de vista de que a “existência (é) algo de natureza fundamentalmente anímica ou espiritual” iv. Este ponto de vista é platônico. As entidades reais ou conceituais é que são a realidade. Em outras palavras, a verdade consiste em idéias e podeser expressa por conceitos. Tudo que existe, existe por causa da sua idéia. Tomemos uma cadeira. É algo real, material, concreto. Mas antes de existir como objeto concreto existiu na mente do carpinteiro. Usou-se o idealismo para argumentar em favor da existência de Deus. Se existe uma idéia, existe seu objeto (não necessariamente “coisa”). Só podemos pensar no que existe. Se temos a idéia de Deus, existe Deus. Aliás, este era o ponto de vista de Descartes v. Esta forma de argumentar mostra a relação entre objeto e idéia. A teoria prioriza a idéia como sendo a verdade.

    O idealismo colocou o mundo inteligível fora do sujeito que conhece. O fundamento deste mundo inteligível, segundo Platão, não é o mundo físico, o real, e sim um mundo “que está além dos céus” vi. Isto nos trouxe um dualismo, produto de valoração: o mundo das idéias é superior ao mundo real, o mundo material. Este é inferior, apenas uma sombra da realidade. O idealismo platônico se vê em Hebreus 3.5: “Eles servem num santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus, já que Moisés foi avisado quando estava para construir o tabernáculo: ‘Tenha o cuidado de fazer tudo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte’”.

    A concepção de que este mundo real é ilusório e cópia de um melhor e mais perfeito alimentou a fé de muitos cristãos na perseguição romana. E tem alimentado a fé de todos os cristãos ao longo dos séculos. O idealismo está em nossa teologia. Há um mundo melhor, além deste, físico e sensorial, o mundo ideal. Eu creio firmemente nisto, embora não o pense como similar a este. Do ponto de vista ético, o idealismo nos legou este raciocínio: se o mundo ideal é superior ao mundo material, a alma é superior ao corpo. As paixões devem ser reprimidas para se elevar o espírito.

     Muito da teologia pietista, que gerou o movimento de revivacionalismo, nos Estados Unidos, tem raízes idealistas. E foi o pietismo que trouxe o evangelho ao Brasil. Muitos cânticos nossos, produto do pietismo, se enquadram na categoria do que Mendonça chamou de “protestantismo peregrino”.  Nossa pátria não é aqui, este mundo é mau e sem valor, e só a eternidade é que importa. Se de um lado gerou o amor às realidades espirituais e criou o desejo pelo céu, de outro gerou, em alguns, a alienação. Não importa se a pessoa é pobre e injustiçada aqui. No céu ela andará em ruas de ouro.

    Um ponto positivo no idealismo metafísico é a ênfase no céu e nas realidades espirituais. Um ponto negativo e perigoso é olhar para o céu, apenas. Um outro aspecto negativo é identificar a matéria (o mundo real) como má, e esquecer-se que somos matéria. Isto cria a dicotomia espiritual e material em bases irreais. Cantar um corinho é uma atividade espiritual (trata do mundo ideal).

    Mesmo que o corinho não diga anda. Comer uma pizza com amigos, quando um deles está deprimido, e como resultado deste momento, o deprimido se soerguer, mesmo assim é uma atividade mundana. Passamos a ter dificuldades com o mundo real, concreto e histórico. Precisamos analisar quanto de nossa fé é teologia e quanto é idealismo platônico revestido de outra maneira. A melhor crítica ao excesso do idealismo veio de Gaarder, com Vita Brevis, viiuma fantástica crítica ao platonismo exagerado de Agostinho.

    O idealismo foi reavivado por Kant (1724-1804). Ele é o pai do idealismo moderno. Seu pensamento foi a reação cristã “a várias correntes filosóficas que acabavam negando a razão humana e subvertendo a religião cristã” viii. Um dos oponentes que Kant quis refutar foi Hume (1711-1776). Empirista extremado, Hume entendia ser impossível justificar racionalmente nossas crenças e valores. São explicáveis psicologicamente, mas não logicamente. Segundo ele, “nossas regras de conduta baseiam-se em nossos sentimentos morais, não em uma ordem moral metafisicamente fundada” ix. São condicionamento social e não produto de uma experiência com um Absoluto. Neste sentido, a religião é mera expressão cultural, seus valores passam a ser relativos a épocas, culturas e locais. Daí, o relativismo, pois os juízos morais não se baseiam na lógica, nem na metafísica, mas nos sentimentos, na opinião. Só a razão é um juiz válido, entendendo-se por razão o que se pode provar (eis Galileu aqui). Kant aceitava algumas premissas dos racionalistas, como o conhecimento vir pelos sentidos, e que nossa razão tem “pressupostos importantes para o modo como percebemos o mundo à nossa volta” x. Mas ele achava que os racionalistas tinham visão parcial, pois possuímos certas premissas em nossa razão que nos ajudam em nossas experiências.

    Isto era recuperar o conceito de idéia de Platão. Para Kant há dois elementos que nos ajudam a compreender o mundo, os sentidos e a razão. Por maiores que sejam as atividades dos sentidos, não haverá conhecimento sem a operação do intelecto. Por mais amplo que seja o mundo exterior, precisamos do mundo interior para conhecer. E a realidade depende da idéia que alguém faz dela.

    Com isto, Kant lançou as bases do idealismo moderno. Seu pensamento é amplo e complexo, mas uma frase sua, traduzida de várias maneiras, nos ajuda a entender seu pensamento: “Duas coisas me pressionam sobremaneira: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim”. Com isto ele reconhecia o mundo exterior, que acessamos pelos sentidos, e o mundo interior, o das idéias, que está em nós. Protestante, Kant nos legou esta frase: “A existência da Bíblia é a maior bênção que a humanidade jamais experimentou” xi. Ele entendia que as verdades espirituais eram a Idéia, e que a experiência podia confirmar a Idéia. Para Kant, “Deus, a liberdade e a imortalidade, longe de serem demonstráveis, de constituírem o objeto de um raciocínio teórico, são postulados, hipóteses exigidas pela razão prática, isto é, que dizem respeito à ação moral, à regra a priori da moralidade. Aos olhos de Kant, a esperança de outra vida depois da morte e de um Deus justiceiro vincula-se com efeito, a uma exigência prática” xii. Ele não se livrou de uma Idéia necessária, o Absoluto, causa das idéias (parece Aristóteles, mas entendam a argumentação).  Muitas vezes me vejo como um neokantiano. A razão tem um grande valor e deve ser a senhora, na Filosofia, mas não podemos dispensar uma Idéia, a Revelação. Na Teologia, a Revelação precisa ser trabalhada pela idéia.

 
4. O MATERIALISMO

        Cito Russ: “teoria segundo a qual a matéria constitui a realidade fundamental e primeira; desta perspectiva, não existem seres imateriais”. Filosoficamente, o primeiro materialista é o grego Demócrito (+-400 a.C.). Para ele, não havia uma “força” ou “inteligência” que interviessem no mundo. Só existem o vácuo e os átomos (“não divisível”), termo criado por ele. Ele só cria no material. Como tudo era material, não possuímos eternidade. A alma era composta de átomos arredondados e lisos. Quando ela morria, esses átomos se dispersavam por todos os lugares e podiam se ajuntar a outra alma, no momento em que esta é formada. O primeiro materialista era reencarnacionista! Não por crer no além, e sim na possibilidade da matéria existir de outra forma.

        No rigor do termo, materialista não seria, necessariamente, ateu. Bem observa Krohling: “A corrente filosófica denominada materialismo defende como prioritário a matéria, o real” xiii. É prioritário, mas não único. Para o idealista, temos um objeto chamado cadeira porque temos a idéia de cadeira. Para o materialista temos a idéia de cadeira porque vimos uma cadeira. Não existe uma cadeira abstrata, mas nossa idéia de cadeira nos vem à mente porque sabemos o que é uma cadeira.

     O materialismo remonta aos gregos jônicos, principalmente a Escola de Mileto (Tales, Anaximandro e Anaxímenes). Eles buscavam o elemento primordial, material, causa de tudo. A palavra “matéria” nos vem do latim máter, “cepa de árvore, mãe, origem”. Para eles, nada pode surgir do nada. Deveria haver uma máter originadora. Mas Parmênides achava que tudo que existe sempre existiu. A matéria é eterna. O fato de Demócrito ser reencarnacionista e materialista não é um contra-senso, pois se nada pode vir a existir do nada, nada que existe pode se transformar em nada. Demócritotambém não acreditava numa “força” ou “mente” universal. Só existiam os átomos e os vazios. Com isto, na prática, o materialista é um ateu.

         Surge Heráclito (+- 500 a.C.), com sua visão dialética da natureza: “Uma pessoa não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio” porque tudo está em evolução. Ele difere de Demócrito por crer numa “força” ou “mente” que coordena a matéria. Nada é fixo, tudo está em evolução. Ele é o primeiro representante do pensamento dialético. É o pai da escola mobilista (de movimento). “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir-a-ser”. A realidade dinâmica, o Logos, a Razão, estava em tudo e originava tudo. Para ele, esta realidade, o Logos, era o fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres (em linguagem de hoje, seria a energia). O fogo olímpico é o símbolo do movimento. “Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionada pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e feio, etc..”. Para ele, “a guerra é a mãe, a rainha e princípio de todas as coisas” porque pela luta de opostos o mundo muda e evolui. As forças contrárias acabam se ajustando, fazendo concessões e entrando em um acordo. Isto se chama dialética, “a arte de dialogar”. Neste sentido, dialética é a contraposição de uma opinião com a crítica que dela podemos fazer, ou seja, afirmar uma tese, negá-la ou questioná-la para purificá-la dos erros e equívocos, surgindo uma nova idéia. Seguindo Heráclito, tudo flui, nada é a mesma coisa.

       Vamos dar um salto. Deixarei Hegel para o tópico sobre Existencialismo. O pensamento de ráclito será desenvolvido pelos seguidores de Marx, Lênin em particular: “o universo seria uma totalidade material e contraditória, em que interviriam processos dialéticos”. Daqui caminhamos para o materialismo dialético. Vamos tentar entendê-lo. Mas antes registremos o chamado “materialismo clássico”. Este surge com Francis Bacon (1561-1626), que baseia todo conhecimento no método experimental. Ele ensinava que devemos nos libertar dos deuses da Tribo, da Caverna, Mercado e Escola (cultura, idealismo, comércio e condicionamento), pois são pré-conceitos e opiniões não científicas. Devíamos usar a observação e a experimentação. Ou seja, o que tem valor é que pode ser provado. Isto é uma pancada no idealismo, como filosofia, e na religião, particularmente. Só o real, o material, tem valor. Marx vai ignorar religião e a metafísica, inclusive vendo-as como inimigas do homem. O homem, agora, não é apenas o filósofo. É o objeto da Filosofia. É o ente e não mais o Ser que domina a discussão filosófica.

            Sendo o homem o objeto da Filosofia, a dialética se aplica à história, que é uma construção humana.

        A dialética (a arte de discutir, na etimologia grega) marxista vem de Hegel: a tomada dos opostos em sua unidade. É um processo pelo qual o pensamento e o ser se desenvolvem, indo da tese à antítese e daí à síntese, por contradições superadas. São quatro os princípios da dialética: 1º) tudo se relaciona; 2º) tudo se transforma; 3º) há mudanças qualitativas; 4º) a luta dos contrários. A síntese é uma negação da negação. Neste processo, é necessário uma visão de conjunto que nos leva a ver o inter-relacionamento dos fenômenos, deixando a visão fragmentária e desprezando o idealismo. A realidade é mutável, se relaciona em seus vários aspectos, e sofre mudanças qualitativas. Um evento é uma ação, que causa uma reação, e surge uma acomodação. Esta acomodação se torna uma ação, à qual se opõe a reação. Não há uma verdade absoluta e tudo está em mudança, caminhando para um ponto à frente. E na dialética da história não há uma acomodação tranqüila, mas choques.

        Esta concepção dialética da história nos leva uma concepção materialista da história. Mais que religioso, o homem é um ser social. No pensamento de Marx, o que determina a história (os eventos) são os modos de produção, que incluem as forças produtivas como as relações de produção. Os modos de produção (estrutura ou infra-estrutura) são fortemente influenciados pelas ideologias da vida social (as superestruturas). O modo de produção é como o homem obtém seu meio de vida, seus bens materiais. Para isso há as forças produtivas e as relações de produção. A primeira diz respeito aos tipos de produção e hábitos de trabalho. A segunda, às relações entre as pessoas, no tocante ao trabalho. Estas são mantidas pelas ideologias e pelas superestruturas. O ajuste entre estas duas partes viria pela luta de classes e pelo surgimento de uma sociedade comunista perfeita, onde todos vivessem em comunhão de bens. “De cada um segundo as suas possibilidade, a cada um segundo as suas necessidades” é um axioma marxista. Marx desejava uma sociedade sem classes, sem exploradores e sem explorados. Seria o socialismo ou comunismo, que traria o fim da pré-história da humanidade. A história está em marcha, caminhando para um ponto à frente. Este ponto é o socialismo.

            A questão mudou! Falamos de Filosofia ou de Economia? Marx é complexo.

       Particularmente não conseguia vê-lo como filósofo, mas como um economista que aplicou uma categoria filosófica, a dialética, à Economia. Mas, como bem observa Gaarder “a era dos grandes sistemas filosóficos terminou com Hegel. Depois dele os sistemas especulativos dão lugar às ‘filosofias da existência’ ou filosofias da ação’, como também podemos chamá-las. É a isto que Marx se refere quando diz que até então os filósofos sempre tinham tentado interpretar o mundo, em vez de tentar modificá-lo” xiv. Gaarder mudou meu ponto de vista. Vi Marx como um filósofo.

            Tentemos conhecer um pouco do seu conceito de trabalho, como razão de ser do homem.

            O conceito marxista de trabalho (1) -O surgimento de uma classe dominante tornou o trabalho um instrumento de tortura. Em vez de ser algo que serve ao progresso comum, tornou-se algo que serve para o enriquecimento de alguns e para a opressão das massas. Em vez de algo para a realização, algo para alienação. Tanto que a palavra “trabalho” vem do latim tripalium, um instrumento de tortura, de três paus. Diz Cotrim: “...não há exagero em afirmar que, mesmo nos dias de hoje, o trabalho ainda é utilizado como instrumento para torturar e triturar o trabalhador” xv.

        Será verdade? Há gente que se realiza no trabalho!

       O conceito marxista de trabalho (2) -O trabalho passou a ser instrumento de alienação. Na revista ISTOÉ, de 18.9.95, ao falar da nova revista da esquerda brasileira, lançada em Brasília, há um comentário sobre um dos objetivos da publicação: “repensar a esquerda”. Perguntou a revista:

“Você conhece alguém da esquerda que não use a palavra repensar?”. Da mesma forma, no dogma marxista, alienação é uma palavra que não pode ficar de fora. O termo vem do latim alienare, “tornar algo alheio a alguém”. Em Direito, o sentido da palavra é “a transferência da propriedade de um bem a outra pessoa”. Em Psicanálise, é “o estado patológico do indivíduo que se tornou alheio a si próprio, sentindo-se como estranho, sem contato consigo próprio”. Na Filosofia, por influência de Marx, veio a significar “o processo pelo qual os atos de uma pessoa são governados por outros, tornando-se uma força estranha posta em posição superior e oposta a quem a produziu”. Neste sentido, o trabalho passou a ser instrumento de alienação porque é elemento de dominação de uma classe, a patronal, sobre a outra, a assalariada.

        O conceito marxista de trabalho (3) - Na sociedade capitalista moderna, a produção econômica transformou-se no objetivo do homem, em vez de o homem ser o objetivo da produção.

        Desde o século XIX a sociedade ocidental passou pelo taylorismo. O nome deriva do engenheiro e economista americano, Frederick Taylor, com sua teoria da organização científica do trabalho. Foi o processo de automatização e especialização da indústria, dividindo o trabalho industrial em múltiplas operações. Com isso se alcançou a economia de tempo e se aumentou a produtividade. A principal conseqüência do trabalho, na visão marxista, é que sua fragmentação conduz a uma fragmentação do saber. Ele deixa de ser obra de um conjunto e passa a ser de partes. Há uma situação de rotina, desgastante. Segundo Cotrim, “ao executar a rotina do trabalho alienado, o homem vai se transformando em escravo daquilo que cria por uma razão básica: ele não desfruta dos benefícios que resultaram de sua atividade profissional. O trabalho alienado produz para satisfazer as necessidades do mercado” xvi. Mas esta visão é ideologizada, passional, sem compreensão do real. Realmente esta atitude taylorista no trabalho infelicitou os trabalhadores? A confecção de um tecido, na Idade Média, em sistema manual, levava até um mês e por isso as roupas eram caríssimas. Hoje, com a industrialização, há uma maior produção de bens que barateou o preço do tecido. É lógico perguntar: esta visão é correta? Marx viveu numa sociedade pré-industrial, em vias de industrialização. Vivemos numa sociedade pós-industrial. As teses de Marx não se comprovaram, embora ainda não possam ser ignoradas.

        Esta foi uma visão genérica e ampla do materialismo. A questão é, em que nos afeta? Na negação do espírito e da existência de algo fora da matéria, na apologia da guerra. É de Marx a frase “a violência é a parteira da história”. A crítica de Marx à religião é violenta. Ela é fator de alienação, componente das superestruturas que oprimem o homem e que devem ser combatidas. Ele achava que as condições materiais de vida determinam nosso pensamento e nossa consciência.

        Marx estava enganado em vários de seus pontos de vista na análise do capitalismo, mas a maneira de muita gente ler a história, por causa da incrustação marxista nas universidades, é por sua ótica. Mas a negação das realidades espirituais e a tentativa de construir um paraíso na terra lembra a construção da Torre de Babel. O homem organizado, confederado, direcionado contra Deus e em busca de seus próprios valores. O resultado é confusão. Com a interpretação dialética, tudo é relativo, não há valores absolutos, pois tudo se modifica. Se a história é escrita e feita pelos homens, e não há nada lá fora (como Francis Schaffer gostava de dizer), qual é a verdade? Se não há um Logos, uma Razão, um Deus, um Absoluto, qual é a fonte de valores? Aliás, este é o grande problema do materialista, onde encontrar os valores, como formá-los. A intoxicação materialista da sociedade contemporânea cria o relativismo moral. O que é certo para um não é certo para o outro.

        Se não há Absoluto nem Idéia, se não há nada lá fora, tudo é lícito. Este é o problema das filosofias de existência ou de ação, como o marxismo, ampliação do materialismo. Numa frase de Dostoiévski: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Mas isto já pertence ao existencialismo, do qual falaremos à frente. Aclararemos a questão das filosofias de ação e existência, e entenderemos mais o materialismo e, por via de conseqüência, o marxismo.

      Outra influência do marxismo se deu na geração da teologia da libertação. Segundo Mondin (1979), há dois princípios na formação de uma corrente teológica, o arquitetônico e o hermenêutico.  O arquitetônico é o conteúdo da revelação. A teologia deriva da revelação bíblica. Se não fosse assim, não teríamos uma corrente teológica, mas filosófica. Mondin cita o sistema de pensamento de Hegel. Os mistérios do cristianismo estão presentes nele, mas como foram dessacralizados, despidos de seu conteúdo sobrenatural, é um sistema filosófico e não teológico. O princípio hermenêutico é o instrumento pelo qual se interpreta a revelação. Geralmente é de conteúdo filosófico. É que a teologia é a interpretação da revelação pela razão. Os dois princípios são necessários e se entendem bem à luz da palavra de Bruner, segundo a qual, para se entender a Palavra de Deus é necessário um ponto de encontro entre ela e a mente humana. A Palavra é o princípio arquitetônico. A mente humana é o princípio hermenêutico. A teologia da libertação usou categorias marxistas para fazer teologia. Mas em vez de usar a revelação, no princípio arquitetônico, usou a situação das pessoas, o homem real e concreto. E como princípio hermenêutico usou o marxismo. Por isto que muitos até mesmo preferiram vê-la como uma sociologia cristã que como uma teologia. Boff (1985), inclusive, disse que ela deslocou “o lugar privilegiado que até há pouco gozava a filosofia, como mediação cultural para a teologia, em proveito das ciências sociais” xvii. Mas foi o encontro do marxismo com a teologia. No entanto, como os quinze minutos de fama da teologia da libertação se esgotaram, deixemo-la de lado.

5. O POSITIVISMO -

    Como filosofia, o positivismo foi fraco, tanto que Gaarder, em O Mundo de Sofia, onde romanceia a história da filosofia, não o menciona. Mas marcou muito a intelectualidade brasileira. Moldou o pensamento da elite brasileira. Aliás, não se entenderá o Brasil se não se analisar sua herança positivista. "Ordem e Progresso", lema de nossa bandeira, é um mote positivista. Bem esclarecedor, aliás. A idéia é de disciplina e avanço (realidades que não parecem muito consistentes em nossa cultura). Um pouco de história nos ajudará a compreender seu lugar entre nós. Quem deseja mais profundidade, leia Os Socialismos Utópicos xviii, de Petitfils (Zahar Editora), no capítulo II, sobre Saint-Simon.

      Augusto Comte foi o fundador. Em linhas gerais, seu ensino é este: o homem, em sua caminhada, passara por dois estágios e agora se encontrava no terceiro. O primeiro foi o estágio teológico ou mitológico, em que as explicações eram religiosas. A chuva, a seca e outros fenômenos eram manifestações da vontade dos deuses. O segundo foi a fase metafísica, da Idade Média, em que a filosofia explicava tudo racionalmente. O terceiro é a fase positiva, tempos modernos, em que tudo é explicado pela pesquisa científica. Positivo é o que é real, que pode ser visto pelo microscópio ou telescópio, explicado cientificamente. Embora tenha sido suporte para a democracia moderna, o positivismo deu uma guinada. Segundo Bússola: “Comte apercebeu-se de ter colocado bases erradas, pois o homem ainda não estava amadurecido para fazer uso de sua liberdade sem nenhuma orientação filosófica. Com efeito, Comte entendeu que o homem precisa de alguma autoridade que o guie e norteie” xix. O conceito de ordem acabou prevalecendo sobre o de progresso, pois se para se ter este se precisa daquela.

    Comte foi discípulo de Claude Henry de Rouvroy, Conde de Saint-Simon, um socialista utópico. Este cria que o sentido da história estava na industrialização, através da luta de classes. O homem de valor é o industrial (todo aquele que trabalha para o enriquecimento da nação, produzindo bens). Neste sentido, as classes política e religiosa não são muito valiosas, porque não produzem bens materiais. E apenas desfrutam do que outros produzem. A estrutura econômica é muito mais importante que a política. Para Comte, só o sistema industrial poderia trazer o radiante futuro esperado por todos. Saint-Simon influenciou muito a Marx e a Comte (lembre-se do regime militar de 64; lembre-se também do comunismo; curiosamente, a ideologia militar brasileira e o comunismo originaram-se na mesma fonte -marxismo e comtismo são irmãos). Por isso, se analisarmos bem, veremos semelhanças entre um sistema comunista e o de 64: regimes que não viam os discordantes com bons olhos, pouca preocupação com o social, mas sim com a estrutura (o Estado, no caso político), ênfase no progresso sem uma correspondente ênfase no social (este viria automaticamente, com o progresso), visão de educação como se fosse doutrinação (sobre educação e doutrinação como antônimos, veja Doutrinação e Educação xx, de Snooker, pela Zahar), etc.

    Comte e Marx tinham algo comum: a ciência humana aboliria a religião e a metafísica. O grande inimigo da humanidade era a idéia de Deus, nociva à industrialização. Comte era matemático e aplicou o critério das ciências exatas à História, tentando estabelecer esquemas previsíveis para esta, até mesmo para controlá-la. Como Marx, ele professava uma fé cega na luta de classes como sendo a espinha dorsal do seu sistema. Mas no comunismo, nunca houve ditadura do proletariado, e sim de uma elite que encarnava um sistema que se julgava predestinado a fazer um paraíso na terra.

      A influência do positivismo pode ser vista em nossa cultura: o povo não conta, a não ser para pedir-lhe voto. A elite sabe e o povo, não. A elite faz o que julga que deve. Põe-se acima das leis. A ponto de se dizer que lei, aqui, é para os três “P”: preto, pobre e prostituta. Aliás, o perfil do preso brasileiro é este: preto, pobre, semi-analfabeto, com menos de 25 anos de idade. É que a elite, branca e rica, não vai para a cadeia. Se tiver curso superior, então, tem direito a prisão especial.

      Uma conseqüência disto em nossa cultura é a dicotomia: o religioso é indigente mental. O agnóstico ou ateu é erudito. Criou-se um falso axioma: religião e erudição são opostos. A elite pensante brasileira é agnóstica e religião é vista mais como evento cultural que como evento metafísico. Mas o aspecto mais interessante no comtismo é o conceito de progresso sem visão social. A sociedade é um fim e o povo, o meio para promovê-la. As pessoas se subordinam às estruturas. Voltamos a um ponto anterior: não temos uma tradição de preocupação social. Muitos ainda se lembram de Delfim Netto de que "é necessário fazer o bolo crescer primeiro, para depois dividi-lo". Ou seja, primeiro o Estado. Depois, o povo. Esta postura também foi a responsável pela eliminação dos cursos de Filosofia no Brasil e da instalação dos profissionalizantes: não se precisava de pensadores e sim de técnicos. É que se pensou que o país cresceria muito e que haveria necessidade de uma elite técnica. Esta visão subordina o indivíduo à estrutura e dá a esta a capacidade de decidir pelo indivíduo. O bem estar coletivo se sobrepõe ao individual. Pensar, não; ajustar-se à maquina, sim. Indivíduo não; Estado, sim.

      É possível verificar que muito de nossa visão denominacional  e eclesiástica é influenciada por este modo de pensar. As pessoas precisam de uma estrutura para tomar conta delas. Como alguns que pensam que as igrejas locais precisam de uma estrutura para tomar conta delas.

6. EXISTENCIALISMO –

        O pensamento ocidental tem duas grandes transições. A primeira é do cosmo para Deus (da filosofia natural para a moral). A preocupação era com os elementos básicos do universo: de que as coisas visíveis são feitas? Como o mundo veio a existir? A segunda é a transição no objeto da filosofia: de Deus para o homem (do teocêntrico para o antropocêntrico).

           Aqui surge o existencialismo, reação ao racionalismo e ao empirismo que supunham que o universo tem ordem e que o homem pode descobri-la pela observação e experiência. O existencialismo rejeitou a razão como guia para a conduta humana e afirmou a existência como norma.

           A Filosofia focava a essência. O existencialismo, a existência. Essência é o latim essentia, do verbo esse, ser. A filosofia essencialista pensa na essência das coisas. Existência vem do latim existere, “sair de casa, do esconderijo”. Significa mostrar-se, exibir-se. Existir é mostrar-se. O existencialismo reflete sobre a existência humana no seu aspecto particular, individual e concreto.

       Não o universal e o abstrato, mas o particular e concreto. Deixa-se a idéia e se pensa no homem. O existencialismo é a expressão de uma situação singular, individual, um pensamento produzido em uma situação particular. Mas que é existir? É ter consciência de escolha. Disse Heidegger: “só existe autenticamente aquele que se escolhe”. Ou seja, só existe aquele que se faz, que se afirma. O existencialismo marcou profundamente a arte e a cultura porque foi abraçado por artistas e intelectuais. Expressa-se muito por filmes, novelas e romances. Eis uma frase do apresentador do extinto programa Você Decide: “O certo e o errado não importa. O que importa é o que você assume”. O que vale é o que a pessoa assume. O subjetivo é o válido. O objetivo não tem valor.

            Sören Kierkegaard (1813-1855) é o pai do existencialismo. Dinamarquês, teve uma criação severa, e um pai repressivo. Adolescente desorientado, seu início de mocidade foi um pouco devasso. Estudou Teologia. Mas desavenças com o luteranismo o impediram da ordenação. Rompeu o noivado com Regina Olsen, a quem amava, por achar que seria sempre atormentado pela angústia. Não quis arrastá-la para este tipo de vida. Não se julgava pessoa para uma vida repartida. Acusava a Igreja Luterana de burocratizada, sem religiosidade interior, mais preocupada com a estrutura que com a verdade. Mas a marca maior foi o desacordo com Hegel (1770-1831).

            O período era de contradições. Havia euforia com o progresso, as possibilidades da razão, e uma crença na liberdade e capacidade do homem. Havia também a violência das guerras e a tirania de governos. Hegel tentou conciliar a euforia com a depressão e sintetizar todo o pensamento humano. Tentou conciliar a história e a filosofia. Para Hegel, cada pessoa é produto do seu tempo e até a Filosofia resume o seu próprio tempo. Ela não se separa do seu contexto histórico. Para conciliar as contradições que via, deu nova forma ao método dialético, com os conceitos de tese antítese-síntese. Usava muito a expressão “espírito do mundo”, mas num sentido diferente do que fora dado pelos românticos. “Espírito do mundo” ou “razão do mundo” era a soma de todas as manifestações humanas ao longo da história. O homem estava somando conhecimentos ao longo da história e caminhava para a maturidade. A história do homem é uma marcha para a frente. Mas ao dizer que o homem é produto do seu tempo, Hegel afirmou-o como restrito. Ele nasce num meio histórico, que o condiciona. Ninguém pode desligar-se da sociedade e viver sem meio histórico. O homem é relativo. Não se faz nem se afirma. É feito e afirmado. Hegel quis, na defesa do conceito de espírito do mundo, condensar toda a realidade num sistema. Quis explicar tudo, criando uma visão total da realidade em todos os seus aspectos. Chamou-a de Idéia Absoluta. Por isso, seu sistema é chamado de idealismo, pois põe a idéia absoluta ou geral como ponto central de seu pensamento. O indivíduo se dilui no sistema. É condicionado, relativo e subordinado à sociedade e seu tempo. A idéia está acima da existência. Esta síntese de Hegel permite entender a reação de Kierkegaard. Para ele, Hegel ignorou a existência concreta do indivíduo. Há uma história, uma evolução do pensamento, a humanidade caminha como um todo para a frente, mas e o individual?

             Como existir se tudo é pacote para envergar?

            A crítica de Kierkegaard a Hegel foi dura: “Enquanto Hegel mora no palácio da Idéia, eu moro na choupana da Existência”. Sobre Descartes, pai do racionalismo e da objetividade, com sua frase “penso, logo existo”, disse: “Isso é tolice. Não é penso, logo existo, mas porque existo, penso”. Para Descartes, o pensamento (a razão) precedia a existência. A essência vinha antes da existência. Para Kierkegaard, a existência é que faz a razão, pois precede-a. A existência precede a essência. Criticando Hegel, disse que somos mais que filhos de nosso tempo. Cada um de nós é um indivíduo único, que só vive esta única vez. O indivíduo tem, primeiro e acima de tudo, noção de sua própria realidade. Entendemos o mundo a partir de nós. Só a realidade singular e concreta interessa, porque é só isso que o indivíduo pode conhecer. Para ele, a verdade era subjetiva. Não no sentido de que há tantas verdades quantas sejam as pessoas, mas que uma coisa só é verdade se é verdade para mim. A verdade não pode ser teórica ou acadêmica, mas pessoal. Por exemplo: Deus existe ou não? Caso se pudesse provar, cientificamente, a existência de Deus, se isso não afetasse minha vida, seria uma verdade irrelevante. Mas se me afetasse, então seria verdade porque seria verdade para mim. O fundamental não é a verdade em si, abstrata, mas a relação da pessoa com a verdade. O valor da verdade está em ser verdade para o indivíduo. Ele põe a ênfase no indivíduo, na pessoa, na existência. Todo conhecimento tem que se ligar à existência, à subjetividade. “A subjetividade é a verdade, a subjetividade é a realidade”. O universal é mera abstração do singular.

         Por isso, não ao abstrato e ao racional. E sim ao concreto, ao existencial. Ele afirma o homem, o indivíduo como ser pensante, que decide, que faz. Para Hegel, o homem é filho do seu tempo Para Kierkegaard, somos mais que filhos do nosso tempo. Cada um de nós é um indivíduo único, irrepetível, singular e que só vive uma vez. Kierkegaard punha ênfase na pessoa. "O paradoxo da fé está, pois, em que o Indivíduo está acima do geral..." xxi

           Uma síntese de Kierkegaard: o homem é espírito, e nele se encontra a síntese de finito e infinito, de temporal e eterno, de liberdade e necessidade. O espírito é o eu, o concreto. O homem é a categoria central da existência. Esta se divide em três estágios: estético, ético e religioso. No estágio estético, o homem busca uma razão para sua existência. Precisa fazer escolha (no singular).

       Mas não há base lógica para isso. Não há critérios objetivos que justifiquem opções. Descobrir isso traz frustração. Se não há base objetiva, o homem cai no domínio dos sentidos. Entra numa existência vazia. O ético surge como estágio seguinte: ele descobre que não pode viver pelos sentidos e aceita as exigências do mundo exterior. É livre, mas dentro de limites impostos pela sociedade. Na estética, tudo é belo. Na ética, tudo é rigoroso. O estágio religioso é a alternativa à crise entre o ético e o estético. É a saída.

          Um bom livro de Kierkegaard é Temor e Tremor, sobre a crise de Abraão indo oferecer Isaque em sacrifício. Para os homens, era assassinato. Para Deus, era fé. Abraão teve que escolher.

           Esta escolha definiria seu estado: assassino ou homem de fé? Isto dependeria do seu ponto de vista.

           A angústia do patriarca hebreu era sua, totalmente sua. Ninguém podia decidir por ele. Sara não podia. Só ele. Assim é o homem. Ele tem que decidir. É ele quem faz a verdade, se ela é válida ou não para ele, se será digna ou não para ele. O homem é um ente que toma decisões. Esta angústia vivida por Abraão, enquanto caminhava os três dias até o Moriá, era dele e de mais ninguém. A frase mais comum nos primeiros capítulos é “mas, quem poderia entender Abraão?” ou “mas ninguém podia entender Abraão”. Ele era um homem único, singular, como, na realidade, todos nós o somos. É o homem que se assume, que assume uma escolha, que não tem que como explicar, pois é pessoal, existencial, mas que tem sentido para ele. Abraão estava no estágio ético e deu um salto, para o religioso. É o salto da fé. A razão é impotente para guiar nossas ações. Há uma escolha a ser feita, que valida a nossa existência. Por quê? Porque o que somos como existência é que valida a nossa essência. Mas nós escolhemos nossa essência. Nós a fazemos. Então, existimos para ser. Logo, a essência não precede a existência. Para o homem ser homem, a existência precede a essência. Na realidade, ele faz a essência. O homem se faz no mundo.

        Pulo para Nietzsche, “profeta de uma religião não-religiosa e filósofo de uma filosofia não-filosófica”. Rebelou-se contra a pretensão da Filosofia e da Teologia de encontrarem a verdade.

        Contraditório, polêmico e violento, mais contestou que afirmou. Morreu louco, após onze anos de enfermidade. Odiava o cristianismo, chamando-o de “filosofia de escravo”. Em Além do Bem e do Mal criou os conceitos de Apolo (deus da virtude) e Dioniso (deus do vinho). O homem, pela sociedade e pelo cristianismo, cultua Apolo, a virtude, o bem, a retidão. É necessário derrubá-lo e entronizar Dionísio. Isso significa acabar com a religião e estabelecer o homem, a força. O homem inventou Deus para punir sua natureza má, seu Dionísio. Mas Deus não existe e precisamos nos livrar dele para afirmar o homem. Ou Deus ou o homem. Na parábola de A Gaia Ciência, há o ancião que diz que Deus morreu e os sinos anunciam sua morte. Nietzsche é duro: “Eu vos conclamo, irmãos, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças ultraterrenas! Não passam de envenenadores, conscientes ou não" xxii. Profetizou o ateísmo, nas palavras do velho da história citada: “Eu cheguei cedo, mas vocês verão que eu disse a verdade”.

        Propunha a superação do transcendente, a eliminação do sobrenatural na vida e o advento de um novo homem, que seria o super-homem: "Eu vos proponho o super-homem. O homem é algo que deve ser superado" xxiii.

Nietzsche se tornou, mesmo com seus admiradores negando, o profeta do nazismo com seu super-homem. Como o homem é movido pelo poder da vontade, é necessário um super-homem, o único homem autêntico (contra o “meigo Nazareno”). O super-homem de Nietzsche reconheceria sua situação humana, criaria seus próprios valores e moldaria sua vida à altura destes valores. Sendo a humanidade uma massa de cordeiros, ele deveria impor-se aos demais, para levá-los ao seu destino de realização. Muitos vêem em Hitler o super-homem de Nietzsche. Mesmo que Nietzsche não quisesse (chamá-lo de nazista é desonestidade intelectual), o fato é que as idéias, após expostas, não são mais de quem as emitiu e se desdobram além do pretendido.

        Ele foi o pai da teologia da morte de Deus (de Altizer, Hamilton, Vahanian e Adolphs) que floresceu nos anos sessentas. A teologia da morte de Deus foi a cristianização de Nietzsche: a recusa a uma religião transcendente e metafísica.

       Chegamos a Jean Paul Sartre, francês, popularizador do existencialismo. Este não é fácil de ser exposto em conceitos. Expõe-se melhor em novelas e romances. Suas obras como O Existencialismo é um Humanismo e O Ser e o Nada, que Foulquié diz que nem dez pessoas leram por inteiro xxiv, são herméticas. Romances como O Muro, A Idade da Razão e A Náusea e peças como Entre Quatro Paredes e As Mãos Sujas tiveram grande aceitação popular. Sartre afirmava: ou o homem ou Deus. Um dos dois tinha que morrer para o outro se afirmar. A essência (Deus) não precede a existência (o homem) e até a atrapalha. Declarou ele: “numa palavra nego que a essência preceda a existência”. Para existir, o homem precisa afirmar sua liberdade radical. Distanciou-se de Kierkegaard: o ético não era relevante. Em Entre Quatro Paredes encontra-se a famosa frase: “o inferno são os outros”. Os valores não podem ser socializados, mas individualizados. Cada pessoa precisa afirmar sua existência através de um ato, enredo bem mostrado em A Idade da Razão. A angústia e o nada são parte das categorias fundamentais do seu pensamento: “o homem é uma bolha vazia no mar do nada”. O ético de Kierkegaard foi rejeitado, e o sentido da vida humana negado. O existencialismo sartriano é coerente: sem o Ser, só há o nada.

         Vejamos agora algumas marcas do existencialismo em nossa sociedade.

(1) A negação de valores objetivos. A essência, a idéia, não tem primazia e deve ser combatida. Até no relacionamento pessoal. O inferno são os outros. Há uma grande preocupação do homem consigo mesmo, apenas. O individualismo é sua marca registrada. A contestação dos valores foi inevitável, pois o existencialismo era uma maneira nova de ver o mundo. A revolução estudantil de 1968, na França, e os beatniks e hippies foram de inspiração existencialista.

(2) A afirmação da subjetividade. Há tantas verdades quantas sejam as pessoas. O absoluto cede ao relativo. Tudo pode ser justificado. Chico Buarque se opôs com veemência ao regime militar no Brasil, e às torturas nele havidas, aplaude Fidel e justifica o paredón cubano. E mostrou indignação quando questionado por sua incoerência. Não há lógica. É uma questão de opção. Não é mais o salto da fé de Kierkegaard. É o salto da escolha. O certo é o que eu quero que seja certo. Vemos isso em algumas declarações de fé: "eu sinto em meu coração". O que a pessoa sente é verdade, mesmo que seja contra a Bíblia (ou a lógica).

(3) A rejeição de Deus. A existência só se afirma sem a essência. A negação de Deus e a antropolatria são marcas existencialistas em nossa cultura. Religiões metafísicas são repudiadas, mas as humanistas e assistencialistas, como LBV, têm aceitação da mídia. Na mente de muitos, religião é fazer o bem e viver sua vida. A preocupação metafísica parece sem sentido para muitos. Mas aconteceu uma reação: o ocultismo ressurgiu, pela necessidade do homem crer em algo. Na falta do sensato, crê-se no absurdo: pirâmides, cores, aromas, fadas, duendes, constelações (que são ilusão de ótica), etc..

(4) A negação de uma moral objetiva. Se cada pessoa é a verdade, cada pessoa é a moral. Voltemos a Dostoiéviski: “Se Deus não existe tudo é permitido”. Mas é pior: a imoralidade não é tão perniciosa quanto a amoralidade. Esta é pior. Já se faz apologia da bissexualidade e da pansexualidade, não mais da homossexualidade. Na amoralidade, tudo que se faça está correto. A imoralidade nega uma conduta específica, tida como norma. A amoralidade ignora qualquer norma. É o desdobramento da intimização da verdade.

(5) A falta de um sentido para a vida. Buscar o sentido da vida dentro de si é como tentar se levantar puxando os cordões do sapato. A frustração, a busca de drogas, do exótico e do ocultismo e a devassidão são marcas de nossa cultura existencialista. Sem essência, o homem busca o sentido da vida na existência e não a encontra. Se a existência é tudo, a vida é um absurdo. O existencialismo é coerente: a vida é um absurdo e, como diz Sartre, nada mais resta ao homem a não ser o desespero. Não há sentido na vida. Bem disse Hemingway em Morte na Tarde: “Não há remédio para coisa alguma na vida... a morte é o remédio soberano para todos os infortúnios”. Sartre tinha razão: “não há saída para o dilema humano”. Se, para Nietzsche, Deus morrera no século XIX, vemos sua ressurreição no final do século XX. Mas, filosoficamente falando, o homem morreu no século XX, como disse Carl Henry. Talvez o que melhor ilustre isso sejam duas pichações nas paredes de uma igreja: “Deus morreu. Assinado: Nietzsche”. Embaixo alguém pichou: “Continuo vivo. Nietzsche morreu. Assinado: Deus”. A essência continua. Mas a existência está em crise. A proposta cristã é os dois viverem em harmonia. A encarnação de Deus em Jesus prova que a coexistência é viável. O existencialismo gerou o pós-modernismo, que pode ser definido, também por pichações. Um existencialista picharia: “Deus morreu”. Um cristão responderia: “Marx morreu”. O pós-modernista picharia: “E eu estou gravemente enfermo”. Uma sociedade sem valores está a morrer.

(6) Um valor positivo no existencialismo: o valor do homem. Até nas estruturas religiosas o homem é inferiorizado. Jesus combateu isso, na polêmica com os fariseus, ao dizer que o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado. Os fariseus estavam num tipo de essencialismo: a idéia, o conceito sobre o homem. Mutatis mutandis, Jesus faz o papel de um existencialista: o homem acima da idéia. É muito bonita a sua palavra ao homem da mão mirrada na sinagoga: “Vem para o meio”. Jesus põe o homem no meio. O homem tem um valor e uma dignidade intrínsecos, que muitas vezes as estruturas religiosas depreciam. Talvez devêssemos aprender algo dos existencialistas. Muitas regrinhas igrejeiras são preceitos humanos que aprisionam o homem, em vez de levá-lo a se afirmar e a se realizar. Há muita ortodoxia humana, mas “tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber: a justiça, a misericórdia e a fé...” (Mt 23.23). Às vezes há além demais e aqui em escassez em nossos conceitos. Muita eternidade e pouca vida aqui. É um caso para se pensar. Não é um ou outro. É um e outro. Evidentemente que isso demanda boa dose de raciocínio. Mas pensar é virtude e não defeito. É um dom de Deus.

7. PÓS-MODERNISMO - 


    Ferreira dos Santos assim definiu: “pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o modernismo (1900-1950)” xxv . Guardemos isto: pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas. Grenz declara que a pós-modernidade surgiu no dia 15.7.1972, às 15:32, com um projeto de arquitetura moderna, nos Estados Unidos xxvi . A pretensão é típica de norte-americano que presume que tudo de importante nasce em seu país. Não se pode levá-lo a sério. As raízes culturais da pós-modernidade remontam aos movimentos estudantis de 1968, na França. O refluxo chegou ao Brasil, com a contestação estudantil ao regime militar. Mas os contextos eram diferentes. Aqui foram de ordem política. Lá, ordem cultural, de cansaço com a maneira antiga de ver o mundo. Também não se pode ignorar o movimento hippie, nos anos sessentas. Desprezando a tecnologia, buscando uma vida mais rural, pondo de lado o materialismo e a ganância capitalista, os hippies, com seu bordão de “paz e amor” foram o estopim do pós-modernismo. É necessária uma análise mais séria, menos passional, deste movimento. Seu envolvimento com drogas levou os conservadores a estigmatizarem-no como destrutivo. Para os simpatizantes, o movimento ainda é pintado com cores românticas. Desapaixonadamente, pode-se dizer que foi uma reação a um modo de vida mundano, grosseiramente materialista e dominado por estruturas que subjugam o homem e lhe põem um traje para envergar sem que ele possa questionar. Foi uma reação de jovens ao estilo de vida de seus pais. A rigor, a pós-modernidade é uma reação à modernidade. O milênio que esta prometeu não chegou. O crescimento econômico não beneficiou a maioria, mas uma elite.

    Os filhos da modernidade viram duas guerras mundiais, o massacre de seis milhões de judeus, puseram sua esperança no marxismo e viram que dele surgiu uma das mais cruéis ditaduras da história, viram um capitalismo desumano e muita hipocrisia religiosa. Viram Ruanda e Angola. Viram o massacre da Praça da Paz. A mudança histórica prometida não surgiu. Poucas palavras se aplicam tão bem à sua situação como um trecho de uma música de Chico Buarque: “eu nem sei pra onde eu vou, mas continuo indo”. Lenon estava enganado: o sonho acabou. A pós-modernidade é uma reação contra as promessas não cumpridas. O mundo se tornou pior. Como disse o teólogo Metz, “a ciência não pode produzir um único gesto de amor”. A fé na tecnologia produziu indiferença e cinismo. O homem foi esquecido, o humano foi desprezado.

       O mito do futuro, base da modernidade, melhor acabou. A pós-modernidade começou a nascer quando se viu a impossibilidade de se mudar o mundo. Marx dizia que não se devia mais interpretar o mundo e sim transformá-lo. Os pós-modernistas dizem que é impossível fazê-lo.

      Podem não negar as teses de Marx, mas negam sua solução. O mundo, para eles, não tem solução. Por isso, Faus declarou que “a pós-modernidade não se limita unicamente a suceder no tempo a modernidade, mas reage ( e de forma bem dura) contra ela. Por isso, é mais antimodernidade do que pósmodernidade” xxvii .

       A modernidade trouxe a secularização. Colocou a técnica no lugar de Deus. Pôs suas esperanças na educação do ser humano. Confundiu capacitação tecnológica com educação. Já vimos que o Brasil acabou com o curso clássico e com o ensino de Filosofia e Ciências Sociais e criou os cursos profissionalizantes, pois necessitava de tecnologia para se desenvolver. Afinal, a utopia viria pela ciência e pela técnica. Educar era capacitar tecnologicamente. A pós-modernidade modificou o cenário. Perdeu a utopia e os ideais. Aceitou os fatos e ignorou as injustiças sociais.

       Bem diz Gondim: “A maior denúncia que se faz aos filhos da pós-modernidade é que abandonaram o ideal e renderam-se ao consumismo” xxviii. A pós-modernidade aceitou as injustiças sociais, deu-as como irremediáveis. Então, cada um na sua, que aproveite o que puder. Ela é um neoexistencialismo, mas mais cínico. Cada um na sua, cada um que se vire por si. A diferença é que no existencialismo havia a preocupação com “a insustentável leveza do ser”, que Milan Kundera expressou no seu romance. Na pós-modernidade há a “insustentável leveza do real” (não a moeda, mas o que é). O mundo é assim e sempre será assim. Para quê lutar? Vamos viver.

BLADE RUNNER, O CAÇADOR DE ANDRÓIDES, SÍMBOLO DO PÓS-MODERNO

    Lyon mostra o filme “Blade Runner, o caçador de andróides” como uma amostra do que seja a pós-modernidade xxix. O filme é emblemático do movimento. Os andróides são seres quase-pessoas, produzidos pela bioengenharia. Vivem fora do mundo e são chamados de “replicantes”.  Eles vêem à Terra para lutar contra a empresa que os criou. Sua queixa é que têm apenas quatro anos de vida e querem mais. Querem ser equiparados aos humanos, dos quais são réplicas perfeitas. O caçador de andróides é Deckard, cuja função é seguir suas pistas e eliminá-los. Os replicantes não são robôs. São simulacro de gente. Sua vida é rápida, curta e agitada. Os testes para determinar se são gente ou andróides variam. Deckard se apaixona por uma andróide, Raquel. Ela tem uma foto da mãe, o que o leva a supor que é uma pessoa. Uma máquina que tem família. E o herói do filme não tem. São as contradições do mundo pós-moderno.

    O cenário é uma cidade em ruínas. Tudo era imponente. Agora está demolido. Cenário de absoluta decadência. A tecnologia está em seu grau mais elevado, mas a vida é triste. Montes de lixo entulham as ruas. Há uma garoa cinzenta constante que quase torna o filme em preto e branco. As ruínas da cidade mostram colunas gregas, romanas, dragões chineses, pirâmides egípcias e cartazes de Coca-Cola. Toda a cultura humana está presente e em ruína. O tema musical do filme é melancólico.

    Eis a pós-modernidade. A tecnologia se sobrepõe à humanidade. Os homens criaram máquinas que os substituem e que são suas inimigas. Os replicantes querem ser gente, mas a prova de sua vida é uma fotografia, construída, forjada, artificial. A mensagem do filme é clara: o mundo científico é uma ilusão e o progresso humano está em ruínas. A cidade onde o filme acontece não é identificada. Pode ser qualquer uma, qualquer cidade populosa do mundo industrial. A vida é igual em todos os lugares, sem pessoalidade. Há transporte a oitenta metros de altura do solo, mas o ambiente é de desintegração e caos. O filme mostra que a tecnologia não redimiu o mundo. Pelo contrário, arruinou-o. O herói se apaixona por uma máquina, semi-humana. Até o personagem principal está desorientado, é alguém iludido. As máquinas ocupam o lugar das pessoas e a cultura produzida em milênios está em ruínas. O mundo físico é caótico, mas o enredo também é.

CARACTERÍSTICAS DO PÓS-MODERNISMO QUE MAIS NOS AFETAM

    Alistemos, agora, algumas características do que é este movimento. Vejamos nelas as marcas de caráter que muitas das pessoas hoje têm como produto do movimento e como afetam o nosso testemunho de Jesus Cristo.

(1) O colapso das crenças. Seja a fé, a educação, ou a cultura, há uma descrença em tudo que se afirmou até então. Não crêem que seja verdade que o estudo melhore a vida das pessoas e o mundo. Há desinteresse pela herança passada. Tudo é visto como não funcional, como não resultável, não produtor de bons resultados. Um Ronaldinho, que mal consegue fazer uma sentença gramatical articulada, ganha muito mais que um cientista. Vale a pena estudar? Voltando à questão das crenças: não há um conjunto de valores. O que se faz é desmantelar as regras e as estruturas.

(2) A busca de novidades exóticas. Uma música espanhola ilustra isso: “Cada noite um rolo novo. Ontem o ioga, o tarô, a meditação. Hoje o álcool e a droga. Amanhã a aeróbica e a reencarnação” (Cómo decirte, como cóntarte). Normalmente as novidades são contra o estabelecido, e as drogas, muito mais. A mídia cria mitos, cria conceitos, projeta sempre o que é contra os estabelecido. Um exemplo foi a exaltação do Islã em uma novela da Globo. Os evangélicos, enquanto isso, são ridicularizados. Esta atitude surge por causa dos dois itens seguintes.

(3) A descrença nas instituições. Elas falharam em prover um mundo melhor. Os governos, a família, a escola, todos falharam. O jovem não crê na declaração romântica do educador de que está formando mente e educando para o futuro. Não vê o professor encarar a profissão como um sacerdócio, mas como um ganha-pão. Não vê a escola como um lugar agradável nem crê no seu discurso de que estudando a pessoa pode ter oportunidades. Há milhares com diploma na mão e subempregados. Também não crê nas igrejas porque os escândalos são muitos. A igreja dos anos noventas não produziu santos, mas pessoas preocupadas com dinheiro. O vulto mais importante que a igreja evangélica dos anos sessentas legou à humanidade foi o pastor batista Martin Luther King Jr, Prêmio Nobel da Paz. A igreja evangélica dos anos oitentas apresentou ao mundo o bispo anglicano Desmond Tutu, também Prêmio Nobel da Paz. A igreja evangélica dos anos noventas é mais conhecida por Edir Macedo que por qualquer outro personagem. Para o homem pós-moderno, os governos não são honestos nem a classe política é íntegra. A família, via de regra, é um inferno na sua vida doméstica. Isso se vê na legião de meninos de rua que preferem um estilo de mendicância, superior ao que têm em casa. A autoridade nunca é bem vista. É sinônimo de opressão. As pessoas querem ser livres. É o desdobramento do existencialismo, como foi mostrado num filme dos anos sessentas, Cada um vive como quer. As pessoas são senhoras de suas vidas, sem convenções, sem compromissos e sem autoridade. E as igrejas são, hoje, mais instituição do que comunhão. O aspecto institucional e mais importância à ordem e à lei do que à vida nos colocam em desvantagem. Os regulamentos e o “está errado” falam mais alto que a celebração da vida.

    Depois da “morte de Deus” para o homem se afirmar (tese central do existencialismo), temos agora a morte do homem. Cabe aqui a frase de Veith: “O modernismo tinha assumido o projeto da morte de Deus. David Levin mostra como o pós-modernismo dá o passo seguinte. Conservando a idéia de que Deus está morto, o pós-modernismo assume como projeto próprio a morte do eu”xxx .

(4) A necessidade de escandalizar. Escandalizam com a conduta, com a recusa às regras, na indumentária e no visual. A própria maneira de se vestir mostra desleixo e até falta de asseio. Gasta-se muito dinheiro para se comprar uma roupa rasgada. Vestir-se mal e como mendigo é sinal de estar na moda. O pós-moderno rejeita padrões. Costumo dizer que adolescente não se veste, apenas se cobre. É a bermuda que não se sabe se é uma calça comprida do irmão menor, porque ficou no meio da canela, ou se é uma bermuda do irmão maior porque ficou pouco acima do tornozelo. Todo mundo é igual: o boné virado para trás, um tênis encardido no pé e uma blusa de frio amarrada na cintura. Isto porque querem ser diferentes. Copiam-se uns ao outros na sua diferenciação. Um piercing dá um toque a mais. Julgam-se diferentes, mas são clones uns dos outros.

(5) Um estilo individualista, hedonista e narcisista. O pós-moderno é individualista, embora viva em “tribos”. Vive sua existência. Não tem patriotismo ou idealismo. É hedonista, vivendo em função do prazer, não necessariamente sexual, mas a busca o que é agradável. É narcisista, pois olha mais para si que para o mundo. O social e outro são irrelevantes. O que vale é o próprio indivíduo.

(6) A falta de cosmovisão. O pós-moderno não tem uma cosmovisão nem mesmo posturas coerentes. Nega a existência de Deus, mas crê em energia de um cristal. Nega a historicidade de Jesus, mas aceita duendes. Age assim porque as cosmovisões são explicações totalizantes do mundo, trazem respostas cabais e últimas. “Nenhuma certeza pode ser imposta a ninguém”, diz o pós-moderno. Recusando uma cosmovisão, uma visão integrada, as pessoas fazem uma crença tipo picadinho. Tudo está bom, tudo está certo. Ao mesmo tempo, isto não faz diferença. Cada um faz sua crença e sua religião. O padrão aferidor é a própria pessoa. Foi isto que Raul Seixas cantou: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião sobre tudo, tudo”.

(7) A perda do sentido de história. Não há uma história unificada, produto da visão cristã que impregnou o Ocidente e lhe deu direção. Há acontecimentos isolados, histórias de pessoas que se cruzam entre si, sem nexo, sem ligação. Uma visão global da vida não existe. Existe uma visão fragmentária. Pensa-se no hoje, no fato de agora. Perdeu-se a visão de um passado, um presente e um futuro integrados. O pós-moderno opta pelo efêmero, pelo modismo, pelo fragmentário, pelo descontínuo. Com isto, a vida não tem sentido histórico nem dimensão linear. É para ser vivida agora, numa dimensão pontilear.

(8) A substituição da ética pela estética. O dever cede lugar ao querer. As escolhas são privadas e não mais ligadas à sociedade. A capacidade de viver e de desfrutar o belo substituiu a responsabilidade. O negócio é experimentar sensações, cada vez mais fortes, cada vez mais dinâmicas. Nada de culpa ou de valores. Viver é fazer o que agrada. Ninguém tem nada com a vida alheia. Ninguém se prende afetivamente a alguém.

(9) A crise de pertença, ou seja, a necessidade de pertencer a alguma coisa, se tornou mais aguda, nesta situação. A maldição sobre Caim foi tirar-lhe a pertença. Seria sem raízes, geográficas ou sociais, um nômade, um errante, um peregrino, andante. O homem necessita pertencer a alguma coisa. É uma carência existencial. Precisa pertencer a uma igreja, um clube, uma associação, etc. Com a crise de pertença vieram os relacionamentos “lights”, imediatistas, sem ligações profundas, manifestadas no sexo efêmero e casual. O instinto substitui o afeto. Cada semana, uma pessoa. Pertence-se a uma “tribo”, mas se refugia no anonimato da Internet.

(10) A característica a seguir é a mais forte, em termos de nosso trabalho: a pluralidade ideológica e cultural. Nossa época é uma época de síntese. As pessoas querem ter posições, mas querem concordar com tudo. A pessoa tem uma cultura tecnológica, de informática avançada, mas crê em florais, astrologia e numerologia. Não tem convicções, mas conveniências. Seu credo é mais produto de ajustes de convivência do que de convicção pessoal. Pode-se ter grande zelo pela ecologia e desprezo pelo humano. As crenças e posturas são casuais e produto de circunstâncias. O evangelho pode ser verdade, mas é verdade para uma pessoa e não para outra. Há tantas verdades como pessoas. Cada uma tem e faz a sua.. Mas o maior problema está hoje no neopentecostalismo. Ele está minado pelo paganismo e ele invade nossas igrejas., com sua contaminação. Quero citar um pastor da Assembléia de Deus, sobre este ponto: “Na América Latina, as religiões pagãs populares vão se incorporando aos rituais pentecostais. Pede-se ao diabo para se manifestar, com o objetivo de exercer poderes exorcistas sobre ele, mapeiam-se as moradias demoníacas por causa da influência da cosmovisão pagã de que os poderes malignos tomam posse de lugares. Os objetos supersticiosos, como óleo ungido, rosas sagradas e a água do rio Jordão, passam a ter o mesmo valor no Cristianismo que na religiosidade popular pagã” xxxi.

    A linha entre paganismo e neo e baixo-pentecostalismo tem sido apagada. Este é um dos mais sérios problemas para nós. Nossos crentes assistem aos programas da Universal, onde os fundamentos do protestantismo são negados. O sacerdócio universal de cada crente, a graça por causa do amor de Deus, o fato de que Deus não se deixa subornar, são negados nas suas práticas exóticas. Ao mesmo tempo há a idéia de que uma água benzida pela oração do pastor tem fluidos mágicos. Tudo isto entra na cabeça de nosso povo. Há uma paganização do movimento evangélico hoje. A crença picadinho é muito forte nos segmentos mais baixos do movimento evangélico.

COMO PREGAR E EDUCAR UMA IGREJA NESTE CONTEXTO

    É uma situação desvantajosa para o pregador, que é, geralmente, produto de outra cultura. Muitas vezes ele mesmo vive em conflito por causa do choque cultural. Foi criado num estilo, mas já assimilou padrões de outro estilo. Como pregar numa sociedade pós-moderna?

(1) Lembrando que temos valores eternos. Há valores temporários, locais e mutáveis. Há valores inegociáveis. O pastor necessita de uma cosmovisão cristã, saber de sua fé e de seus valores e vivê-los. Muitos pastores não têm uma visão global do mundo, e, o que pior, muitos não têm sequer uma visão global de sua fé, para analisar o mundo por ela. Sua fé é atomizada, de pequenos credos, sem uma visão holística do evangelho. Isto é trágico para um pastor. Ele observa a vida cristã por um determinado dom, por uma visão de ministério, pelo modismo contemporâneo. Sem uma visão global do evangelho fica difícil analisar o mundo.

(2) Nossas igrejas não podem se fiar apenas na repressão. Devem ser calorosas, sadias e honestas. As pessoas devem ser ouvidas e levadas a sério. Devem ver seriedade no trato, rigor com respeito. O mundo continua necessitando de balizas, de norte. Busca um guia-líder confiável. O que leva jovens a se envolverem com seitas exóticas como Moon e alguns pastores que promovem a autolatria? É que esses líderes os aceitam e lhes servem de referencial. Nossas igrejas podem oferecer este ambiente ao jovem? Ela é agradável ou é um fardo? O pastor pode ser um referencial, no sentido de ser uma pessoa que sabe o quer e para onde vai? O estilo de vida do pastor é entusiasmante? Ou ele é um profissional de religião?

(3) Coerência é fundamental. A frase é de Paulo VI, mas nem por é inválida: “Os jovens de hoje não querem mestres, querem testemunhas”. Querem pessoas que creiam no que pregam. O pastor digno do nome busca ser modelo. Há pastores que não amam as pessoas, mas o seu ministério, o seu trabalho, sua filosofia ministerial e, algumas vezes, o reino de Deus. Isto não é errado, mas se não ama gente terá dificuldades em seu trabalho. Outros têm o ministério apenas como ganha-pão. Coisificam pessoas e pessoalizam idéias e conceitos. “Vem para o meio”, disse Jesus ao homem da mão mirrada. Amamos nossos templos, nossos prédios, nossas instituições. Mas e as ovelhas? São apenas um detalhe aborrecedor e irritante? Há líderes apaixonados por si e com comichão nos ouvidos e na língua, querendo ouvir novidades e espalhá-las. Mas não ligam para as pessoas. Elas apenas fazem parte do seu trabalho, do seu ministério. As pessoas sabem quando são usadas e manipuladas e sabem quando são aceitas e amadas, mesmo que discordemos delas.

(4) Precisamos amar o que fazemos. Uma das questões mais atacadas pela pós-modernidade é exatamente a hipocrisia dos líderes, com um discurso e com outra prática. Gente tem valor e lidar com elas pressupõe amá-las. Pastorear pressupõe amar o trabalho que se faz. Pode-se fazer algo mecanicamente em uma linha de montagem, sem amar as máquinas e os parafusos. Mas lidar com gente sem amá-las e sem amar o trabalhar com gente, é sinal de fracasso. O amor ao que se faz dá forças para superar as crises e capacidade para se atualizar. Pastorado é uma atividade que só pode ser feita passionalmente. Deve ser feito com coração. As marcas ficarão na vida das pessoas que entrarem em contato conosco.

(5) Precisamos dar respostas relevantes para a vida real das pessoas. Não entrarei em conteúdo teológico, mas que respostas nossas igrejas dão para a vida? Em um culto para jovens, o pregador convidado falou quase 50 minutos sobre dicotomia ou tricotomia. Segundo ele, era um assunto palpitante, com o qual ele estava “muito preocupado”. E daí? Que diferença faria para os jovens? Pregamos o que gostamos ou o que as pessoas precisam ouvir? O púlpito dá respostas sérias ou é um falatório sobre religião? Pregamos apenas assuntos ou pregamos uma pessoa, Jesus, que tem respostas para a vida das pessoas? Com que nos preocupamos? Com assuntos que nos dizem respeito ou com as necessidades dos ouvintes? De que se ocupa o púlpito? De Cristo ou de política denominacional. Para que o usamos? Para glorificar a Cristo ou para enviar recados aos outros?

(6) A fé precisa ser viva numa igreja. Ela deve expressar o caráter cristão em suas relações e seu ambiente. O pós-moderno necessita ver uma igreja batista como uma instituição séria, espiritual, coerente. Ele está cansado de dicotomia entre conduta e fé. O pós-moderno clama, no dizer de Faus, nos seguintes termos: “quem me vende um pouco de autenticidade? A espiritualidade continua fora do culto? Cantamos o corinho ”esta igreja ama você” na hora de saudar o visitante. Mas, acabado o culto, temos interesse nele? Se trouxer um problema a igreja mostrará que o ama? A fé e os relacionamentos aparecem apenas na hora do culto ou permeiam a vida das pessoas?

(7) O púlpito precisa ser cristocêntrico. Cristo precisa voltar a ser o centro e o interesse da pregação. Valorizam-se dons, exalta-se o Espírito Santo, mas a segunda pessoa da trindade tem sido esquecida na sua própria Igreja. A IURD trocou a cruz pela pomba. Outro dia, pela tevê, dizia um pastor pentecostal: “Cristo é o canal para nos trazer o Espírito Santo”. Que mudança doutrinária! E João 14 a 16, que fazer deles? E a cruz, onde colocá-la? Um púlpito bíblico, exegético, com Cristo no centro, é uma necessidade insuperável da igreja. Preparando um ano de lições de EBD para minha Igreja, sobre Teologia Sistemática, entrei numa livraria evangélica para adquirir livros sobre Cristologia. Queria alguns além dos que tenho. Não encontrei um, um sequer. Mas encontrei quarenta e dois, sim, quarenta e dois, sobre batalha espiritual, demônios, quebra de maldições. Um contraste doloroso. A Igreja é de Cristo, mas está fascinada por demônios. Cristo salva e perdoa, mas é fraco e é incapaz de livrar a pessoa do poder de demônios. Só o sacerdote baixo-pentecostal pode fazê-lo. Cristo precisa voltar a ter a primazia em nosso ensino e voltar ao primeiro lugar no púlpito.

(8) A Igreja precisa de rumo. O pós-moderno é pragmático e não idealista, pensa localmente em vez de globalmente. Isto está acontecendo com as igrejas. A igreja deixou de ser a comunhão dos santos e se pensa em mega-igreja. Um amigo meu, a quem muito respeito, foi tocado por Deus para um trabalho com bêbedos e macumbeiros. Em dois anos tinha convertidos para organizar uma igreja. Ele tem trabalho secular, não precisa de sustento pastoral e seu grupo alugou um salão onde se reunia. Como batista, procurou uma igreja para ser a organizadora de sua congregação em igreja. Não queriam dinheiro porque podiam se manter. Enviou cinco cartas a igrejas de amigos. Só obteve uma resposta: “Deus não nos deu a visão de organizar outras igrejas”. Isto aconteceu. Não criei a história. A visão é local e não global. O espírito é pragmático: vamos gastar energias em organizar uma igreja na periferia? Concentremos esforços em ter uma igreja grande no nosso bairro de classe média. Dá mais status. A visão é ser uma mega-igreja. Neste afã, doutrinas e posições históricas são sacrificadas por métodos esquisitos e anti-bíblicos, desde que dêem certo. O que vale é o pragmatismo de ajuntar gente, de ter uma “igrejona”. A igreja precisa de rumo. Ela não precisa de nova doutrina ou eclesiologia. Jesus deixou propósitos para sua Igreja.

    Basta ler Mateus 28.18-20 e Marcos 16.15. Que uma igreja deve ter rumo e delinear bem seu propósito ministerial, isto é indiscutível. Mas isto não é novo. É neo-testamentário. Não criemos novos rumos nem nos desviemos dos traçados pelo Senhor da Igreja.

À GUISA DE CONCLUSÃO - ALGUMAS QUESTÕES PARA PENSARMOS

(1) Tenho a preocupação de vanguardear, de marcar a vida das pessoas, de deixar lembranças positivas, ou vejo meu ministério apenas pelo aspecto de cumprir uma missão?

(2) Considero-me, como pastor, um produto acabado ou procuro entender meu tempo? De que forma o faço? Que evidência tenho para provar isso?

(3) Que características do pós-modernismo estou a ver em minhas ovelhas, mais comumente? E na minha conduta?

(4) Estou na pré-modernidade, com o peso da autoridade? Entrei e vivo na pós-modernidade, com o peso das evidências? Como reajo à contestação e como me situo para responder aos desafios pós-modernos?

(5) O que está no centro de minha visão pastoral?

(6) Qual a minha visão de Igreja e qual o uso do púlpito que faço?

CONCLUSÃO (DE TUDO, MESMO) - Talvez mais questões poderiam ser alistadas aqui. E talvez o trabalho tenha deixado a desejar. Foi um risco que se correu ao me escolher. Mas creio que, mostradas as linhas gerais de algumas idéias, não será difícil pensar em como trabalhar cristãmente dentro das suas características. Mas, sem resvalar para a pieguice, a frase de nosso irmão do passado, Tiago, pode nos ajudar: “Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada” (Tiago 1.5). Um pastor deve se preparar espiritualmente, diante de Deus, para cumprir sua tarefa. Que o façamos, portanto.

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i SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Cabeças Feitas – Filosofia Prática para Cristãos. 2ª ed.. Sem local: Grupo Interdisciplinar Cristão, 1998.

ii VV.AA. Introdução ao Pensamento Filosófico. S. Paulo: Edições Loyola, 1993

iii KILPATRICK, William. Educação para Uma Civilização em Mudança. 18ª ed. S. Paulo: Edições Melhoramentos, 1992

iv GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. 3ª reimpressão. S. Paulo: Cia. das Letras, 1996, p. 96.

v Idem, p. 353

vi BÚSSOLA, Carlos. “As Correntes Filosóficas Contemporâneas”, in VV.AA. Introdução ao Pensamento Filosófico, 1993, p. 37

vii GAARDER, Jostein. Vita Brevis – a Carta de Flória Amélia Para Aurélio Agostinho. S. Paulo: Cia. das Letras, 1998.

viii Idem, p. 36.

ix QUINTANILHA, Miguel Angel. Breve Dicionário Filosófico. Aparecida, SP: Edições Santuário, 1996, p. 113.

x Gaarder, op. cit., p. 347xi Sayão, op. cit., p. 57xii RUSS, Jacqueline. Dicionário de Filosofia. S. Paulo: Editora Scipione, 1994, p. 345.

xiii KROHLING, Aloísio. “O Materialismo”, in VV.AA. Introdução ao Pensamento Filosófico. p. 44xiv GAARDER, op. cit., p. 418

xv COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. 8ª ed. S. Paulo: Edições Saraiva, 1993, p. 29.

xvi Idem, p. 30xvii BOFF, Leonardo. Teologia da Libertação no Debate Atual. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 40xviii PETITFILS, Jean-Christian. Os Socialismo Utópicos. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.

xix Bússola, op. cit. p. 54

xx SNOOKER, I. A. . Doutrinação e Educação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985.

xxi KIERKEGAARD, Soren. Temor e Tremor. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 80

xxii HÉBER-SUFRIN, Pierre.. O "Zaratustra" de Nietzsche. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 1991, p. 15., xxiii

 Ib. ibidem, p. 53.

xxiv FOULQUIÉ, Paul. O Existencialismo. 3ª ed. S. Paulo/Rio de Janeiro: Difel Editora, 1975, p. 36.

xxv SANTOS, Jair. O Que é Pós-Moderno. 17ª ed. S. Paulo: Editora Brasiliense, 1997, p. 7xxvi GRENZ, Stanley. Pós-Modernismo – Um Guia Para Entender a Filosofia de Nosso Tempo. S. Paulo:

Vida Nova, 1997, p. 29.

xxvii FAUS, José Ignácio. Desafio da Pós-Modernidade. S. Paulo: Paulinas, 1995, p. 25.

xxviii GONDIM, Ricardo. Fim de Milênio: Os Perigos e Desafios da Pós-Modernidade na Igreja. S. Paulo:

Abba Press, 1996, p. 33.

xxix LYON, David. Pós-Modernidade. S. Paulo: Paulus, 1998, p. 9

xxx VEITH, Gene. Tempos Modernos – Uma Avaliação Cristã do Pensamento e da Cultura de Nossa Época. S. Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 67.

xxxi GONDIM, op. cit., p. 73

 

2. Premissas Fundamentalistas 

A Falácia das Premissas Fundamentalistas

por Blake Ostler

Blake Ostler graduou-se pela Universidade Brigham Young em 1981, recebendo um bacharelado em Filosofia, summa cum laude, e um bacharelado em Psicobiologia, magna cum laude. Ele obteve seu Júris Doctor pela Universidade de Utah, cum laude, em 1985. De 1982 a 1985 ele foi um William Leary Scholar. He ele é fluente em Italiano e Francês e proficiente em Sueco, Espanhol e Alemão, e conduz pesquisa acadêmica em Egípcio, Hebreu, Grego e Latim. Mr. Ostler publicou numerosos artigos em periódicos filosóficos profissionais incluindo o International Journal for Philosophy of Religion, Religious Studies, BYU Studies, Dialogue: A Journal of Mormon Thought . Ele é o autor da série de três volumes Exploring Mormon Thought. O primeiro volume desta série, Os Atributos de Deus, foi publicado em 2001 e o segundo volume, Os Problemas do Teísmo Cristão está para ser publicado este ano (2005).

Mr. Ostler é sócio numa firma de advocacia em Salt Lake City, a Mackey Price Thompson & Ostler. Ele já foi representante para a Cadeira de Educação de Direito (1990) e da Cadeira de Direito para Clérigos (1990) do Tribunal Estadual de Utah.

O artigo seguinte é um transcrito para a apresentação de Mr. Ostler.

Gostaria de começar minha apresentação (deve haver um resumo que foi entregue em suas mesas). Mas eu gostaria de começar um pouco fora desta linha, estava me divertindo – estava lendo esta manhã que nós temos (e Chris Buttars é um grande amigo meu), e ele estava se perguntando se deveríamos introduzir a teoria do “Designer Inteligente” nas escolas de Utah. E estava cá eu a pensar, Designer Inteligente? Chris é um Mórmon e ele provavelmente nem mesmo percebeu que o que ele estaria ensinando não é cosmologia Mórmon. Também estava lendo um outro artigo quanto a esta questão apenas outro dia à noite sobre como o Big Bang provava a história do Gênesis e cá pensei em meus botões, aparentemente os especialistas – que sabem tudo sobre o Big Bang nunca leram o Gênesis. (risadas) 

Então vou começar com, e o que vocês vêem imediatamente a minha direita, a sua esquerda, é um quadro (se vocês lerem o Velho Testamento pelo menos como eu leio), é uma figura da cosmologia; ou melhor, da visão de mundo no Velho Testamento, uma vez que cosmologia seria um exagero de nossas premissas.

Vocês já ouviram dizer que Deus criou os céus e a terra. E desta forma Ele fez, todavia os céus e a terra não é tudo o que existe. É tudo o que existe “que” foi criado, e há uma diferença.

Em Salmos 104 fala sobre Deus iniciando a Criação e a primeira coisa que ele cria é seu trono e ele o cria nas águas do palácio celestial e há já um céu de céus, se você quiser, em que ele existe e no qual ele está criando. E a razão porque tudo isto é importante é porque estarei falando sobre uma visão de mundo particular hoje.

Gostaria de especificar que esta é a maneira pela qual as escrituras bíblicas vêm sido lidas desde provavelmente o segundo século, se não ainda antes por certos filósofos judeus. Mas o que acontece e o que gostaria de enfatizar em minha apresentação hoje é que há uma razão do porquê nossos irmãos e irmãs Cristãos e Judeus olham para nós e dizem, “Rapaz, a visão de mundo que vocês têm e a maneira como vocês vêem as coisas é muito diferente da maneira como nós olhamos para isto.”

E o que gostaria de dar atenção hoje é em como funciona esta visão de mundo, em como ela se divide e por que nós a vemos tão diferente, e do porquê eu não acredito que a maneira com que eles querem que nós leiamos as escrituras não é viável – simplesmente não faz sentido; você simplesmente não consegue conciliar. E você não conseguirá por causa das principais premissas fundamentais para o início da Criação do mundo se você quer saber.

Então, quando digo a vocês que já havia um céu de céus no qual residia o trono de deus quando ele começou a criar os céus e a terra eu simplesmente iria – e já vou fazê-lo – eu gostaria de lhes ler algumas declarações:

Eu amo esta declaração, esta é de Jon Levenson1, quem é um erudito da Escola Teológica de Harvard [Divinity School]:

“Em nenhum lugar dos sete dias do esquema da criação em Gênesis 1 Deus cria as águas; elas são como que primordiais. A tradicional doutrina cristã e judia da “creatio ex nihilo” [que significa a criação a partir do nada] pode encontrar respaldo neste capítulo apenas se traduzíssemos o primeiro versículo “No início criou Deus os céus e a terra” e compreender que isto se refira a algum compreensivo ato criativo no primeiro dia. Mas essa tradução, sujeita à dúvidas desde a Idade Média, caiu em desgraça entre os eruditos, e o resto do capítulo indica que os céus foram criados no segundo dia a fim de restringir as águas celestes (vv. 9-10)”

Eis aqui onde eu queria chegar – as águas já estão lá. Deus está ajeitando as coisas e quando ele cria os céus, ele cria os céus não criando alguma coisa, mas ao separá-las. O próprio verbo base “bara”, em Hebreu, em seu mais básico significado quer dizer “cortar”, “fender”, e criar ao fender em dois.

Vamos já voltar a falar da maneira em que o mundo é fendido, porém Deus cria ao fender o que já existe aí; e quando Ele cria, ele cria uma barreira entre o oceano. Eu suspeito que isto seja porque os Hebreus quando olharam – lembrem-se de que eles não tinham telescópios nem satélites para que pudessem ser lançados do Cabo Canaveral – então quando observavam os céus eles se perguntavam, “O que é que tem lá em cima e como tudo isto foi parar lá?” E quando observavam e via aquele céu todo azul e perceberam que a água também se parecia azul eles então concluíram, “Deve haver um monte de água lá em cima!” Pelo menos é assim que eu acredito que eles chegaram a esta conclusão. 

De qualquer forma, então ele [Levenson] diz que os céus são criados no segundo dia,

“e a terra no terceiro dia (vv. 9-10). É verdade – e bastante significativo – que o Deus de Israel não tem nenhum mito de origem.”

Agora isto é muito significativo. Não há nenhuma história da origem do Deus de Israel ou dos deuses.

"Nenhum traço de uma teogonia” – teogonia é a história de como Deus veio a existir e em todas as outras sociedades do Oriente Médio, por acaso, existem teogonias. Há histórias de como surgiram os deuses, de como nasceram e de como foram criados – já isto não acontece com a religião bíblica.

“Nenhum traço de teogonia pode ser encontrado na Bíblia Hebraica. Não há uma natividade para Deus. Porém parece existir outros seres divinos em Gênesis 1, a quem Deus propõe a criação da humanidade, criando juntos macho e fêmea: “Façamos o homem segundo a nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (v.26).”

Bem, com quem Ele está falando?

“Quando foram estes outros seres divinos criados? Eles parecem também terem sido primordiais. Quer suas existências devam ser interpretadas como uma qualificação sob a maestria de Deus em Gênesis é impossível de determinar. Porque eles não se desviam de Seu propósito para criar a humanidade na imagem Dele e deles...”

Eu não vou ler tudo, mas a conclusão é – bem eu lerei esta parte:

“A partir dos relatos bíblicos da assembléia divina em sessão, parece que estes ‘filhos de Deus/deuses’ tomam um papel ativo e importante e fazem novas propostas a deus, quem não obstante retém a palavra final. Resumindo, como os outros deuses ... considerados como reais e importantes, todavia também subordinados e não muito individualizados.”

A razão com que eu decidi começar com isto, é que eu estou para começar a falar sobre uma visão de mundo muito diferente deste jeito de visualizar o mundo – esta maneira de olhar para o mundo realmente é bem diferente!

Quando falamos sobre um Deus no Cristianismo moderno nós começamos com uma premissa fundamental básica em todo o pensamento judeu-cristão-islâmico: é que há um Deus e então existe todo o resto.

Eu chamaria esta premissa de monoteísmo metafísico; e, este é exatamente o ponto fundamental de onde eles começam; e eles partem deste ponto por uma razão muito boa e esta é a premissa: Existe uma substância imaterial simples a qual é necessariamente o único exemplar da espécie “divina” e conseqüentemente única no sentido de que não há nenhum outro membro no conjunto de seres ocupados por esta substância simples; sozinha ela tem uma realidade ontologicamente necessária; (isto significa o que ele tem – Deus é o único que não pode falhar em existir) e tudo o resto que é real de alguma forma depende desta substância simples para sua realidade.

Resumindo, o significado de termo é, Deus criou e todo o resto é criado. Simples assim.

Partindo desta premissa básica, derivamos também a conclusão que existe um ser simples que não é classificado em nenhuma outra classe. Desta forma se estamos falando de Deus, Deus é o que Aristóteles chamaria de sui generis – Deus está numa classe única a si mesmo. Uso o termo “si mesmo” de propósito porque existem outros ‘eles’ acerca do mundo e Deus não pode estar em uma classe com outros ‘eles’ de tal forma que a única palavra que irá funcionar é ‘ele’.

Este ser singular é a fonte incriada de todo o resto e o universo se divide entre a dicotomia Criador-criatura com Deus de um lado da dicotomia e tudo o mais do outro.

Agora isto nos leva a conclusão, e digo isto a vocês, tomei esta descrição essencialmente de Santo Agostinho. Agostinho literalmente criou a visão Cristã do mundo como hoje a conhecemos, segundo minha percepção. Ele mais do que qualquer outro indivíduo na história do Cristianismo é responsável pela maneira em que Deus seria visto nos séculos seguintes. Ele é responsável por definir o relacionamento entre Deus e o homem e este ‘separador’ se você desejar separar o mundo ao longo destas linhas.

Está implícito, de acordo com sua visão, e na visão de quase todo teólogo medieval em descrever a simplicidade divina, e vou agora explicar em como eles chegaram a esta conclusão.

Deus precisa ser simples, substância indivisível porque se Deus fosse complexo, isto é se Ele fosse composto em qualquer sentido ele teria partes (estamos falando sobre um Deus que não tem partes nem paixões) e esta complexidade teria também de ser explicada todavia uma vez que deus é realmente aquilo que explica todas as coisas, se tivéssemos que explicar alguma coisa sobre Deus teríamos que encontrar uma explanação para aquilo que é a explanação para tudo o mais e descobriríamos que Ele não se explica a si mesmo. Então Deus deve ser simples.

Isto significa imediatamente que Deus não pode ter um corpo; que não pode existir três em Deus; Deus não pode ter duas naturezas; não há qualquer pluralidade em Deus, de nenhum tipo – Deus é simples. E não quero dizer que ele é simples no sentido de que ele não é composto por partes.

Na tradição Deus então se reduz a uma mente que é consciente de si mesmo e conhece tudo que existe para se conhecer e tem um poder eficaz em todos os lugares e que exaure muito bem qualquer coisa que nós possamos positivamente dizer.

Agora se você tem dúvida que esta foi a maneira como as coisas aconteceram, eu lhe convido a examinar qualquer teologia Cristã.

Agora eu vou falar de uma maneira de se fazer teologia e estarei sugerindo que esta maneira de fazer teologia a qual é a base de toda tradicional teologia Cristã, Judaica e islâmica é de uma maneira de discorrer sobre teologia que nenhum Santo dos Últimos Dias jamais tomaria esta abordagem. Isto também explica entretanto, por que em cada uma das principais doutrinas em que nós discordamos, eles lêem as escrituras de uma maneira e nós a lemos de outro, e por que quando eles afirmam, “Vocês têm um Deus muito diferente daquele que nós temos,” isto é o que eles estão se referindo, sobre um Deus em quem não há nenhuma pluralidade.

E quando interpretamos todas as coisas através deste não-plural, não-relacional, completamente solitário deus, isto se parece muito diferente de qualquer maneira em que nós abordamos as escrituras.

Igualmente importante – Eu sugeriria que temos uma maneira muito frutífera de abordar as escrituras, todavia esta abordagem não segue por estas veredas. Eu chamaria esta abordagem das escrituras de onto-teologia que vem da palavra grega ontos. Ontos significa ser. É uma teologia que começa a partir de diferentes tipos de seres e há apenas dois: seres incriados e seres criados.

E onto-teologia é a maneira que a teologia vem sendo tratada essencialmente nos últimos 1.600 anos no mundo Cristão-Judaico-Islâmico.

Agora isto obviamente levanta problemas com a doutrina fundamental da Trindade. Por que acontecesse assim? Bem, realmente não podem existir quaisquer distinções entre as pessoas se o monoteísmo metafísico fosse verdadeiro.

Pense sobre isto. Há apenas um ser singular – não três. Isto é porque era muito natural na história Cristã ser esta questão a primeira a ser levantada quando se discutia Cristo e quando se começou a chamar Cristo Deus. A questão era muito natural, ‘De que lado desta dicotomia ontológica ficaria Cristo?’ E esta foi a questão debatida em Nicéia, o primeiro concílio a tratar esta questão da Trindade e a questão precisamente era, ‘Seria Cristo criado ou seria ele incriado?’

Se Cristo fosse incriado, então ele deveria ser idêntico com o Pai, porque apenas uma coisa é incriada. Se ele é criado; entretanto, ele não pode ser Deus, pois Deus não é criado; e, portanto se ele fosse criado ele não é verdadeiramente Deus. Esta era a questão e como eles a responderam foi estabelecendo a definição de Trindade. Há apenas uma substância simples e esta têm três partes e essas partes são a Trindade.

Agora eu gostaria apenas de lembrá-los que quando começamos a destrinchar desta maneira, as pessoas (da Trindade) não podem realmente serem imaginadas como seres distintos. De fato, Tomás de Aquino, em minha opinião e não sei quantas pessoas mais tiveram a oportunidade (assim como eu) de dispensar um pouquinho de tempo para ler a Summa Theologica e a Summa Contra Gentiles em latim. (risadas) Posso dizer a vocês que realmente vale a pena. Tenho um enorme respeito por este homem e por sua mente pois eu acho que ele pegou a coisa certa. E acertando, eu acho que ele expôs os maiores problemas que existem na teologia Cristã.

As pessoas da Trindade foram reduzidas a meras substâncias relatas em sua percepção, ou subsistências relacionais, isto é, as pessoas não são coisas, elas não estão separadas, elas não são distintas – elas são meramente relações. E se você se perguntar, ‘Bem, acaso uma relação não requer uma coisa e outra coisa mais para que elas possam juntas estar relacionadas?’ Eu lhe diria sim, porém vamos eliminar o “uma coisa e outra coisa mais” e ver o que existe entre elas, e isso é o que Tomás de Aquino estava tentado falar – essas são as pessoas.

Uma vez que não podemos ter distinção em Deus e isso foi o porquê ele chegou àquela conclusão. Por acaso, igualmente Agostinho também se inclinou até o fim de sua vida para a mesma conclusão de que realmente não podemos ter qualquer coisa distinta.

Entretanto com isto chegamos à conclusão do modalismo. Modalismo é a visão de que em Deus há uma coisa, um ser, que se manifesta de três diferentes maneiras. Isto não significa que existam três seres, não há três pessoas da maneira que usamos a palavra pessoa. Há, antes de tudo, três diferentes maneiras de manifestação. Então, Deus manifesta-se como Pai, ele manifesta-se como Filho e ele se manifesta como o Espírito Santo, mas estes não são três, estes são apenas um; e isso creio eu é como eles diriam isto.

Mas há um óbvio problema lógico que surge quando começamos a falar desta maneira e eu o coloco aqui:

(1) Há exatamente um Deus;
(2) O Pai é Deus;
(3) O Filho é Deus;
(4) O Pai não é idêntico ao Filho.

Exponho aqui o que chamaria do problema lógico da Trindade: Quaisquer das quatro premissas que eu lhes der – ou quaisquer das três premissas implicam a negação da quarta. Então por exemplo se eu lhe disser que há apenas um Deus que é exatamente um único indivíduo divino, O Pai é deus e o Filho é Deus e tomamos isso como verdade, então chegamos à conclusão do modalismo – a qual é, concluímos que há apenas um único indivíduo divino e que o Pai é Jeová, o Filho é Jeová e que eles são idênticos um ao outro e que o Filho é apenas um outro nome para o Pai.  

Na verdade, isto acontece de ser uma heresia na história Cristã, nem mesmo nossos amigos tradicionais desejam aceitar isso. Eles reconhecem que isso não é consistente com a escritura.

Todavia, eu sugiro que ao tomar aquelas três premissas é aonde nós chegaremos, porém se por outro lado, se você tomar as três de baixo – O Pai é Deus, O Filho é Deus e o Filho não é idêntico ao Pai – então devemos negar o monoteísmo metafísico. Não há nenhuma outra maneira de fugir disto. E você pode brincar com estas quatro premissas; de fato elas são muito instrutivas. Tome quaisquer três delas e você chegará a alguma “heresia” da tradição do pensamento Cristão. Dois, três e quatro (inaudível) levam a heresia que nossos tradicionais amigos cristãos chamam de politeísmo e sobre a qual passarei agora a tratar.  

Vamos falar sobre o que é monoteísmo; pois eles (nossos críticos) insistem que Mórmons não são monoteístas e que eles sim são os verdadeiros monoteístas, em certo sentido, mesmo embora clamem também ser Trinitarianos, então alegam que não podemos ter uma verdadeira religião. Este argumento é, por acaso, consistente e constantemente feito ao longo de toda a história do pensamento anti-mórmon.

Então o que está sendo asseverado? Bem, antes de tudo gostaria de apontar que a palavra monoteísmo não aparece uma única vez em qualquer escritura – não está lá. E uma construção a que se chega a partir da leitura das escrituras.

Então o que significa o monoteísmo? Bem, monoteísmo significa que há apenas um único Deus. Todavia isto é terrivelmente ambíguo; em que sentido há apenas um único Deus se você tem um Pai que é Deus, um filho que é Deus, e um Espírito Santo que é Deus? Eu acho até que o – se argüimos com as pessoas que dizem que esses três são apenas um, simplesmente dizemos que não sabem contar muito bem. Por acaso, eu considero isto como um provável e bom argumento.

Bem, no Velho Testamento há várias formas de monoteísmo. Alguns eruditos o chamam de henoteísmo: Há muitos deuses que são independentemente adorados, mas apenas um é preeminente.

Há monolatria: Há apenas único Deus que é propriamente adorado como uma questão de dever político ou acordo contratual; mas há deuses de outras nações.

Temos também já discutido Trinitarianismo dos quais há dois tipos e ambos fingem ser monoteísticos. O primeiro é o trinitarianismo Latino, o qual já discutimos com vocês. É aquele que diz que há um ser simples que se manifesta em três relações.

Há também uma coisa que surgiu muito recentemente que – bom, recentemente… os Patriarcas gregos ensinaram isto também, e por Patriarcas gregos eu quero dizer algo começando com Orígenes por volta do ano 300 AD e indo adiante até cerca de 450-500 AD. Os Patriarca gregos ensinaram uma forma de sócio-trinitarismo. Sócio-Trinitarismo é a visão de que há uma comunidade de pessoas divinas interiores; porém distintas, as quais estão unidas em uma perichoresis. Perichoresis significa dançar em unidade. Mas eles fazem mais do que simplesmente dançarem em unidade, eles também se interpenetram; eles vivem suas vidas cada um no outro de tal maneira que o espírito de um penetra no espírito do outro e suas vidas não podem realmente ser divididas.

Eu lhes sugeriria que o sócio-trinitarismo é provavelmente muito, muito próximo do que uma considerada visão Mórmon pudesse ser. Bem, vamos falar sobre isto por um minuto.

Eu também quero sugerir que há um monoteísmo monárquico, e o que isto significa? Bem, todos vocês sabem o que é um monarca. Um monarca é um rei. E pode existir um rei e podem existir subalternos, e podemos dividir o mundo desta maneira e no final tudo o que temos é um punhado de seres humanos. Monoteísmo monárquico é a visão de que temos um Deus quem é rei ou preeminente, mas há outros deuses, chamados filhos e filhas de Deus.

Agora eu simplesmente lhes diria que, existiu alguma forma de revolução nos estudos bíblicos concernentes a visão de mundo Hebraica. Em grande parte a razão para esta revolução foi a descoberta dos textos de Ras Shamra, estes são textos Ugaríticos. Eles nos dão uma óptica dentro do antigo mundo proto-hebraico, se você a desejar. Eles nos dizem sobre um concílio nos céus supervisionado pelo deus pai El. Ele supervisiona um conselho de deuses que são chamados os filhos de deus – são chamados Elim ou Elohim. Referem-se a eles como sentados em com conselho com seu Deus altíssimo, porém eles não são de uma espécie diferente do que o Pai é, na verdade o próprio fato de que ele poderia ser visto como um Pai indicaria que há uma relação genética de algum tipo, pelo menos, esta é melhor maneira de encararmos este cenário.

Então, quando ponderamos sobre a visão de mundo hebraica, é importante ter em mente que eles tinham uma maneira muito diferente, pelo menos inicialmente, de olhar para tudo isto. Outra coisa que levou a esta revolução é, por exemplo, a descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto. A descoberta de um texto em Deuteronômio especificamente, que fala sobre Yahweh sendo colocado sobre uma nação tal como os outros filhos de Deus e eles são todos Deuses supervisores.

Agora já é de conhecimento há muito tempo de que a Bíblia Hebraica fala de vários deuses no Concílio dos Deuses.

Por acaso este é o Segundo volume, está sobre a mesa lá atrás – Mas vou citar algo que já mencionei. Esta citação é Hans-Joachin Krauss, um erudito alemão:

“Israel tomou emprestado do mundo Cananita-Sírio o bem estabelecido panteão de deuses e seres divinos que estão em volta do Deus supremo, o legislador e monarca.... Yahweh sozinho é o altíssimo Deus (Elyon) e rei.... Em Salmos 82 termos um exemplo claro da idéia de um concílio de deuses, ... “Deus se assenta na congregação divina, no meio dos deuses ele exerce seu julgamento.” O “Deus altíssimo” é o juiz. Os deuses (elohim) são seus interlocutores. Eles são testemunhas no fórum em que Yahweh legisla sozinho, e em que ele possuiu autoridade judicial. Devemos mencionar o termo “cheduth-el” (a corte celestial de Yahweh). Todos os deuses e potestades do povo estão a seu serviço.2

Esta é uma expressão segundo a qual eu a chamaria de monoteísmo monárquico. Há um Deus altíssimo todavia existem outros deuses. Eles concedem obediência a este Deus único.

Eu irei sugerir a vocês que nas escrituras Mórmons temos uma forma de monoteísmo monárquico. Isto é, há um Deus de todos os outros deuses, de acordo com D&C 121. Há um Deus que é mais inteligente do que todas as demais inteligências no Livro de Abraão. É este Deus altíssimo de quem estamos falando no concílio dos deuses, é o altíssimo em hebraico El Elyon. E o que isto significa é que, quando olhamos para as escrituras iremos ter uma visão muito diferente porque não vemos esta distinção ontológica entre deuses e Deus. Vemos ao invés disso uma relação familiar.

Agora, há um problema óbvio com o monoteísmo metafísico o qual é uma versão do problema da Trindade, porém eu o tenho aqui colocado de tal maneira a demonstrar que o problema real da Trindade é a premissa do monoteísmo metafísico.

Se há exatamente um Deus altíssimo e o Pai é idêntico ao Deus altíssimo e o Pai, Filho e Espírito são cada um igualmente e completamente divino, e o Filho não é idêntico ao Pai e nem idêntico ao Espírito, eu posso asseverar todas aquelas quatro premissas – todas elas podem ser consistentes. De fato, eu gostaria de dizer que os SUD adotam todas as quatro proposições – eu aceito todas elas.

O problema é se nós adicionarmos uma quinta proposição a este contexto. Se há qualquer ser que completamente possua a natureza divina, então este ser é necessariamente o único exemplar da espécie divina. Isto é, se o monoteísmo monárquico é verdadeiro, segue que as qualidades que queremos atribuir à Trindade, que desejamos dizer sobre os deuses no concílio dos deuses não podem ser verdadeiras. Eles não podem ser da mesma espécie – nós não podemos estar nos referindo a alguma coisa que seja ontologicamente igual em qualquer sentido, geneticamente ou de qualquer outra maneira.

Agora obviamente há um problema escriturístico, porque as escrituras muito claramente distinguem entre o Pai e o Filho. Está claro que o Pai envia o Filho; e o Filho é enviado pelo Pai, porém o Filho não envia o Pai; e o Pai não é enviado; e o Filho ora ao Pai, mas o Pai nunca ora ao Filho; e eu ainda sugeriria que nunca veríamos o Pai orando ao Pai.

Uma vez que resolveram esta questão (em Nicéia), perceberam eles que haviam criado um outro; este é o problema da Cristologia.

Se olharmos para o problema – na verdade esta questão foi exatamente a próxima questão a ser discutida no Concílio seguinte a Nicéia, a Cristologia. Nicéia tratou o problema da Trindade. De que lado Jesus está? Foi ele criado ou incriado? Uma vez solucionada essa questão eles perceberam que tinham criado outro, a saber o problema da Cristologia.

Nós definiremos assim. Se Cristo está do outro lado da linha das criaturas criadas, como poderia ele ter um dia sido humano? Isto é, o que poderemos dizer? Que era realmente Deus em um corpo humano caminhando e passeando pelos campos da Palestina? Então Calcedônia tratou desta questão – Calcedônia foi em 421 AD caso você queira se orientar em termos de história. Então, estamos agora tratando, como pode ser possível que Cristo seja tanto humano e divino ao mesmo tempo? Como pode ele ser Deus e também ter sido humano?

Agora eu deixo um argumento aqui – se agora nos aceitarmos que Deus é essencialmente incriado – e se o monoteísmo metafísico é verdadeiro – Deus é essencialmente incriado. E se humanos precisam ser essencialmente criados – e se o monoteísmo metafísico é verdadeiro – nós somos essencialmente criados. Então temos duas naturezas e elas são logicamente distintas e nunca poderemos juntá-las logicamente. Elas são contraditórias. Então dizer que este ser (Cristo) é tanto humano e divino ao mesmo tempo é simplesmente uma contradição.

Poderíamos dizer que ele é divino em um diferente nível em que ele é humano, mas então não estaríamos falando sobre o mesmo indivíduo; estaríamos falando sobre indivíduos diferentes.

Então eu pergunto – Coloquei um argumento sugerindo que se – e parti de uma premissa aqui chamada “CT” (Tradição Cristã). Esta é chamada a doutrina básica do Cristianismo, a mais básica doutrina, é possível para uma pessoa qualquer ser ao mesmo tempo completamente divina e completamente humana? Se isto não for verdade eu sugeriria que a história do Cristianismo tem estado muito, mas muito enganada sobre quem e o que era Jesus.  Veja você porque nós asseveramos que apenas – e vou sugerir que a visão Mórmon de que Cristo quando humano era algo menos do que completamente divino está faltando alguma coisa, pela simples razão de que apenas um Deus infinito poderia realizar uma Expiação Infinita. Apenas um Deus poderia expiar. E por esta razão, temos um problema muito grande se comprarmos facilmente o monoteísmo metafísico e tenho deixado o argumento sob a premissa “CT” demonstrando que a natureza humana é de forma tal que não pode possivelmente ser consistente com uma natureza divina incriada.   

Eu também deixei um argumento; pense sobre o que é ser Deus por um momento: Deus sabe todas as coisas, ele é todo-poderoso, ele está em toda parte. Bem, o que significa então dizer que esta pessoa caminhando pelas planícies da Palestina é Deus? Pois eu assumo que havia algumas coisas que Jesus não conhecia – pelo menos ele não conhecia algumas coisas que o Pai conhecia tal como quando seria o momento da sua 2ª Vinda. Eu sugeriria que ele era ainda mais limitado em conhecimento como um ser humano. Sugeriria que ele não podia realizar todas as coisas. Sugeriria que ele não era todo-poderoso.

Eu bem sei que há maneiras de ler as escrituras que sugeriram que Cristo pudesse, você sabe, realizar os milagres que realizou apesar de todas as dificuldades envolvidas porque ele era simplesmente Deus realizando qualquer coisa que Deus quisesse fazer. Porém sugeriria que se você ver Jesus desta maneira você não será capaz de conciliar logicamente sua humanidade muito bem.

Antes de tudo, ele não estaria realmente sofrendo como um ser humano, pois um dos maiores problemas do sofrimento como um humano é que não sabemos quando ele terminará e não podemos pará-lo. É desesperançoso, pois não o podemos controlar. E ele não sofreria nesta dimensão.

Além do mais, seria muito difícil para Cristo, como uma criança. Imagine descobrir que qualquer coisa que você desejasse como uma criança você poderia realizar e não importasse quão grande fosse o riacho você o transporia de um salto, você saltaria um oceano! Eu imaginaria que desde cedo em sua vida ele descobriria que havia um monte de coisas que ele poderia fazer que outros não poderiam. Mas este não é o Jesus que as escrituras mostram.(Nota do Tradutor: Os evangélicos apócrifos da infância de Jesus parecem correr nesta linha, mostra milagres fantásticos realizados pelo infante Jesus, como brincar de escorregador sobre um raio de sol, fazer passarinhos de barro para logo após dar-lhes vida, e ordenar a morte de um amiguinho com quem ficou bravo numa brincadeira para logo depois ressuscitá-lo. Tais evangelhos foram rejeitados pela própria antiga Igreja como demasiadamente fantásticos.)

Então eu proponho que temos uma espécie de problema aqui, mas o problema se faz logicamente quando asseveramos que Deus é o único ser incriado; e a razão para isto é que nós não podemos realmente compartilhar uma natureza com Cristo começando com esta premissa; então, Cristologia não é possível.

Agora quando nossos amigos de tradições Cristãs, Judaico e Islâmicas – e focaremos a partir de agora na tradição Cristã – dizem: ‘Vocês têm um Jesus diferente daquele que temos.’ Eu sempre digo, ‘O que quer dizer? Você quer dizer que você acha que eu acredito em uma pessoa diferente daquela que você acredita que viveu e caminhou sobre as planícies da Palestina?’

 ‘Oh não, eu não quis dizer isto. Eu quero dizer que as coisas que você acredita sobre Jesus não são verdadeiras e que as coisas que acredito são.’

E eu lhes digo, “Bem, tais coisas como...?”

E eles dirão, ‘Bem vocês acreditam que Jesus é distinto de seu Pai que está nos Céus.’

E eu freqüentemente respondo e digo. ‘Sim e você também! Pois você não acredita que ele seja idêntico ao Pai e você acredita que ele tem coisas sobre si que são diferentes daquelas do Pai. Então você acredita que ele é distinto do Pai e termos pelo menos dois seres diferentes.’

E eu nunca, jamais me aconteceu de alguns de meus amigos cristãos afirmarem, ‘Oh não. Não, não eu realmente acredito que eles são apenas um.’ Todos eles acreditam que eles são duas pessoas distintas.

E o próximo argumento é sempre, “Bem vocês acreditam em mais de um Deus.’

E eu diria, ‘Bem, assim como vocês! Vamos contar: Pai -- um. Filho - dois . Um, dois.'

Para o qual eles então dirão, ‘Bem, vocês acreditam que humanos podem ser Deus.’

E eu digo, ‘Da mesma forma vocês! O Filho foi humano e eu sei que para você o que significa Deus é diferente de qualquer coisa que significa humano, porém eu quero deixar claro a vocês que temos uma maneira muito diferente de ver as coisas. Apenas porque vocês têm uma premissa que se nós a examinássemos a fundo vocês mesmos não a comprariam tão facilmente. Sugiro que esta premissa última seja o monoteísmo metafísico. Essa premissa não é acurada. É contrária às escrituras e não é alguma coisa que acho que você aceitaria se você acredita na Trindade ou se vocês acreditam que Jesus foi Deus. Pois se Jesus foi Deus, então é possível para um homem ser tanto divino – completamente divino – e humano – completamente humano. Destarte vocês não podem possivelmente argumentar que eu tenha um Jesus diferente por acreditar que humanos possam ser divinos.’  

O que nos leva ao próximo problema, o problema da deificação.

Eu bem sei que todos vocês todos ouviram isto de seus amigos Cristãos, ‘Vocês acreditam que vocês podem ser um deus!’ E eu sempre direi, ‘Bem, em que sentido você quer dizer isto?’

Eu gostaria de ir com calma agora, pois acredito que nós muitas vezes assassinamos nossa própria doutrina. De fato, nós temos um talento incrível como SUD por tornar nossa própria doutrina trivial. Eu não sei de onde tiramos este talento, mas sugeriria que isto vem naturalmente. (risadas)

Gostaria de usar três analogias para exemplificar a doutrina da theosis ou a doutrina da deificação.

Se você conversar com seus amigos Cristãos e disserem, “Nós acreditamos na mesma doutrina de vocês. Vocês acreditam que nós compartilharemos todas as coisas que Deus tem, que somos seus herdeiros, que somos filhos de sua progênie e que seremos glorificados com todas as coisas que ele tem e possui e isto é chamado a doutrina da glorificação.’ Isso é o que os Protestantes pelo menos chamam isto.

E ele dirão, 'Sim, e daí?'

E eu direi, ‘Bem, vocês interpretaram mal sobre o que significa ser deificado no pensamento Mórmon.’ Agora eu vou parodiar a idéia mórmon por um instante pois acho que isto é o que eles estão pensando quando a rejeitam e ou são obrigados a rejeitá-la.

O que eles estão pensando disto é que, algum dia quando eu me tornar um Deus, eu vou tomar cerca de 40 esposas, eu vou voar para um canto do Universo que Deus ainda não trabalhou muito ainda e lá eu vou organizar um planeta. E serei sozinho, auto-suficiente como foram os santos quando eles primeiramente alcançaram à bacia das Montanhas Rochosas. Mas isto não é o que pensamos.

Eu vou usar três analogias para sugerir o que nós realmente queremos dizer. A primeira é aquela que eu posso concordar completamente com meus amigos Cristãos, inclusive é a que eles usam em suas próprias literaturas. É a analogia do ferro numa fornalha. Digamos que você tenha um pedaço de ferro e você o atire em uma fornalha. Bem o ferro tornar-se-á quente. Ora, não é da natureza do ferro ser quente, ele apenas é quente quando participa da natureza do fogo que tem realmente uma natureza de ser quente. Então tenho uma natureza distinta – um ferro – e ele tem uma propriedade do forno comunicada a ele: calor. Da mesma maneira, diriam eles que nosso Pai tem uma natureza. É uma natureza imortal e ele comunica sua vida a nós e isto é como temos uma vida imortal com nosso Pai. Desta forma Deus nos comunicou uma propriedade que apenas a divindade tem, a qual é a vida eterna.

E então isto é o que entendem eles por deificação – Deus comunica alguma coisa de sua própria natureza divina a nós; e, nesse sentido nós compartilhamos uma natureza divina. Eu sugeriria que quando falamos sobre deificação nós no mínimo queremos dizer isto.

Eu vou agora usar outra analogia, porém acredito que eles teriam de rejeitá-la. Quando falamos sobre deificação, nós freqüentemente pensamos nisto em termos de um Filho tornando-se como seu Pai. Eu tenho um neto, ele não fala muito bem. Ele não pode pensar muito claramente, ele se diverte bastante brincando a maior parte do tempo e ele não é muito parecido comigo em quase nada, todavia ele tem a capacidade de crescer em todas as coisas que seu avô hoje é, mas ninguém seria jamais capaz de imaginar que ele tem todas estas capacidades simplesmente olhando para ele. Ora, esta é uma analogia bem razoável pelo que nós entendemos por deificação, contudo ela certamente não vai longe e vou lhes explicar por quê? Bem, deificação não é simplesmente uma questão de somente esperar um pouco de tempo para crescermos em direção aquilo que nosso Pai é.

Nós simplesmente não nos tornamos Deus porque somos bons e vivemos por um período longo de tempo. Então eu gostaria de corrigir uma falsa impressão que eu acho ser bem comum.

Eu gostaria de usar uma outra analogia, é bem claro da leitura de nossas próprias escrituras e das Palestras sobre Fé (“Lectures on Faith”) que deificação somente acontece quando entramos em certo tipo de relacionamento. É um relacionamento de amor que habita em nossos corações. Isto é, é um relacionamento do mesmo tipo daquele em que o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm um com o outro; e eles nos convidam a ter este mesmo tipo de relacionamento.

João 17, onde Cristo fala a seus discípulos em se tornar um com o outro assim como o Pai e o Filho são uns com o outro, torna-se a base para a crença na deificação nas mais antigas escrituras dos Santos dos Últimos Dias e nas “Palestras sobre Fé” – eu lhes convido a ler o que elas têm a dizer sobre João 17.

Porém está muito claro que deificação não é alguma coisa que fazemos completamente sozinhos. Não é uma coisa em que simplesmente nos tornamos se vivermos suficientemente bastante. Deificação é o que acontece a nós quando entramos em uma relação de amor. É alguma coisa como uma relação intrínseca e individual e apenas alcançamos a divindade a medida que compartilhamos completamente nossas vidas uns com os outros.

Então eu gostaria de propor outra analogia. Se eu tenho um átomo de deutério ou uma forma de hidrogênio completamente distinta em si mesmo, eu tenho uma coisa única. Porém completamente isolado ele não pode se tornar naquilo que acontecerá se eu tomar um outro átomo de deutério e os fundir – se eu os aquecer, eles fundirão. Se você quer saber o que acontece, de uma olhada no que acontecesse quando uma bomba de hidrogênio explode, porque isto é o que está acontecendo. Este tipo de poder é gerado a partir da fusão. Sozinhos eles não têm este poder. Juntos há uma incrível luz e poder que são gerados e isto é o que significa ser divino de acordo com o pensamento Mórmon.

Nós somos divinos porque somos feitos com este potencial. Ora, agora vou lhe conduzir até um segredo: Todas as coisas que Joseph Smith fez durante sua vida inteira tinha como alvo nos ensinar em como atingir este tipo de relacionamento. Sião, a ordem de Sião, a ordem de Enoque que ele desenvolveu tinha como objetivo em nos ensinar como conseguir a unidade que é requerida para este tipo de vida. Estava nos ensinando em como ser uns em todas as coisas, pois Joseph Smith desejava nos ensinar em como ter o mesmo tipo de relacionamento aqui e agora que o Pai, Filho e Espírito Santo têm. Isto é porque o próprio cerne do evangelho é uma admoestação muito simples: “Amai-vos uns aos Outros” (João 15:12) e isto é porque a lei e os profetas confluem para este único mandamento.

Uma vez que tudo leva para isto, o que nosso Pai tem para nos dar, o que ele tem para nos ensinar tudo nasce a partir desta entrada em um relacionamento de amor, porém não meramente amar da maneira que apenas desejamos o bem um do outro. Eu quero o bem para todos vocês, mas eu não tenho uma camaradagem íntima e próxima com todos vocês.

Para entrar em um companheirismo íntimo e próximo requer bastante trabalho! E isto requer o tipo de confiança e intimidade. Vou sugerir que uma das razões que a relação familiar é um ponto central do evangelho é porque este é provavelmente a melhor escola do mundo para aprender estes tipos de relacionamentos e vou lhes contar sobre um paradoxo desta ordem.

No Mormonismo, viemos a terra já como filhos naturalmente gerados de uma Mãe e um Pai, já naturalmente gerados como filhos de Deus. E aqui viemos para sermos adotados como filhos de Deus. Ora eu não sei se parece estranho a vocês, porém nunca se perguntaram, ‘Por que pais naturais adotariam seus filhos?’ Pois isto é o que afirmamos está acontecendo. Vejam vocês, nós temos estes dois tipos diferentes de parentela divina; e a razão é que filhos naturalmente nascidos é um tipo de relacionamento, todavia escolher entrar em uma confraria íntima, de profundamente habitar e compartilhar de sua vida é um tipo de relacionamento muito diferente. É um relacionamento que é escolhido e eu diria que na teologia SUD o pano de fundo para quase todas as coisas chama-se escolha.

Quando imediatamente segue disto que estamos aqui para fazer escolhas e a escolha é se entraremos de volta na presença de Deus; e, entrar para este tipo de relacionamento ou caminhar para fora disto. Esta é a escolha que nos foi concedida.

De fato, eu proporia que devêssemos voltar e ler Alma 41 e 42 e aprender o que é a Expiação, porque a Expiação é quase toda sobre nos conceder esta mesma escolha para ser feita.

Então o que é isto quando falamos sobre ter uma visão diferente das coisas e eles nos dizem, ‘Nós não acreditamos na deificação do jeito que vocês acreditam’?

Eu respondo, ‘isto é parcialmente correto. Vocês não acreditam que quando você se torna deificado que você compartilhará completamente do poder e conhecimento de Deus; e que você terá tudo que Ele tem doado a você. Vocês acreditam que o único atributo que pode ser a você comunicado é o atributo da vida eterna e nós acreditamos que isto seja concedido a todos. Que todos naturalmente serão ressuscitados e viverão para sempre. É concedido a todo mundo como uma extensão absoluta da Graça. Mas chamar pessoas deuses poderia parecer estranho para nós; antes deificação significa para nós ter alguma coisa que vá além da Graça.’

Agora eu vou dividir o mundo mais uma vez se você quiser, entretanto eu gostaria antes de falar um pouco mais sobre isto. Eu vou lhe propor que no cristianismo tradicional não há nenhuma deificação possível por causa da premissa a priori do monoteísmo metafísico.

Olhe desta maneira, se Deus tem o tipo de essência que eles dizem que Ele tem, a qual é: Ele é simples e há apenas um de sua espécie, e se esta essência simples não tem partes componentes no sentido de que todos os atributos de Deus são idênticos, e se Deus está essencialmente amando – e existe este termo utilizado na teologia Ortodoxa - suas energias - - teólogos ortodoxos asseveram que nós compartilhamos as energias de Deus e ao compartilhar as energias de Deus nós somos deificados. É uma outra maneira de dizer que a vida divina entra dentro de nós e nos mantêm vivos para sempre ok? Mas acontece que esta energia é uma parte da essência de Deus e a essência de Deus acontece de ser parte do que essencialmente é para ter sido incriada. E porque somos criados, nós não podemos compartilhar deste atributo divino, tanto porque Deus não pode compartilhar de sua essência conosco. O que deus é essencialmente não pode ser compartilhado com o que os humanos são essencialmente – agora eu gostaria de dar uma paradinha.

Se isso é verdade; e, se as pessoas querem nos falar sobre essa maneira de ser divino eu gostaria de lhes lançar esta questão, ‘Como pode possivelmente você asseverar que sua religião esta baseada na mais básica asserção que há no início do Cristianismo, a de que existe uma pessoa que é tanto humana como divina? Pois você chegou a conclusão que a humanidade e a divindade não podem possivelmente estar juntas na mesma pessoa – esse é o argumento que você estava usando contra mim para sugerir que minha visão de deificação não é aceitável por você. Porém, esta é a própria essência do Cristianismo e o próprio ponto de partida de sua religião! Então você não pode possivelmente a negar.

Não podemos negar, veja você, que há uma natureza compartilhada de tal forma que o que a natureza humana é que podemos ser possivelmente divinos. Eu colocaria isto de outra maneira. [b]Pelo fato de Jesus Cristo ter sido completamente humano e completamente divino segue a lógica que se não pode ser possível para seres humanos serem divinos na natureza então isto também seria impossível para Cristo. Isto tem de ser desta forma.[/b]

E então se esse é o caso, e isto segue uma seqüência lógica, deve ser possível para a natureza humana completamente possuir a natureza divina. Não apenas é possível como também temos um exemplo real disto: Jesus Cristo quem caminhou pelos campos da Palestina 2.000 atrás.

Agora, já falamos sobre a doutrina da Trindade e porque a doutrina da Trindade está em tensão com este monoteísmo metafísico. Já falamos sobre Cristologia e porque a crença de que Jesus é tanto Deus como homem está em choque com o monoteísmo metafísico. Já falamos sobre deificação e do porquê esta doutrina esta é desacordo com o monoteísmo metafísico.

Gostaria agora de falar sobre o problema do livre arbítrio. Este também poderia ser chamado o problema da Graça; Obras e Salvação. Agora eles usualmente –“eles” significa aqui nossos críticos – dirão, ‘Vocês não acreditam na salvação da maneira correta. Vocês não são verdadeiramente Cristãos porque a salvação vem pela graça.’

E obviamente a próxima questão, pois devido a maneira que fomos treinados por Dallin Oaks seria sempre perguntar uma próxima questão, ‘O que você que dizer por salvação? Certo? Então perguntaremos:Bem, o que você entende por salvação?’

 ‘Bem, o que quero dizer é que eu não vou ser enviado ao inferno.’

Para o qual podemos alegremente concordar, ‘Você está certo. Nenhum de nós será enviado ao inferno. Vamos adiante.’ Pois não acreditamos no inferno da mesma maneira do que eles acreditam. Mas se olharmos para isto muito cuidadosamente, há alguma coisa muito profunda e importante aqui. Se somos criado ex nihilo; então, segue a conclusão de que todas as coisas sobre nós e cada instante depende de Deus. Como assim? Bem, antes de tudo, segue da noção de monoteísmo monárquico que há apenas um ser que tem existência como sua natureza – isto é Deus não pode falhar em existir – mas nós podemos e é nossa natureza de tal forma que se Deus não nos sustenta em existência a cada momento nós piscamos para fora da existência no momento seguinte.

O que segue a partir disto é que tudo o que somos a cada momento é criado diretamente por Deus. Como assim? Bem, imagine por um momento que eu cessasse de existir pelos próximos cinco minutos e apenas aparecesse de volta à existência agora que os cinco minutos se passaram! Como Deus me criou? Eu tomei uma decisão três minutos atrás, acaso ele me criou com aquela decisão já alocada ao meu ser ou ele me criou conforme eu existia cinco minutos antes quando pisquei para fora da existência? Veja você, o estado que estou agora e o estado que minha escolha está agora está totalmente dependente de Deus. Tudo sobre mim, incluindo minhas liberdades de escolhas são diretamente criadas por Deus se a criação ex nihilo é verdadeira.

Agora todo pensador, toda pessoa na história do pensamento que já ponderou sobre o que seria livre arbítrio concordará que ele não é consistente com coerção externa. Não é consistente com ser simplesmente criado como alguma coisa extrínseca ao ser. Contudo isto é o que é diretamente pronunciado pela doutrina da criação ex nihilo, portanto, se qualquer coisa é realizada no mundo ela deve ser diretamente realizada por Deus.

Ora, isto é o que os filósofos chamariam de ocasionalismo: em cada simples momento, todas as coisas que existem naquele estado, existem e são criadas diretamente por Deus. Então por exemplo se eu plantei uma árvore 20 anos atrás e agora ela cresceu e se transformou um grande carvalho, isto não aconteceu porque eu plantei a árvore, aconteceu porque Deus criou aquela árvore num grande carvalho neste momento – ele poderia tê-la criado como alguma coisa totalmente diferente ou simplesmente não a ter criado. Não há nenhum relacionamento causal entre um momento e o próximo e não temos nenhum poder ou eficácia causais.

Isto segue, por acaso, a partir da criação ex nihilo. Temos apenas um agente em todo o universo e ele é Deus. Então se há de existir salvação, há apenas um único agente que é responsável por isto, e ele é Deus.

Agora eu também diria a vocês que acredito que a leitura e interpretação de Paulo que nos é apresentada por aqueles que sugerem que Deus realiza nossa salvação essencialmente sem nós, lêem Efésios e Romanos muito diferentemente do que eu leio (mas esta é uma discussão para um outro dia).

A conclusão disto tudo é que: Vamos falar como nós vemos a vida. Ela começa com uma história; uma história de uma batalha em um mundo anterior a este. E sobre o que foi esta batalha? Vejam vocês, nós acreditamos em alguma coisa muito fundamental – tão fundamental que nós raramente asseveramos isto, mas isto realmente é o alicerce a inteira base de nossa religião: Amar é uma liberdade de escolha. Amor que é digno de seu nome precisa ser livremente escolhido e qualquer pessoa que realmente ama uma outra deixa aquela pessoa livre para escolher se quer ter um tipo de relacionamento ou não. Não pode ser forçado, não pode ser coagido, não pode ser criado.

Isto tem de ser uma escolha de todo o seu coração e sangue, doado de toda a sua alma e isto é o que Deus está procurando no pensamento Mórmon. Então existiu todo um terço de nossos irmãos e irmãs que escolheram não mover adiante, e desta maneira é como se nós disséssemos, ‘No princípio, nosso Pai Celestial veio até nós e disse, ‘Vê, eu quero compartilhar contigo de todas as coisas que eu tenho. EU gostaria que tu pudesses crescer em todas as coisas que eu sou. Porém, não posso isto fazer a menos que tu tenhas certos tipos de experiências e deixar-te-ei livre para escolher se queres ter essas experiências e escolher entrar em um relacionamento comigo, pois veja tu, tu não poderás te tornar no que Eu sou a menos que tu livremente escolhas me amar. Todavia há um risco aqui. Se eu te deixar livre quanto escolher se queres entrar neste relacionamento ou não, tu podes escolher não o querer. E se tu escolheres não ter este relacionamento comigo – isso significa trevas. Isto significa estar perdido. Isto é uma coisa muito séria. É um risco real, participarás tu deste acordo comigo?”

E de acordo com a história Mórmon um terço disse, ‘Não, eu não quero crescer mais. Eu não estou interessado num relacionamento superior com o Senhor nesta altura do campeonato e Deus os amou de tal forma que honrou suas escolhas em dizer não.

Todavia existiram outros de nós que disseram, ‘Pode apostar, vamos nessa!’ E cá estamos nós.

E o complete propósito da existência mortal agora é aprender a amar. É aprender a escolher na direção deste relacionamento porém, o resto da história é que Deus não é o único na história. Vejam vocês que o com que comecei foi a pluralidade e então o resto da história é que “Eu não sou salvo a menos que você seja. Minha exaltação depende de sua exaltação. Então quando reduzimos a esta conclusão, isto não significa coisa alguma a menos que todos vocês estejam lá comigo. Pois se um único de nós não lá estiver, todos nós seremos diminuídos pela sua ausência.

Então a família se torna a essência do que estamos analisando – e todos nós estamos nesta família.

Ora isto é o que a história Mórmon, é uma questão de escolha. Nós nunca acreditaríamos que Deus daria um jeito de sermos salvos para entrar neste relacionamento, porque ser salvo significa entrar para este relacionamento salvífico com Deus. E não acreditamos que Deus jamais forçaria esta causa, pois ele nos ama e acreditamos que é a própria essência de nossa religião que nós somos deixados livres para fazer esta escolha.  

A conclusão e onde estou indo com isto é que a premissa do monoteísmo metafísico nos leva para um mundo onde não há nenhum relacionamento verdadeiro. Onde não existem nenhum outro que realmente faz escolhas. Para um mundo e universo onde há apenas um único ser realizando todas as decisões e portanto não pode haver nenhum amor deste tipo.

Esse para nós é um mundo que nos simplesmente – pelo menos eu não está realmente interessado. E desta maneira isso é porque eu gostaria de lhes falar sobre as implicações do monoteísmo metafísico, pois acredito que isto explica porque nossos irmãos e irmãs “Cristãos-Judeus e Muçulmanos” vêem as coisas muito diferentemente, porque eles têm um ponto de partida muito diferente e conforme disse Joseph Smith em seu famoso discurso King Follet, ‘Se você não começar certo será uma questão muito difícil em continuar no caminho certo.’

Obrigado!

Questões e Respostas

Q: Por favor, comente sobre o pequeno distíco, "Como o homem hoje é, Deus um dia foi: Como Deus hoje é, o homem poderá um dia ser."3

OSTLER: Quanto tempo vocês têm? (Risadas) Deixe-me colocar desta maneira, nós acreditamos nisto literalmente – que nosso Pai certa vez experimentou a mortalidade. E por que ele faria isto? Porque acreditamos que divindade tem um potencial para crescimento em certo sentido.

Vejam vocês, nós acreditamos que existe uma maneira de ter conhecimento experimental. Todos vocês leram Alma 7 onde diz, ‘Que aprendeu a socorrer aqueles através das coisas que ele sofreu.’ Acreditamos que até mesmo um ser que conhece todas as coisas podem ainda crescer em conhecimento, em termos de conhecimento experimental. E, foi muito importante, que até mesmo o Pai tivesse em primeira mão este tipo de conhecimento experimental direto como ele tivera.

“Como Deus é hoje” eu leria Deus – não apenas no sentido de ser apenas o Pai ou o Filho – mas todos os três juntos: Como a Deidade hoje é, nós poderemos entrar nesse mesmo relacionamento divino de amor e sermos portanto deificados.

E acho que isto é provavelmente tudo o que eu gostaria de comentar até este ponto.

Q: Eu entendo que você esteja argüindo contra o absolutismo e em favor de um Deus finito. Você acha isto certo?

OSTLER: Antes de tudo eu nunca pensei em Deus como finito. Finito simplesmente tem a implicação de que Deus é limitado e não diz nada mais. Sim, eu realmente acredito que há certas limitações para Deus, porém eu não acredito que essas limitações sejam uma coisa ruim.

For Por exemplo, eu acredito que limitações em crueldade, ignorância e estupidez sejam coisas boas. De tal forma eu não acho que limitações por si só sejam más e eu realmente acredito que Deus tem certas limitações. Por exemplo, eu não acredito que Deus possa realizar um amor cruel; eu não acredito que Deus possa fazer com que pessoas que livremente escolhem o possam amá-lo simplesmente a partir do nada.

E assim se você quer dizer que um Deus que está limitado em qualquer sentido é finito eu diria, ‘Bem, tecnicamente sim este Deus é finito.’ Todavia eu também acredito que Deus é supremos – lembrem-se de que eu disse a vocês ele era El Elyon (o altíssimo). Eu acredito que Deus tem o amor, o conhecimento e o poder máximos e acredito que chamar um ser, que conhece todo pensamento que eu já tive e todos os átomos do planeta Júpiter, como limitado em conhecimento é um pouco fora de questão. Eu apenas não --  e Mórmons certamente acreditam que Deus conhece pelo menos tudo isso, então chamar Deus finito acho eu é uma má interpretação.

Q: Então você usou frases como um Deus infinito Deus providenciando uma expiação infinita.

OSTLER: É verdade, mas eu não acredito que infinito aqui tenha o mesmo significado. Expiação Infinita Segundo minha visão, e eu teria de indagar, “Em que aspecto é a Expiação de Deus infinita?”

Eu acredito que seja infinita em sua intensidade. Isto é, não há nenhum limite – se experimentarmos dor há um certo ponto em que nós simplesmente desmaiaremos – um limite misericordioso no qual cessamos de estar conscientes – entretanto, isso não é assim para Deus. E o que tomei como significado para Expiação infinita é que Ele tem capacidade infinita para incluir nossas experiências em sua totalidade, incluir sofrimento dentro de sua capacidade de sofrimento e Ele é infinito em amor. Não há nenhuma pessoa que ele possa encontrar e que Ele não amará. Fim da história. Porém eu não acredito que Ele é infinito ou finito em todos os aspectos.

E se eu acredito que finitismo é uma visão que se adequa dentro da teologia SUD? Em um aspecto sim, mas na maioria dos aspectos não e eu acho que nós diminuímos Deus se nós focalizarmos meramente na limitação e na palavra finito da maneira que a palavra “finito” está definida. Eu acho que quando assim pensamos estamos perdendo o fio da meada.

Tecnicamente sim Deus é finito, mas então todos aqueles que não são panteístas acreditam que Deus está limitado em certos aspectos, pois por panteísmo Deus é todo da realidade. No minuto em que eu diga que Deus não é o todo da realidade você tem de delimitar Deus em algum aspecto e no minuto em que faz isto, Ele não mais é logicamente infinito pois passa a estar delimitado em algum sentido.

De tal forma todos acreditam que Deus seja pessoal aqueditam que Ele seja finito em algum sentido.

Q: Por favor compare os vários aspectos da (inaudível) com a compreensão Cristã tradicional da Trindade.

OSTLER: Não tenho certeza se estou qualificado para fazer isto – tanto como eu gostaria de poder estar.

Q: A existência do livre arbítrio requer que cada um de nós possa criar causas a partir do nada?

OSTLER: Esta é uma questão filosófica muito profunda e eu responderia não, pois nós já existimos em um mundo material e dentro de um contexto e então nunca houve tal coisa como criação a partir do nada absoluto porque nunca houve um nada absoluto. Algo como um artista criando uma pintura ou uma nova criação que nunca antes existiu ao tomar e organizar os dados que estão disponíveis em alguma coisa nova. Então toda liberdade de escolha que nós fazemos está tomando de nossa experiência e desenrolando-a de certa maneira que é criativa e nova para nós e movendo-a na direção de uma escolha.

Eu explico isto de forma mais extensa em meu livro quanto ao que quero dizer com isto, porém livre arbítrio não é simplesmente realizar uma escolha a partir do nada ou escolher a partir de um vácuo – é realizar uma escolha dentro de um contexto de uma forma criativa e de uma maneira inteiramente nova.

Q: Não explica o décimo sétimo capítulo de João o fato de que todos nós somos um em propósito e não o que a Trindade tenta conceber como três em um?

OSTLER: Sim e não. Deixe-me explicar. Eu me preocupo quando os Santos dos Últimos Dias descrevem a Trindade muito freqüentemente porque nós a trivializamos. Seria a mesma coisa se – eu trivializasse minha esposa se eu fosse tentar descrevê-la de algumas maneiras e eu nunca tentaria fazer isto.

Quando falamos sobre Deus ser um, geralmente queremos dizer muito mais do que eles possuam um propósito comum. Eu já estive num time de futebol certa vez e todos nós tínhamos um propósito comum que era ganhar o jogo, mas isto não nos fazia um Deus – você está me entendendo? De fato nós estávamos bem longe disto naquele momento particular! (Risadas)

Ser divino, é estar em um relacionamento íntimo e pessoal de amor. E o que eu quero dizer por pessoal é intenso. Isto significa que nós devotamos nossas vidas em um sentido que estamos ultimamente abertos e transparentes uns aos outros tal qual esta fosse nossa força vital, todas as coisas que nós somos estão sendo convidadas pelo outro ser. Quero dizer que o que compartilhamos uns com os outros estão em comum. Significa que não existe nada sobre mim que é opaco. Significa que nós somos tão íntimos uns com os outros que nossas próprias vidas são a mesma vida.

E assim, não vamos falar de seres separados, vamos falar de seres distintos que compartilham uma unidade pessoal e eu amo o termo medieval perichoresis – esta noção de todos dançando em unidade uns com os outros com a música nos envolvendo e compartilhando – e todos nós dividimos, não um propósito comum, mas uma vida e dança comum. O tipo comum de júbilo que espontaneamente brota de seres quando estão na presença um dos outros.

Isso é como eu preferiria pensar sobre a Trindade, mas você está certo, eu não acho que isto signifique que somos um em substância e de fato eu rejeitaria a ontologia da substância de uma vez só. De fato eu propor-vos-ia que a partir de minha perspectiva o projeto inteiro da onto-teologia e uma maneira de mover-se para longe de Deus, ao invés de uma maneira de mover-se na direção de Deus.

Notes

1 Jon Levenson, Creation and the Persistence of Evil: The Jewish Drama of Divine Omnipotence (Princeton: Princeton University Press, 1988), 5.

2 Hans-Joachim Kraus, Theology of the Psalms (London: SPCK, 1986), 48.

3 Eliza R. Snow, Biography and Family Record of Lorenzo Snow [Salt Lake City: Deseret News, 1884], 46.

(...continua)

3. Newell entrevista McMurrin

Nota do Tradutor: Este artigo resolvi colocar no site por mostrar a maneira aberta como a Igreja pode tratar a diversidade de pensamento e idéias em seu meio. Apesar de considerar Sterling McMurrin como um dos três maiores filósofos mórmons, ao lado de David Paulsen e Blake T. Ostler, e apesar de concordar com muitas de suas colocações, não concordaria com McMurrin ao se colocar tão criticamente à Igreja no episódio do "September Six", e no modo tão contundente como tratou as posições e colocações de James E. Faust, Dallin Oaks e Neal A Maxwell, contudo estas são suas idéias e posições e as respeito em seu direito de externá-las.

[Este é um transcrito, adoravelmente datilografado a partir da fita por Arta Johnson de uma entrevista com Sterling McMurrin em Agosto de 1993 no Simpósio Sunstone em SLC.]


Jack: Bem-vindos a uma conversa com Sterling M. McMurrin. Eu sou Jack Newell e tenho o prazer de apresentá-lo e tomar parte nesta entrevista com ele hoje. Sterling Moss McMurrin ocupa a cadeira E.E. Erikson de história da Universidade de Utah, Emérito, onde ele também serviu como Reitor de Graduação da Faculdade de Artes e Letras, Vice-Presidente Acadêmico e Provost. Seu campo é a Filosofia da História e a História da Filosofia. Ele serviu como Comissário de Educação dos Estados Unidos sob a presidência de John F. Kennedy no começo dos anos 60 e o Professor McMurrin é o autor de muitos livros sobre filosofia da religião incluindo, The Theological Foundations of the Mormon Religion (Os Alicerces Teológicos da Religião Mórmon) o qual tem sido constantemente impresso desde 1965 e The Philosophical Foundations of Mormon Theology (Os Alicerces Filosóficos da Teologia Mórmon) desde 1959. Ambos ainda disponíveis pela editora da Universidade de Utah. Sterling tem sempre sido descrito como um adorável crítico da Igreja Mórmon, descrito como sendo qualquer coisa entre desde um herético até um eterno Mórmon, e na verdade ele é os dois.

Jack: Sterling, você tem dois admiráveis e muito influentes pares de avôs. Joseph W. McMurrin foi seu avô, no Primeiro Quórum dos Setenta junto com B.H. Roberts nos anos 30, um cavalheiro muito influente eu asseguro. Seu outro avô, Moss foi o Fundador da Companhia de Gado Deseret. Então você tem em suas veias pessoas de influência no mundo e influência no reino espiritual. Como eles influenciaram sua perspectiva de vida à medida que você crescia?

Sterling: Bem, eu acho que ambos os meus avôs tiveram uma considerável influência sobre mim. Especialmente meu avô materno, que foi o fundador chefe da Companhia de Gado Deseret. Isto porque eu passei muito tempo com ele em ranchos de gado e ovelhas até o tempo de seu falecimento quando eu era um estudante universitário. Ele era um homem de elevado senso moral em minha opinião. Meu outro avô, Joseph W. McMurrin foi uma poderosa figura, lá nos velhos tempos quando o tabernáculo costumava soar com grande oratória. A maioria das pessoas hoje não tem a mínima idéia do que acontecia naqueles velhos tempos. Lembro-me de um biógrafo de Brigham Young, por exemplo, que em sua introdução no livro sobre Brigham Young, disse que Brigham Young levantava-se no tabernáculo e "Deus abençoe" o povo por algumas coisas e "Deus os amaldiçoe” por outras. Aqueles eram bons e velhos tempos onde ir à Conferência era realmente significativo.

Jack: Você tomou um caminho bem diferente de seus avôs. Como você acabou se tornando um professor e a se interessar por assuntos teológicos?

Sterling: Você quer dizer, como eu miseravelmente falhei? Eu tinha um professor que certa vez disse... (Ele era uma grande figura no campo da filosofia da religião),... Ele disse, "Eu tenho um irmão que sempre teve a coragem de fazer coisas que eu gostaria de fazer, mas sempre tive medo. Só que ele ia em frente e as realizava. Ele acabou se tornando um homem bem sucedido no mundo dos negócios e eu me tornei um Professor de teologia e ética Cristã”. Então se você não consegue ser bem sucedido em algo mais, então vá ensinar filosofia.

Jack: Agora antes de você ensinar filosofia, você ensinou no sistema de seminário e instituto da Igreja na década de 30. O que você ensinava e como você se sentia naquele momento de sua vida?

Sterling: Bem, eu me tornei um professor do seminário em 1937 e dei aulas sobre o Antigo e Novo Testamento. Eu gostava mais do Velho Testamento do que do Novo Testamento. Para mim era de longe muito mais interessante e eu não acho que eles me deixaram dar aulas, que eu me recorde, sobre história e doutrina da Igreja, conforme eles costumavam ter naqueles dias. Mais tarde quando eu fui Diretor do Instituto na Universidade do Arizona, eu lecionei algumas classes sobre teologia mórmon e então alguns cursos sobre história da religião e história comparativa das religiões.

Jack: Você se sentia confortável em termos de ensinar a doutrina e história da Igreja naquela época?
Sterling: Oh claro, claro! Eu me sinto perfeitamente confortável hoje em ensinar doutrina da igreja. Simplesmente que eles não querem mais que eu ensine. Já fui posto para fora da classe da Escola Dominical mais vezes do que a maioria destas pessoas assistiu de aula. (Sterling parece se dirigir a sua audiência. Eles dão risada) Eu acho que a doutrina mórmon é um assunto fascinante. Eu não tenho nenhum problema em ensiná-la. Agora têm muito daquilo que eu não acredito. Mas há uma grande quantidade de coisas no Platonismo e Aristotelianismo que eu também não acredito, mas eu ganhei meu pão ensinando estas coisas (Audiência sorri.) Uma maneira de viver, você sabe.

Jack: Eu ouvi uma vez você dizer em várias ocasiões que a teologia mórmon tem mais pontos fortes do que os líderes da igreja se dão conta.

Sterling: Bem, Eu acho que isto é verdade. A fim de apreciar a verdadeira força da teologia mórmon, assim como seus pontos mais frágeis, uma pessoa precisa ter um certo nível de compreensão, assim me parece, da história da religião e teologia e conhecer bastante sobre o que está se passando no mundo nestas áreas a fim de comparar a teologia Mórmon com outras. Você mencionou um dos meus livros, The Theological Foundations of the Mormon Religion. Isso foi escrito originalmente a partir de palestras dadas na Universidade de Utah. Então a editora da Universidade quis publicá-las na forma de um livro. Um de meus colegas, Sidney Engleman, alguém sem dúvida que alguns de vocês devem ter conhecido, um não-Mórmon, um observador Mórmon altamente ativo, crítico do Mormonismo de uma maneira bem mais sofisticada, disse para mim quando ele leu o livro, "Sabe, você fez o Mormonismo parecer muito melhor do que ele realmente é”. Eu disse, "Isso é exatamente o que eu tencionava fazer. Os outros escritores podem fazê-lo parecer pior do que ele realmente é”. (audiência sorri...) Eu quero dizer isto de maneira bem séria. A teologia Mórmon tem pontos fortes que virtualmente todos, não exatamente todos, mas virtualmente todos os escritores da Igreja não parecem estar conscientes disso.

Jack: E quais seriam estes pontos fortes?

Sterling: Bem, no presente andar da carruagem há mais atenção dada a estes pontos do que havia há 30 anos quando eu fiz aquele livro. O principal ponto forte da teologia Mórmon é a oposição ao absolutismo na teologia. E até hoje a maneira geral dos aceitáveis escritores mórmons, não todos os escritores Mórmons,...(há muitos escritores mórmons geralmente aceitos nesta platéia hoje)..., Mas os escritores mórmons reconhecidos estão envolvidos com uma teologia tradicional e absoluta, e eles parecem não compreender que o que Joseph Smith fez foi romper exatamente com tudo isso. Eles estão agora ocupadamente engajados, alguns dos oficiais da Igreja que produzem livros... (Algumas vezes eu me pergunto quando é que alguns deles encontram tempo para fazer alguma coisa mais)... Eles produziram muitos destes livros. Estes livros estão engajados com um absolutismo com o que o Mormonismo havia feito um cisma. Isso é à força de Joseph Smith como um líder religioso. Se você examinar o que a história da religião tem dito, ele teve umas quantas idéias próprias e algumas delas eu acho são excelentes, nem todas elas, mas muitas delas.

Jack: Claro. Enumere alguns destes pontos forte que você vê em adição a noção de um Deus limitado.
Sterling: Bem, uma grande parte do que está relacionado a isto – é que Deus é um ser que está envolvido num processo global, ao invés de simplesmente ser uma entidade extática, que Deus é um ser temporal. É a faceta temporal da natureza de Deus o que distingue o Mormonismo. E eu acho que de certa forma a faceta materialística do Mormonismo. Eu quero dizer o materialismo da metafísica, não o da ética. Uma palavra perfeitamente boa que é arruinada por pessoas que a aplicam para indivíduos que gostam de bons e caros automóveis ou para alguma coisa semelhante a isto. Acho que devo lhe contar, se possível, de um incidente que ocorreu alguns anos atrás quando trabalhava na Universidade de Princeton. Isto foi por volta de 1953. Eu telefonei para Doug (nota do datilógrafo: infelizmente não consegui entender seu último nome), um filósofo Britânico de Princeton, um homem de grande estatura no campo da filosofia e que também ensinara em Stanford nos primeiros anos de Obert Tanner, quem alguns de vocês conhecem muito bem, e eles se tornaram grandes amigos. E no meio de nossa conversação ele me disse, “Sabe, parece-me que Obert Tanner disse que Deus tinha um corpo. Não...”, disse ele “... isto não pode ser verdade... isso não pode ser verdadeiro. Parece-me que Tanner me disse que vocês Mórmons acreditam que Deus tenha um corpo como um ser humano. Isso não pode ser verdade, certamente”.
E eu disse, “Sim, isso que Tanner lhe disse é o que os Mórmons acreditam”.E ele bateu sua mão na mesa e disse, “Maldição, é bom encontrar uma religião que faz algum sentido”.(audiência sorri) Espero que compreendam que ele não disse que pensava que isto fosse verdadeiro. Apenas de que isto fazia algum sentido. Ele não achava que isto fosse verdadeiro (era ateu). Mas esta é uma força do Mormonismo, trazer Deus para baixo do Império, longe das nuvens e tentar, de alguma maneira ou outra, fazer com que de alguma maneira Deus seja um ser vivo. Isto é um importante tópico da Bíblia, veja você, o que distinguia o Deus Bíblico das típicas entidades do mundo antigo, é que Deus é um Deus vivo. E isto é enfatizado aqui, ali e novamente ao longo de toda Bíblia. Isto; penso eu, é uma força real da teologia mórmon. O problema é que em seus esforços para salientar isto, muitos escritores Mórmons envolveram-se em muitas veredas complexas de tal forma que eles humanizam Deus como se ele fosse apenas alguém mais pelo caminho que já tivesse mais experiência do que nós, ou que conhecesse bem mais coisas do que nós conhecemos, mas antes de tudo, ele é um de nós. Bem, isto é uma forma de blasfêmia e é o que você pode encontrar em muitos livros de escritores Mórmons.

Jack: Há outros pontos fortes da teologia do Mormonismo que você poderia indicar neste momento?

Sterling: Sim. Se você considerar isto como um item teológico. A ênfase Mórmon na liberdade de escolha. Ou como os Mórmons chamam, ao utilizar uma antiga terminologia, ao que chamam os Mórmons de Livre Arbítrio. Isto é um ponto muito forte do Mormonismo. Santo Agostinho, o maior dos teólogos, negou a liberdade de escolha em alguns de seus escritos, embora em outras de suas obras o defendeu. Martinho Lutero em suas controvérsia com Erasmo, o humanista Católico, argumentou contra a liberdade de escolha. Há muitos argumentos contra a liberdade de escolha em João Calvino. Se você tomar os três mais importantes teólogos Cristãos na história da Cristandade é essa a imagem, e esse é um grande ponto em favor do Mormonismo, a sua ênfase no Livre Arbítrio. O problema é que os escritores Mórmons nunca contribuíram com qualquer coisa que fosse para a solução dos problemas que estão associados com uma crença no Livre Arbítrio (Nota: Isto foi antes dos excelentes trabalhos de David Paulsen e Blake T. Ostler, filósofos SUD que trabalharam e contribuíram muito bem sobre esta questão), e ao mesmo tempo apegando-se a um princípio de casualidade universal de que os eventos que ocorrem são definidos para assim ocorrer. Meu ponto é que se tomar uma pessoa tal qual B. H. Roberts, quem depositou muita ênfase na alegação de uma liberdade de escolha e vontade; e, é uma boa coisa que tenha isso feito. Ele não fez nenhuma contribuição, até onde eu saiba, para contornar os problemas decorrentes de uma teologia do Livre Arbítrio. Isto não é um problema simples. É uma questão muito complexa estabelecer uma doutrina e causa defendendo o Livre Arbítrio.

Jack: Vamos tomar estes dois termos que estamos usando: Teologia Mórmon. O que é teologia?

Sterling: Bem, teologia é o é feito para tentar fazer sentido a partir do que o povo acredita. Eu estou falando isso seriamente. As pessoas acreditam em certas coisas. Os antigos Cristãos acreditavam que Cristo fosse divino. E então os teólogos tinham que extrair algum tipo de sentido lógico daquilo. E o que fizeram eles, eventualmente, no 4o século vieram com o Credo de Nicéia o qual empregaram metafísica Aristoteliana para defender a causa de que Cristo é divino assim como o Pai é divino. Há um professor de filosofia da religião, eu não acho que ele seja um dos melhores, em certa ocasião eu lhe disse isso e ele não gostou muito. Ele era professor de filosofia da Divinity School da Universidade de Chicago. Henry Nelson Wyman. E Wyman no ... ele escreveu um livro intitulado (é um título excelente), A Luta da Religião com a Verdade. E isto já vem acontecendo há um bom tempo. Na primeira página do livro ele diz que o teólogo é como um cozinheiro. Ele toma todos os ingredientes e os ajunta numa fórmula teológica de forma tal que as pessoas apreciem. Está bom! Agora, diz ele, o filósofo da religião é como um nutricionista. Ele vive xeretando para ver o que o teólogo pôs no forno, quer as pessoas gostem ou não. Ora isto é só uma analogia bruta, e eu ainda a fiz mais bruta do que Wyman. Mas eu acho que é uma idéia muito boa. O termo teologia é um derivado das palavras Gregas: Theo e logos, o que simplesmente significa a palavra sobre deus, ou o estudo de deus como é algumas vezes colocado. Agora Emmanuel Kant dizia que o tema da teologia é Deus, Liberdade e Imortalidade. E isso é o que usualmente pensamos em conexão com teologia, no mínimo em Deus e na Imortalidade.
Filosofia há é uma questão diferente. É uma busca analítica na tentativa de descobrir o significado das coisas. E isto, como vocês sabem, Jack e outros, o termo filosofia em Grego significa o amor pela sabedoria.

Jack: Uma vez que teologia é a tarefa de tentar com que se faça sentido aquilo que o povo acredita, a teologia Mórmon retroage ao que Joseph ensinou?

Sterling: Sim, Sim. Eu acho que o Mormonismo comete um grande erro ao se distanciar demais da posição de Joseph Smith. Eu digo isto porque acho que Joseph Smith foi um revolucionário genuíno em matéria de religião. Ele não aceitou a religião então estabelecida e vigente. Temos Thomas Alexander da BYU, historiador brilhante, tem feito algumas coisas excelentes sobre o começo do desenvolvimento da teologia Mórmon. E ele mostrou, e acho que ele está bem muito certo, de que no começo ela não era radicalmente diferente.
Quando voltamos para a era de Kirtland, não era radicalmente diferente do que muito da teologia Cristã. Sidney Rigdon era o grande responsável por isto. Ele era um bem sucedido pastor Campbellita. Os Campbellitas eram um ramo dos batistas. Ele introduziu muito da teologia batista no Mormonismo. Fé, arrependimento e batismo. Isto vem da igreja batista em grande parte através de Sidney Rigdon, eu acho. Mas à medida que o tempo passava até a morte de Joseph Smith você tem o desenvolvimento de um tipo de teologia mais radical que emerge. Por exemplo, no sermão King Follet, o que eu acho ser um rascunho de declarações e idéias que podem ser trabalhadas de uma maneira mais refinada. Você sabe, Joseph Smith disse no discurso de King Follet, apenas alguns meses antes de morrer, que éramos co-iguais com Deus. Bem, a igreja ao invés sabiamente suavizou esta retórica. Agora lemos, co-eternos. Isto quer dizer, o ego que era incriado é co-eterno, não co-igual. Isto é provavelmente o que Joseph Smith tinha em mente.
Eu tenho um grande respeito por Joseph Smith, mas algumas de suas idéias eram extremas. Ele realmente tinha idéias extremas, acho eu, sobre casamento (risadas). Isto não fez muito bem ao Mormonismo. Não tenho certeza de que não fez, para ser franco com vocês. Se não tivesse sido pela poligamia, suspeito eu,...bem, eu poderia não estar aqui hoje. Sim, eu estaria. Sim, estaria. Eu sou ¾ poligamista, mas sempre através da primeira esposa (risadas) (Sterling dá risadas de si mesmo, vira-se para a audiência e então diz:) Mas há um monte de vocês que não estariam aqui hoje se vocês tivessem vindo somente através das primeiras esposas (mais risadas).
Mas meu ponto é que toda a questão em volta da poligamia... sei que é impossível para os historiadores dizerem o que causa o que, sempre... não obstante toda a polêmica poligamista ajudou a fazer o Mormonismo o que ele é hoje. Podemos dar graças ao Senhor que este tempo já passou, embora isto nunca irá desaparecer completamente. E há muitas pessoas neste salão que gostariam de continuar com esta prática no mundo vindouro (risadas). É difícil dizer o que exatamente a Igreja ensina sobre isto. Mas a Igreja nunca seria o que ela é hoje senão fosse pela poligamia. Nós não teríamos tido nossos grandes mártires e tudo o mais que se seguiu.
E a poligamia foi o que provavelmente levou até ao assassinato de Joseph Smith. E se eu puder arriscar uma observação histórica. E não quero ser completamente mal compreendido. Eu acho que foi de bom fortúnio para a igreja historicamente que Joseph Smith morresse quando morreu. Porque a Igreja estava começando a se desfacelar. Parecia que ela estava começando a quebrar em pedaços e alguma coisa precisava ser feita para puxar todas as coisas de volta. E Brigham Young foi aquele que ajuntou todas as coisas. Acho que Brigham Young é um grande homem notável. Não concordo com um monte de coisas que disse, mas acho que ele era um homem de grande estatura. Não acho que Joseph Smith fosse um homem de grande estatura. Acho que ele era um carismático, do tipo profético. Eu provavelmente não o colocaria junto com Brigham Young na mesma classificação de liderança.
Ele era um mau juiz sobre o caráter das pessoas. Muito ruim você sabe, já Brigham Young era um juiz dos bons. Ele sabia quando deveria tê-las a sua volta e quando deveria livrar-se delas, de maneiras mais do que uma (risadas). Mas, Joseph Smith, por exemplo, John C. Bennett, um famoso apóstata que lhe causou inúmeros problemas. Joseph C. Bennett escreveu a Joseph Smith. Ele era um charlatão da pior espécie e um aventureiro. E se eu não estou enganado quanto a isto, ele escreveu a Joseph Smith, disse-lhe que gostaria de se juntar a ele e disse, serei o seu braço direito. Joseph Smith lhe escreveu de volta e disse-lhe que não o queria e ainda disse, Deus é o meu braço direito. Isto é realmente uma demonstração de presunção. Porém mais tarde ele se associou a John C. Bennett e isto lhe trouxe uma variedade de problemas. Bem, isto é um pouco fora do tópico.

Jack: Bem, uma coisa que você mencionou sobre teologia. As duas coisas que você mencionou como forças distintivas da teologia Mórmon: a noção de um Deus limitado e a liberdade de escolha. Se você estivesse escrevendo o Theological Foundations of Religion hoje, ao invés de em 1965, você seria capaz de dizer aquelas coisas, ou nossa teologia de fato se desenvolveu para um ponto onde a ênfase no que você enxerga como os pontos fortes do Mormonismo não mais está presente?

Sterling: Posso dizer a você Jack, eu não comprometeria o que coloquei naqueles ensaios. Mas eu colocaria um prefácio que defenderia aquele ponto. Quanto a esta questão eu estou fazendo alguns ensaios sobre a filosofia do Mormonismo e no prefácio eu levantei a questão de que é muito difícil determinar o que é doutrina oficial na igreja Mórmon. Eu acho que é muito difícil. Há muito tempo quando estava aprendendo algumas coisas sobre o Mormonismo, quando James E. Talmage e B.H. Roberts e Orsen Whitney – (Aqui estão pessoas de grande força intelectual e Talmage e Roberts faleceram em 1933 como você sabe.) – Isto aconteceu quando eu era um estudante da faculdade. Naqueles tempos você poderia dizer o que a igreja Mórmon acreditava e o que ela não acreditava. Mas não era qualquer Tom, Dick ou Harry entre as autoridades gerais que estavam produzindo livros. E hoje em dia, todo mundo está produzindo livros e estas pessoas acham que, é claro, eles sabem sobre o que estão falando, e então você tem toda esta dificuldade. Quero dizer por exemplo, você tem uma imensa dificuldade ao comparar alguns escritos de Neal Maxwell com os escritos de B.H. Roberts. Há alguns anos, Daniel Rector me disse...há um pequeno grupo que desejava falar comigo. Um pequeno grupo do sacerdócio de fora da igreja. Eles não me convidaram para se encontrar com eles na Igreja. Um pequeno quórum de élderes, mas de fora da Igreja. E eles vieram. E Conversei com eles sobre algumas dessas coisas. As mesmas coisas que acabamos de mencionar. E Daniel Rector, com quem me encontrei, um jovem muito inteligente, não tão jovem agora, disse, “Sabe, você é um Talmage/Roberts/Widstoe Mórmon. A igreja não acredita mais nestas coisas. Eles não mais caminham por este tipo de teologia”. Eu pensei. O que este guri está tentando me dizer. Ele disse, “Você perdeu contato com a realidade”. Então eu comecei a dar uma passeada e tentar entrar em contato com a realidade e descobri que ele estava absolutamente certo... Ele estava absolutamente certo. Aqueles homens haviam sido esquecidos. E nós agora... não tenho lido muito sobre estas coisas ultimamente, então eu poderia ser corrigido. O que os filósofos chamam de corrigível. Não incorrigível. Minhas coisas são corrigíveis. Mas minha impressão por ora é que seria muito difícil apenas apanhar as coisas que estão sendo agora publicadas e determinar o que simplesmente é aquilo que reflete as crenças da igreja Mórmon hoje.

Jack: Por que esta mudança ocorreu?

Sterling: Bem, eu acho que ocorreu porque… bem, eu não sei porque ocorreu. Estava para dizer que isto ocorreu parcialmente porque as autoridades gerais não estão extraindo muito de pessoas como Roberts, Talmage, Widtsoe, Joseph Merril e Orson F. Whitney. Eu não quero dizer que eles não extraiam de pessoas de grande calibre. Eu tenho uma apreciação muito grande pela maioria, não todos, mas pela maioria das autoridades gerais da igreja. Eu acho que são pessoas de grande estatura e integridade. Mas aqueles para quem olhávamos, há poucos anos atrás, como líderes para a vida intelectual da igreja nos têm traído.

Jack: E como isto aconteceu?

Sterling: Eles nos traíram. Oh, eu não sei. A liderança da igreja simplesmente parece ter perdido a sintonia com a realidade. Tome por exemplo esta situação de agora na BYU (Sterling está se referindo ao episódio ERA, onde cinco intelectuais SUD foram excomungados da Igreja, dos cinco apenas Avraham Gileadi retornaria para a Igreja mais tarde). Isto é deplorável, uma situação deplorável. Eu tenho muito de simpatia pela Igreja em coisas como estas. As autoridades gerais da Igreja. Eles lá estão para preservar a fé. É difícil às vezes simplesmente dizer que tipo de fé estão eles preservando, mas esta é a função. E alguns destes professores da BYU, eventualmente, possuem mentes e idéias próprias. Alguns de nós ouvimos desta jovem mulher, Marti Bradley neste salão antes de começarmos, uma brilhante declaração em defesa da liberdade acadêmica. Eles possuem suas próprias idéias e a igreja não sabe o que fazer com eles. Simplesmente não sabe o que fazer com eles. Eu acho que é uma séria questão quanto se a Igreja deve ter uma universidade. Uma igreja que esteja comprometida em qualquer nível de controle de pensamento não deveria ter uma universidade. Simplesmente não deveria ter. E esta contenda tem já se desenrolado há muito tempo e volta à tona de tempos em tempos. Eu não sei o que deveriam fazer. Agora quando eu digo uma universidade, eu não digo que não seria sábio para a Igreja apoiar pessoas na educação. Vou contar-lhe rapidamente o que o Comissário de Educação me disse quando eu trabalhei para a igreja, Franklin L. West, alguns de vocês aqui o conhecem, Franklin West era um médico e reitor da faculdade em Logan. Ele se tornou Comissário de Educação lá nos anos 30 e permaneceu no cargo até que Wilkinson entrou em cena. E Franklin West costumava aconselhar as pessoas a fazer com que seus jovens fossem para universidades de suas escolhas e especialmente dentro de seus próprios estados. Esta era a política oficial da Igreja. Eles não eram da opinião de que eles não deveriam ir para a BYU. Bem, a igreja tem sido capaz de apoiar um interesse em religião através dos Institutos. E muito efetivamente, acho eu. E ainda assim tem estudantes que obtêm uma educação em instituições onde há uma liberdade genuína. A Universidade de Utah, em minha opinião, é no sentido intelectual, uma instituição tão livre quanto qualquer outra do mundo. E posso lhe dar evidências disto. Um estudante da BYU deveria ter as mesmas oportunidades.
Se bem que, os dirigentes da BYU, vocês sabem, e Wilkenses costumava fazer disso um grande negócio, isto é, dizer que a BYU é uma instituição mais livre do que a Universidade de Utah. Era mais livre porque na BYU eles poderiam ter cursos sobre o Mormonismo. Na Universidade de Utah nós não tínhamos uma real liberdade intelectual porque não poderíamos dar cursos sobre o Mormonismo. Bem você sabe, há várias maneiras de se argumentar sobre tudo isto. Mas é uma dissimulação que uma instituição que fala que a glória de Deus é inteligência, e que um homem é salvo não mais rápido do que adquira conhecimento e que faz do livre arbítrio e da liberdade de escolha um baluarte de fé, se comportar como algumas vezes tem se comportado. Nem sempre. Mas como está se comportando agora.

Jack: Com certeza isto não tem nada a haver com você na BYU, mas na década de 50 autoridades locais da igreja iniciaram alguns procedimentos para excomungar você. O que aconteceu? Com o que estavam eles zangados?

Sterling: Eu não tenho certeza; Eles estavam apenas bravos. Não, isto não tem nada a haver com a BYU. Eu lecionei na BYU no verão 1977. E foi uma agradável experiência. Se bem que havia dois espias, designados para minhas duas classes. Mas veja você, eu sabia disso. Então, se você sabe que há espias lá, isto torna as coisas mais divertidas. Eles eram muito inteligentes, eu dei para ambos um “A”. Eu realmente lhes dei. Bem, ambos eram brilhantes. Eles eram espertos. E eles eram bons espias. Eles finalmente confessaram perto do fim do curso. Eles assistiram as minhas duas classes, Eu ensinei duas classes. Uma sobre tipos de filosofia contemporânea e outra sobre história da filosofia da religião no ocidente, E eles eram estudantes muito bons. Eles não eram espias para a administração, devo esclarecer logo, eles eram espias para Sidney B. Sperry quem era um dos cabeças na época no departamento de religião. Ele não era o chefe do departamento de religião, mas era uma figura importante. E eles fizeram um bom trabalho. Eu me dei com todo mundo por lá. Agora me disseram que o chefe do departamento de religião foi demitido, em parte porque ele me manteve ali. Mas isto foi uma sorte para ele, pois ele saiu e ganhou um monte de dinheiro. Tornou-se tornou um homem bem de vida.

Jack: Agora vamos voltar à questão da… excomunhão.

Sterling: Oh, eu estava simplesmente querendo evitar isso. Eu ouço isto com freqüência, de que eu esteja excomungado. Isto não é nada novo. Mas isto era novo para mim lá no ano de 1954. Eu comecei a ouvir em minha ala de que eu estava sendo excomungado e outras coisas do gênero, então eu liguei para o bispo. O Bispo era um empregado nos escritórios da Igreja, não uma de suas autoridades, mas antes um leigo de alto nível e leal servidor da Igreja.

Jack: Ele estava preparado para fazê-lo assim que o visse.

Sterling: Esta era a aposta de minha vida. De qualquer forma eu liguei para ele e perguntei o que estava acontecendo. Eu estava ouvindo estes rumores. E ele me disse, estas são suas palavras exatas, de uma maneira bem formal, ele disse, “Sterling, é meu dever eclesiástico investiga-lo para determinar se você deve ser levado a um tribunal para excomunhão” Bem, eles estavam me investigando. Uma coisa bem interessante. Tive duas reuniões com ele. Antes que a primeira sessão terminasse ele me pediu se poderia lhe fornecer os nomes das pessoas que eles poderiam usar como testemunhas contra mim. Você sabe, eu não achava que aquela era a maneira pela qual as coisas deveriam supostamente acontecer. E eu disse “Olha, você é quem deve arranjar suas próprias testemunhas.“ Mas ele me disse, “Não fomos capaz de encontrar ninguém.” Esta é uma história real, e eu disse, “Olhe bem. Venho ensinando aulas na Escola Dominical, e isto e aquilo e aquilo outro e certamente você deve ser capaz de encontrar alguém.” E ele disse, “Não, não fomos capazes de encontrar ninguém.” Então eu disse, “Bem, eu lhe darei dois nomes.” Eu havia tido duas longas sessões tratando sobre minhas heresias com Joseph Fielding Smith e Harold B. Lee, juntos. Joseph Fielding Smith era o Presidente do Quórum dos Doze e Harold B. Lee era o próximo em sucessão. E conforme sabem ambos tornaram-se presidentes da Igreja. Mas isto aconteceu ainda quando David O. Mckay era o Presidente, antes de Joseph Fielding. Eu disse, “posso lhe dar dois nomes que serão excelentes testemunhas uma vez que ambos estão plenamente cientes de todas as minhas heresias. De todas elas. Bem, talvez nem todas, mas todas aquelas mais básicas.” Presidente Smith havia me dito “Sabe, irmão McMurrin, nós gostaríamos que você soubesse " (eles foram muito corteses comigo, ambos muito cavalheiros) ele disse, "...nós queremos que saiba que nesta Igreja um homem é livre para acreditar em qualquer coisa que queira acreditar desde que aceite alguns de seus fundamentos” Eu pensei, esta é uma boa declaração. Bem, disse eu, “Certo Presidente Smith, o problema é que há alguns fundamentos que eu simplesmente não acredito”.Então nós iniciamos nossa conversa a partir dali. Todavia havia dito ao Bispo, eu disse, “Presidente Joseph F. Smith e apóstolo Harold B. Lee.” Ele disse, “Você sabe que não podemos usá-los” Bem, disse eu, “Porque não podemos usá-los?" Bem, eu descobriria mais tarde o porquê eles não poderiam usar aqueles nomes, Joseph Fielding Smith foi quem houvera dado primeiramente início àquela coisa toda.
Oh, Eu gostava muito dele. Eu realmente gostava dele. A coisa de que eu mais gostava em Joseph Fielding Smith era que ele era honesto e corajoso. Ele dizia que ele achava e ele não se importava se qualquer um gostasse disso ou não. Eu o admirava por isso. (a fita é virada aqui e por vários segundos a voz de Sterling não é clara o suficiente para eu ouvir, mas fazendo o que é possível, parece que ele está dizendo) ... o comissário de educação disse-me uma vez que ... Joseph Fielding Smith … oficial do comitê da Igreja para educação e que ele liberava as verbas para o Instituto e para a BYU e todo o resto, ele me disse que Joseph Fielding mais do que qualquer outra pessoa com quem ele se relacionava estava sempre pronto para colocar dinheiro na educação.
O homem acreditava no Mormonismo. Ele realmente acreditava. Alguns daqueles não acreditavam, veja você. Mas ele realmente acreditava nisso. Ele achava que o Mormonismo sempre se sairia bem, não importasse o que acontecesse nestas instituições, o mormonismo sempre venceria. Eu o admiro grandemente.

Jack: De qualquer maneira, de volta ao bispo...
(alguma conversa fiada que eu deletarei para tornar mais breve a entrevista, todavia pode ser escutada na fita).

Sterling: Devo contar o resto disto? Bem, eu não lhe contei tudo o que aconteceu antes, Tenho que lhe contar uma outra coisa. Eu fui assistir à conferência, isto se passou um pouco antes de tudo acontecer, e Joseph Fielding era o orador na conferência de Estaca. E ele foi muito dramático. Alguns de vocês se lembram dele. Ele disse, “Há lobos entre nós, lobos entre nós. LOBOS, entre nós, eu lhes digo, lobos entre nós”. E um par de homens do meu quórum de sumo-sacerdotes foi conversar com ele após a conferência e inadvertidamente mencionaram meu nome. Eles indagaram, “É de Sterling McMurrin que você está falando.” E ele disse, “Sim, ele é o chefe da matilha sobre quem eu estava a lhes falar.”
Eu não deveria lhes dizer tudo isto. Mas ele ainda lhes disse, “Não deve ser permitido que ele participe das reuniões do sacerdócio e se ele vier, não se permitirá que ele diga qualquer coisa. Ele está para ser excomungado”. E desta maneira a fofoca chegou em minha Ala.
Eu não lhe disse, mas preciso lhe contra que eu gostava muito de Joseph Fielding Smith e após ele se tornar presidente da igreja nós tivemos algumas agradáveis conversações. No dia seguinte,... posso lhe contar mais uma?

Jack: Claro!

Sterling: Bem, no dia seguinte que ele se tornou Presidente da Igreja, Sister Jessie Evans Smith, quem muito de vocês aqui se lembram tinha uma voz muito distinta, me telefonou. Natalie respondeu ao telefone. Era cerca de 10 horas da noite. Ela reconheceu sua voz e entregou-me o telefone dizendo, “É a esposa do Presidente Smith, Jessie Evans Smith”. Ela disse, “Sterling.” Eu disse, “Sister Smith, bem como está o Presidente Smith?” “Oh ele está maravilhosamente bem, ele está uma maravilha. Agora é por isto que eu estou ligando. Joseph me disse para lhe telefonar e lhe dizer que ele não deseja que você e Natalie nos tire de sua lista.”
Ora, eu nunca ouvira aquela expressão antes, mas eu entendi o que ela queria dizer. E eu disse, “Bem Sister Smith, você pode dizer ao Presidente Smith que eu farei um acordo com ele. O quanto ele me mantiver em sua lista, eu o manterei na minha.” De qualquer forma, poderia lhe contar muito mais nessa direção mas eu não deveria tomar tanto tempo, Jack.

Jack: Mas seguindo nessa outra linha, você ainda estava com problemas com este bispo que disse que estava para começar a fazer a pressão. (Note do datilógrafo risada da audiência à medida que Jack continua pressionando Sterling para contar a história que Sterling continua tentando mudar de assunto.) O que aconteceu?

Sterling: Bem, acho que deveria lhe contar isso. Uns poucos dias mais tarde, mais ou menos uns 3 ou 4 dias, Presidente Mckay me ligou. Eu estava saindo para almoçar com um de meus colegas que era não era membro SUD. Ele me chamou no telefone e disse, “Alguém andou ligando dizendo que é David O Mckay. Eu acho que é apenas um trote.”
E eu pensei, “Isso pode não ser aquele tipo de trote.” E eu imediatamente apanhei o telefone...(Ele disse. “Eu lhe dei o seu número de telefone de casa.”) ... E quão logo estava para desligar o telefone... eu não deveria estar contando estas coisas...mas Presidente Mckay disse, “Eu gostaria de conversar com você.” E eu respondi, “Presidente Mckay, você não deveria vir até aqui para me ver. Eu vou até aí e me encontro com você.” Ele disse, “Não Senhor, estou indo até aí para lhe ver.” Bem, ele vivia na região Sul do Templo naqueles dias. Alguns de vocês se lembrarão do velho prédio da Union Pacific. Disse então ao Presidente Mckay ... Eu nem deveria ter usado este tipo de linguagem, mas eu disse, “Bem, Presidente Mckay. O que você acha de nós encontrarmos em campo neutro.” Ele achou que era uma boa idéia. Então eu lhe disse, “Bem, eu terei o encontro com você no prédio da Union Pacific. Dê-me um pouco de tempo para chegar lá antes de você.” Eu tenho a chave da Sala Aurbach, uma sala muito bonita que geralmente fica trancada. E tivemos uma longa conversa.
Presidente Mckay começou perguntando, “O que é que um homem não é...” (Sterling interrompe sua própria história para dizer a Jack), “Estas são suas palavras exatas.” “...O que é que um homem não é permitido acreditar senão será pedido para que se retire da igreja? É a teoria da evolução?” Bem, nada havia sido dito em conexão com meu caso sobre a teoria da evolução, mas ele trouxe isto à tona. (Jack murmura com uma inclinação de aprovação com a cabeça por Sterling.) Ele disse, “É a teoria da evolução? Espero que não, porque eu acredito na teoria da evolução”. Então ele entrou em dois ou três outras coisas. E disse, “É alguma coisa mais? Espero que não, porque eu acredito nisso também.”
Eu disse, “Bem, vou lhe dizer alguma coisa Presidente Mckay”. Ele estava me deixando bem confortável. Eu estava me sentindo tão culpado quanto o diabo, você sabe. E eu ainda alguns sentimentos de culpa sobre isto. Eu disse, “Presidente Mckay, acho que o que causou algum problema em minha ala. O professor estava dizendo que nós acreditávamos que os negros...” (Isto aconteceu antes da revelação do sacerdócio) “... nós acreditávamos que os negros eram amaldiçoados ao sacerdócio por causa da maldição de Caim. Isto era o porquê eles não poderiam portar o sacerdócio”. Eu imediatamente disse, eu lhes disse que não gostaria de provocar polêmica sobre a questão, mas gostaria que eles soubessem que eu não acreditava naquilo. E Presidente Mckay disse, “Bem, estou contente que você tenha dito aquilo, porque eu também não acredito nisso”. E ele disse, “Isso nunca foi uma doutrina da igreja, não é uma doutrina da Igreja e nunca vai ser uma doutrina desta igreja.” Ele disse, tudo o que temos, nós acreditamos que há um precedente escriturístico, estas são suas palavras exatas “precedente escriturístico”.
Eu sabia que ele estava se referindo ao item da Pérola de Grande Valor em que os negros não tinham o sacerdócio (Nota do tradutor: Na verdade a Pérola de Grande Valor fala que os descendentes de Cam, um dos filhos de Noé, não tinham direito ao sacerdócio. A associação dos descendentes de Cam com os negros viria das tradições judaicas e islâmicas, muito conhecidas no meio cristão antes do século XX). Então ele disse, “Isto é uma prática e é uma prática que está para ser mudada.” Ora, isto era em 1954. Disse ele, “Isso é uma prática que está para ser mudada e não é uma doutrina da Igreja”. E eu disse, “Bem, então agora Presidente Mckay, não poderia você declarar o que acaba de me dizer em uma Conferência? Ou colocar isto na primeira página do Deseret News com o cabeçalho anunciando isto, você sabe, como é de costume fazer de vez em quando com algumas declarações da Primeira Presidência?” Disse eu, “Há milhares de pessoas na Igreja que acreditam que esta é uma doutrina da igreja. Agora não poderia você fazer essa declaração numa conferência?” Ele assentou-se e com um tipo de sorriso amável que você bem conhece, e eu pensei, talvez estivesse pedindo alguma coisa um pouco que demais para que um profeta pudesse fazer. Então não disse mais nada. Então ele ficou pensativo, e disse. “Bem, tudo o posso fazer é dizer que isso não é uma doutrina da igreja, de que isso é apenas uma prática e que está para ser mudada.”
Bem, nós estávamos sentados mais perto do que você e eu estamos e ele se inclinou e me segurou pelo joelho, sabe (neste ponto Sterling moveu-se para achegar-se perto de Jack. Jack respondeu e moveu-se para perto de Sterling. Sterling toma sua própria mão e segura seu próprio joelho e endurece seus dedos e diz), eu ainda posso sentir. Ele tinha mãos muito fortes. E quanto á questão do tribunal. Ele não mencionou tribunal. Ele disse, “Eles não podem fazer isto com você. Eles não podem fazer isto com você.” E ele disse, “E disse eu, bem Presidente Mckay, você sabe mais do que eu sei sobre o que eles podem fazer.” Todavia eu disse, “Parece que é isto que eles estão para fazer.” “Bem, “ disse ele, “se eles o trouxerem para excomunhão da Igreja, eu lá estarei como a primeira testemunha a seu favor.” “Bem,” disse eu, “eu não poderia pedir por uma testemunha melhor”.
Bem, de qualquer forma, eu não sei o que aconteceu depois disso, Jack, mas nunca mais eu ouvi falar de novo sobre qualquer tribunal.
Eu gostaria, enquanto estamos aqui conversando sobre esta ocasião com Presidente Mckay. Ele foi muito gracioso e maravilhoso, mas perto do fim de nossa longa conversação ele disse, “Há mais um pequeno conselho que eu gostaria de lhe deixar. É um conselho que meu tio...” (alguém mais tarde fez-me saber que este tio era uma espécie de ovelha negra do clã Mckay). Disse ele, “Ele veio até a estação para se despedir enquanto eu saía em Missão, ele agitou minhas mãos e disse, ‘David, eu tenho apenas um pequeno conselho para você. Você deve pensar e acreditar conforme melhor lhe aprouver.” E Presidente Mckay disse, “E este é meu conselho para você.”
“Bem, você sabe,” Disse eu, “Presidente Mckay, este é um maravilhoso conselho. Não poderia dá-lo numa Conferência?” E ele fez que sorria. De qualquer forma estou lhe tirando tempo demais...

Jack: Não. Não. Sterling, você deve ter conhecido muitos presidentes da igreja ao longo de sua vida e muitos apóstolos e seu que você tem grande consideração e respeito por muitos deles. Há uns 2 ou 3 que tenho percebido de nossas conversas ao longo dos anos por quem você tem uma real afeição. Acho que David O. Mckay é um destes e acho que Joseph Fielding Smith seja um outro. Estou correto?

Sterling: Isso é verdade. Muito verdadeiro. E Presidente Kimball. Eu o considero um ser humano maravilhoso. Tenho bons sentimentos também para o Presidente Lee. Ele se desapontou comigo, para ser franco com você. Mas ele era muito cortês em todos os sentidos, sempre assim o foi até a hora de morrer. Após esta reunião que tive, houve uma terceira seção com Joseph Fielding e Harold B. Lee. E ambos foram muito corteses. Algumas pessoas podem achar que eles fossem inclinados um pouco para um lado da linha dura. Eu não fui chamado, eles apenas me pediram se eu poderia vir. Isto é diferente de ser chamado, acho eu. E na primeira reunião, eles queriam conversar comigo sobre o problema que Harold B. Lee se referia como os intelectuais da Igreja e Joseph Fielding Smith como os eruditos da Igreja.

Jack: Estes são os “tão famosos" intelectuais.

Sterling. Não! Não "os tão famosos" intelectuais. Estes eram sinceros. Estes são os reais intelectuais, como os que nós temos aqui, não "aqueles tão famosos" que temos na BYU." (pequena risada da audiência mais uma vez). Bem, de qualquer forma, eu completamente revelei desde o princípio que .... e a Segunda reunião foi completamente concentrada sobre minhas visões, Eu completamente revelei minhas heresias, as quais são tão más como qualquer um as pode ter, acho eu. E ainda, Joseph Fielding Smith, quando nos levantamos e estávamos apertando as mãos, eu estava bem emocionado por isto, pelo que senti foi sua generosidade. Primeiramente ele disse "Minha porta está aberta à você a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana, qualquer semana do ano, você pode vir e conversar comigo sobre os problemas dos eruditos da Igreja.” Essa foi sua atitude. E ele disse, “você conhece algumas coisas que nós desconhecemos e precisamos conhecer mais" Eu o admiro grandemente por isto. E quando nós nos cumprimentamos ele disse, "Apesar de todas as heresias que você acredita e nos revelou, suas descrenças, eu quero que você saiba que você tem o Espírito Santo." Quanto a Harold B. Lee ele me acompanhou até a saída. Eu achei que foi muito generoso da parte de Joseph Fielding. De fato, de longe muita generosidade.
Harold B. Lee me acompanhou até a saída e disse, você pode me desculpar por lhe dizer isto, mas isto foi o que ele disse, “Sterling você pode fazer grandes coisas para esta igreja e você pode tornar-se um homem muito perigoso para esta Igreja.” E eu disse, “Eu não quero ser um perigo para a Igreja.” E então apertamos nossas mãos e assim ficou.
Mais tarde, um grande amigo meu, George Boyd, que é um diretor de Instituto me enviou uma cópia de uma correspondência. Ele me perguntou sobre ela. Eu disse, “eu nunca ouvira falar dela,” ele disse, "Bem, todo Instituto da Igreja tem cópias dela.” Era uma correspondência entre Presidente Smith e um homem em Salt Lake. Ele havia escrito ao Presidente Smith, disse que havia sido um estudante meu e patati patatá e que ele não conseguia compreender por que eu não havia sido excomungado da Igreja. E aparentemente, quer tenha sido este próprio homem ou alguém mais do escritório do Presidente Smith, há sempre alguém que gosta de vazar coisas como essa, tirou uma cópia com uma declaração apostólica e oficial do Presidente Smith dizendo: “Eu fiz tudo que pude para excomungá-lo da Igreja, mas falhei. Você terá que levar este caso a uma esfera de poder mais elevada” (Sterling dá risada) Eu achei que aquilo foi o máximo! Eu o adoro por isso!

Jack: Agora falando destas heresias que você vem comentando em termos gerais, qual é a mais evidente? Você vê o Universo como um lugar amigável para os seres humanos?

Sterling: Não, eu não o vejo. Não. Sou de alguma maneira bem pessimista. Eu não acho que o Universo está de nosso lado. Embora eu tenha tido professores a quem muito admiro, os quais podem dispor de maravilhosos argumentos de ... vindos de várias direções para demonstrar que a humanidade está perfeitamente em casa neste universo. Além do mais, no final o universo nos vomitará e nos destruirá Nós estamos perfeitamente confortáveis, nós apenas não estaremos para sempre confortáveis. Todavia eu olho o mundo como um lugar nada amigável. Eu não vejo como qualquer pessoa pode levar em conta a enorme quantidade de sofrimento que a raça humana se submete e pensa em quaisquer outros termos do que aquele em o mundo não dá a mínima pela raça humana.

Jack: Em resumo, acaso diria você que as grandes religiões do mundo têm sido um auxílio em amenizar alguns desses ...

Sterling: (Sterling interrompe Jack) Bem, eu acho que em sua maior parte, o que religião venha a ser. Religião é uma tentativa para nos convencer, ou para nós mesmos nos convencermos de que o sofrimento e mal do mundo pode ser sublimado e que ultimamente Deus está no céu e tudo irá bem. William James, você sabe, disse. “Em tempos como este, Deus não tem nada a fazer em ficar passeando pelo céu.” E esta é a maneira como eu me sinto sobre isto. William James é o meu santo entre os filósofos. E de todos os grandes filósofos, ele é aquele que detém visões mais próximas ao Mormonismo. Ele disse, “Deus esta aqui embaixo em meio à lama e à poeira” e estas são as suas palavras exatas. Ele não está no céu, ele está aqui embaixo em meio a toda lama e poeira do universo, tentando limpá-la. Desta forma eu tenho essencialmente uma visão pessimista da condição humana. Eu não acredito nela. Oh, incidentalmente, uma das grandes forças do Mormonismo. Eu me desculpo por ter falhado em tê-la mencionado. Uma das verdadeiras forces do Mormonismo é o abandono da idéia do pecado original. Essa foi a pior idéia que já de fato entrou na mente humana. E esta é uma idéia prevalecente em todas as religiões Cristãs, ela não existe em qualquer outra religião, não existe no Judaísmo, mas no Cristianismo. E esta é uma das maiores forças do Mormonismo que se recusa a aceitar a idéia do pecado original. No pecado original, você sabe, nós pecamos porque somos pecadores. Agora no Mormonismo, você peca porque tem mais do que oito anos de idade. Você é pecaminoso porque você peca. Você não peca por ser pecaminoso. Mas a visão dominante no Cristianismo tem sido e na teologia ortodoxa ainda é, os seres humanos pecam porque eles são por natureza pecaminosos. Não necessariamente, pela natureza, mas porque são eles pecaminosos.

Jack: Você tem uma visão pessimística em relação à condição humana.

Sterling: Oh sim!

Jack: Cético sobre religiões. Mas francamente, Sterling, eu não conheço ninguém que acredite ter uma mais fundamentaI atitude Cristã em relação a outras pessoas, quem pareça desfrutar a vida mais em todos os mais elevados sentidos, que seja mais espiritual em sua essência do que você. Em que você ancora este vigor pela vida, este respeito pelos outros?

Sterling: Bem, esta é uma coisa muito graciosa de sua parte e é claramente um exagero grosseiro, é claro.

Jack: Eu tenho minhas testemunhas na audiência.

Sterling: Você tem? Bem, eu tenho minhas testemunhas também. Pessoas de todos os tipos aqui sabem quão mau eu sou. Bem, você sabe, a principal coisa que posso pensar disto é, que eu sou um Mórmon. Eu quero dizer isto muito seriamente. Veja você, uma das coisas realmente boas sobre o Mormonismo é que ele traz felicidade às pessoas. De fato, eu acho que isto seja a melhor coisa sobre o Mormonismo. Ele traz um senso de bem-estar e prazer e um desejo de se fazer coisas, e assim por diante. Eu percebo que se possa achar a mesma coisa em outras religiões. Pessoas dizem para mim, bem, porque você não deixa a igreja. Tenho pessoas dizendo isto todo o tempo. Alguns de vocês provavelmente se perguntam porque eu não deixei a Igreja. Bem, eu não vejo muita vantagem em deixar a Igreja. Eu não conheço nenhuma outra melhor igreja. Conheço igreja onde há mais liberdade de pensamento, como no caso dos Unitarianos, e eu gosto dos Unitarianos e tenho algumas ligações com o Unitarianismo. Mas eu não conheço qualquer outra igreja melhor do o Mormonismo. Não tenho nenhuma inclinação para me afastar ou para voltar às costas ao Mormonismo. Agora, ou qualquer dia desses. A igreja pode decidir me dispensar, e eu direi muito francamente e honestamente, não vejo qualquer razão para que ela não possa fazê-lo. Eu realmente não vejo. É tão simples assim. E se eu fosse chamado para ex... algumas me dizem, “O que você faria se você fosse chamado para ser excomungado?” Bem, eu posso lhe dizer uma coisa com certeza. Eu não perderia o julgamento como alguns de meus amigos fizeram, que nem se importaram em ir ao tribunal. Eu posso apostar que eu não perderia isto. Agora, eu gostaria de que houvesse uma testemunha lá, não uma testemunha a meu favor. Agora se Presidente Mckay tivesse aparecido, eu não teria objeção nenhuma a qualquer coisa que dissesse. Mas eu não gostaria de ter uma testemunha lá a meu favor, mas gostaria de ter uma testemunha, alguém mais que pudesse me dizer o que lá aconteceu. Eu gostaria de alguém para presenciar o que aconteceria. Todavia eu absolutamente não me tentaria me defender em um tribunal de excomunhão. Porque eu não tenho qualquer defesa. Eu teria de dizer, “Agora prestem atenção, vocês são aqueles que decidem o tribunal. Vocês precisam decidir se vocês querem caras como eu na igreja ou não.” E há boas razões para não terem pessoas como eu na igreja, e talvez haja boas razões, pelo tudo que sei, talvez haja boas razões para ter pessoas como eu na igreja. Quando era jovem e comecei a dar aulas de seminário na Igreja havia mais professores do seminário com mentes liberais, você sabe. E pensávamos que poderíamos fazer uma contribuição para a Igreja. E realmente o fizemos. Bem, eu dão penso mais daquele jeito. A igreja pertence aos verdadeiros fiéis que são dizimistas integrais e às autoridades gerais. Eu costumava pensar que a igreja pertencesse a todos nós. Isto era minha idéia em meus dias idealísticos de juventude, veja você. Eu não acredito mais nisso. Eu realmente não acredito mais nisso. E se eles decidirem se livrar de mim, o que eu posso dizer com ciência, incluiria muito das pessoas desta audiência, eu pensaria que eles estariam perfeitamente dentro de seus direitos.

Jack: Agora seriamente…

Sterling interrompe: Eu absolutamente não faria nenhuma defesa.

Jack: Quando o jovem Sterling idealista que você descreveu começou a abandonar aquela percepção?

Sterling: Bem, eu não tenho certeza, mas posso me lembrar de algumas coisas. Durante o 3º ano em que estava lecionando no seminário da igreja em Mountpelier, Idaho, o comissário de educação me escreveu pedindo se eu poderia um artigo sobre filosofia da religião. Ele não me disse Mormonismo. Isto seria aceitável num seminário graduado de filosofia. Então eu escrevi tal artigo e era um argumento pela concepção Mórmon de Deus em conexão com a filosofia moral. Um deus não-absolutista. E o Comissionário gostou do artigo, assim como as pessoas que trabalhavam com ele e eles o publicaram em uma revista que na época se chamava “Weekday Religious Education”, publicada pela Igreja e enviada para todos os seus professores de religião na BYU e dos seminários e institutos e assim por diante. Era uma coisa muito legal. Havia um monte de coisas muito legais no artigo. E então eles o publicaram na revista. Então um dos apóstolos levou isto até o Presidente Grant. Ora, eu tenho esta informação do Dr. West, do próprio Comissário. Presidente Grant o chamou e colocou meu artigo em frente dele e disse, “Eu entreguei este artigo para 7 advogados, 7 advogados, e cada um deles concorda que isto nada mais é do que um monte de malditas besteiras.” Esta foi sua linguagem. “Não é nada mais do que um monte de malditas besteiras.” “Agora este homem deve ser despedido e a revista vai ser descontinuada.” E bem, eles descontinuaram com a esta revista. Eu tenho um bom currículo em acabar com revistas (leve risada na audiência) Isto aconteceu lá pelo começo dos anos de 1940. Bem, eles não quiseram me despedir. Ele foram bem legais. Meus chefes, Lynn Bennion era meu chefe imediato. Eles não queriam me despedir, então eles me enviaram para o Arizona. Uma vez estava dando uma palestra para um grupo na “Lion House”, lá pelos anos 60 e Presidente Kimball --, ele não havia se tornado Presidente ainda – e havia várias autoridades gerais lá. Era um banquete. Não está claro para mim como acabei sendo convidado para ser o orador com todas aquelas autoridades gerais, mas você sabe que Presidente Kimball veio do Arizona e agora nós tínhamos um papa da Polônia. E eu disse para o Presidente Kimball, você sabe, ir ao Arizona para escolher um apóstolo era como ir à Polônia para escolher um Papa. Ele era o primeiro apóstolo dos tempos modernos que veio de fora de Utah. Presidente Benson era de Idaho, mas ele veio alguns minutos mais tarde. Presidente Kimball gostou da piada. Posso lhe contar uma boa piada do papa, agora que eu o citei? Um garoto chegou em casa com o nariz sangrando e seu pão lhe disse, “Qual foi o problema que você teve?” Bem, ele disse, “Os garotos da Amalie lá de baixo da rua me bateram.” E seu pai indagou, “Ok, e por que eles fizeram isto?” “Bem”, disse ele, “eu disse algumas coisas muito feias sobre o papa.” “Bem, com certeza você sabia que os filhos da Amalie são todos Católicos, não sabia? E ele disse, “Sim, eu sabia, mas o que eu não sabia é o maldito papa também era católico.” (calorosas risadas).
Bem para terminar minha história, eles me enviaram para o Arizona. Eu lá fiquei no seminário em Mesa. Eu tinha o trabalho da faculdade em Tempe e o seminário em Mesa. Eu já estava lá por 6 semanas e um garoto com um cara de assombro em sua face, este jovem entrou e disse, “Presidente Grant está lá fora em seu carro e ele deseja falar com você.” Eu pensei, “Meu Senhor, o Presidente da Igreja arranjou tempo para me localizar aqui no Arizona.” Então eu saí, e ele estava no carro e se desculpou por não ser capaz de sair do carro. Ele estava com problemas em suas pernas, nervo ciático ou alguma coisa parecida. Ele me perguntou se eu poderia entrar no carro para conversarmos e tivemos uma maravilhosa conversa. Eu tinha certeza de que ele havia esquecido aquilo, havia esquecido de que eu era o cara que ele havia pedido para que fosse despedido. Mas quando ele faleceu, eu estava em Tucson, quando ele faleceu eu dei a eulogia em um grande encontro de estaca que tivemos em sua memória. Eu gostei muito do Presidente Grant. Eu não o culpo por pedir para que eu fosse despedido. Eu acho que teria feito a mesma coisa. Não era o melhor artigo do mundo. De qualquer forma, eu amo a igreja, você sabe, e eles me deixaram em paz. Eu me dou muito bem e já sou famoso na igreja Há várias autoridades gerais, caso eu me encontre com elas em algum concerto ou algo parecido, elas me cumprimentarão e falarão comigo e eu sustento que qualquer autoridade geral que fale comigo em público tem realmente poderes proféticos. Eu gosto deles. Eu gosto deles. Certamente, há algumas que não falarão comigo em público.

Jack: Há um monte de comentários agora sobre ameaças da Igreja, e como você sabe, Élder Packer deu um discurso em Maio sugerindo que as principais ameaças da Igreja eram os tão-chamados intelectuais, os homossexuais e as feministas. O que você diria se você fosse elencar quais são as principais ameaças ao bem-estar da Igreja SUD num futuro próximo?

Sterling: Oh, eu pensei que você fosse me pedir para comentar sobre o discurso de Élder Packer.

Jack: Oh, eu não o restringiria de fazê-lo.

Sterling: Eu estava mesmo que esperando por esta oportunidade. Bem, eu apenas faria uma breve declaração. Eu acho que ele é um total desastre para a Igreja SUD. Agora eu acho, e quero dizer isto muito seriamente, eu acho que a principal ameaça à igreja, o que você pode chamar sua integridade moral e intelectual e assim por diante é que *este* tipo de coisa continue acontecendo e ele não gostarem disso. Ora, eu acho *que* esta é que é a principal ameaça.
Outra hora eu indaguei aquele jovem que é chefe do Sunstone, qual o nome dele? Eu lhe perguntei. “Acaso as autoridades gerais vem em qualquer desses simpósios?” Seu pai era uma autoridade geral e achava que ele viesse. Eu disse que eles deveriam aqui estar e ver o que as pessoas estão pensando, ao invés de lá se sentarem condenando as pessoas que aqui vem e dizendo aos professores da BYU para manterem distância, e assim vai. “Não”, ele disse, “eles não vem”. Mas eles têm seus espiões aqui.” E suponha que os tenha. Ora, eu não tenho objeção alguma em que tenham seus espias aqui. Eu acho que é uma boa idéia se as autoridades gerais da igreja tivessem representantes vindo a cada uma destas seções se eles ao fazer seus relatórios do evento relatassem honestamente as atitudes e idéias deste povo. Porque creio que eles estão for a de sintonia. Eles estão for a de sintonia com as pessoas. Eles vão para as estacas e alas e o povo deseja tocar as barras de suas vestes (do Inglês “garments”) ou algo parecido. Não os seus *garments*. (risada) Eu estou misturando minha linguagem bíblica com minha linguagem Mórmon. E eles são objetos de adulação e tudo o mais. Tudo bem. Não obstante veja você, eles não tem...se você tomar pessoas como Dallin Oaks e Neal Maxwell. Dallin Oaks e Neal Maxwell sabem de coisas melhores para fazer do que fazer algumas coisas que eles fizeram ao condenar pessoas na...(nota do digitados: Não pude entender a palavra) – como uma espécie de machadinha demolidora tal como Dallin o exerceu a respeito de Linda Newell e sua colega sobre o Livro de Emma Smith. Eles sabem muito mais do que isto. Quero dizer, eles vieram de universidades. E o que é isto que faz com que pessoas que têm boas idéias e ideais justos serem tomadas por aquele tipo de posição, de tal forma que são engolidas por aquelas posições autoritárias e dogmáticas que muitos deles assumem? Essa é a grande ameaça à Igreja. O próprio fato de Sunstone existir, e eu acho que é uma coisa maravilhosa – estas reuniões do Sunstone – o próprio fato de que elas existem demonstra a fraqueza na Igreja, que as pessoas não podem ir à igreja e dizer o que elas pensam. Por um longo tempo havia os tão chamados grupos de encontro de história da igreja. Eles existiam por toda a igreja porque pessoas queriam ir para algum lugar onde pudessem dizer o que eles pensavam e comunicar honestamente com outros. Eu vou lhe contar mais uma historinha.
O grupo de história da igreja quando minha e esposa e viemos para Utah para morar em 1948, fomos levados até um grupo que tinha o governador nele, e Obert Tanner, e Lynn Bennion e Lee Career e Scott Matheson, o pai do governador, o velho Scott Matheson que era o procurar federal do Distrito. Ora, nunca esquecerei no fim daquele ano, nós não nos encontramos no verão, eles estavam conversando sobre o maravilhoso ano que havíamos tido. E Scott Matheson disse, “Este foi um ano maravilhoso. Este foi o ano mais destrutivo de fé que nós já passamos.” Bem, eu não deveria estas todas estas coisas, deveria.

Jack: Nosso tempo acabou e Sterling, eu gostaria muito de lhe agradecer por esta oportunidade de conversarmos.